Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
14.6.2012
| 12h00m
Hopper tornou-se um poeta com as tintas, registrando a desolação e a vastidão dos EUA. Algumas vezes expressava esses aspectos de forma convencional, em telas com faróis em praias desertas ou com as paisagens rústicas da Nova Inglaterra; de outras vezes, Nova York era o tema, com suas paisagens urbanas eloquentes, ruas vazias, mortas ou com pessoas sem elo umas com as outras.
Reproduziu hotéis, trens, autoestradas, locais públicos ou onde o público fosse um possível visitante: restaurantes, teatros, cinemas, estações e escritórios.
Mesmo nesses quadros ele acentuava a sensação de solidão – seus teatros estão quase sempre semi vazios, poucos espectadores à espera da cortina se levantar ou com atores isolados na luz crua do palco. Hopper era um apaixonado por cinema e há uma qualidade cinematográfica em sua obra.
Com o passar dos anos, entretanto, ele começou a ter dificuldade em encontrar temas que falassem sobre o que sentia. A cidade agigantou-se, a sensação de solidão desaparece, embora ficasse sempre latente. Quando o elo entre o mundo que ele via e seu mundo interior se desfez, Hopper ficou incapaz de criar.
Em Nighthawks (acima), o que aqui chamaríamos 'os corujões', Hopper retrata um típico “diner” americano, restaurante simples e pequeno, frequentado por pessoas que trabalham à noite ou gostam de viver na madrugada.
O quadro começou a ser pintado logo após o ataque a Pearl Harbor e a sensação de solidão e vazio das ruas ainda é mais acentuada pela melancolia e tristeza difundidas por todo o país.
A rua está deserta e lá dentro os três clientes não falam uns com os outros e o atendente olha por entre os fregueses para a rua. A solidão do homem de costas é acentuada pela presença do casal desconhecido.
Olhando com atenção, vemos que o balcão é um triângulo sem saída para o atendente. É de se notar também que não se vê porta de saída para a rua, o que aumenta a sensação de confinamento e captura.
A luz fluorescente acabava de ser criada e isso talvez explique porque a luz do restaurante ilumina a escuridão da noite de um modo que parece acentuar a melancolia profunda que ali impera.
Já em Quarto de hotel em NY (acima) ele fala da solidão a dois, talvez a mais pungente forma de solidão...
Jo certa ocasião disse dele: Algumas vezes, conversar com Ed é como jogar uma pedra em um poço, só que não se ouve o baque dela lá no fundo.
Homem sempre relutante em falar de si mesmo, ou de sua arte, Hopper resumiu tudo numa frase: A resposta para todas essas perguntas está ali, na tela.
Quarto de hotel em NY, óleo sobre tela, 1932, Sheldon Memorial Art Gallery, Lincoln, Nebraska
Nighthawks, óleo sobre tela, 1942, Art Institute of Chicago
Nenhum comentário:
Postar um comentário