Depois daquela primeira viagem à Europa, Hopper ainda lá voltou em 1910. E depois disso nunca mais. Mas há inúmeros depoimentos dele comentando que se a efervescência parisiense não o afetou, a História impregnada nas ruas, monumentos e museus que visitou em algumas capitais, foram fundamentais em sua formação.
Estudara literatura francesa e russa ainda em casa dos pais, lia muito e amava o teatro. A paixão pela poesia francesa foi uma constante em sua vida. Certa tarde, ao citar Verlaine no original e descobrir que sua futura mulher completava o verso, foi por ele descrita muitas vezes como fundamental na decisão de unir sua vida à dela.
Tempos depois ele diria que ao regressar da Europa ao seu país este lhe parecera extremamente cru e tosco. “Levei anos para superar essa sensação”. Sua pintura às vezes trazia reminiscências do que ele vira no exterior.
Muitos de seus quadros parecem um diário de viagem. Soir Bleu (acervo Whitney Museum of American Art, 1914, 91.4 x182.9, foto à esquerda) recordação de uma terça-feira de Carnaval em Paris e um dos maiores quadros que pintou, foi tela que não chamou a atenção de ninguém. Foi esse fracasso, especificamente, que o fez retornar aos temas americanos aos quais sua reputação ficou indelevelmente associada.
Nas décadas de 30 e 40 a vastidão das áreas rurais americanas, as grandes expansões de terra, as estradas que pareciam infindáveis, as pequenas cidades isoladas e desoladas, foram um manancial de ideias para os grandes escritores, cineastas e pintores.
Hopper não escapou dessa atração. Viajava muito, com sua Jo, e viveu as emoções e as decepções do viajante que viaja a esmo, sem ter destino certo. Viajar por viajar, sair, buscar nova vida já que a antiga parecia morta.
O mar sempre foi importante para ele. Passou quase todos os verões de sua vida à beira mar, sobretudo no litoral do Maine. Sua personalidade se impunha aos temas: reparem na composição que faz com a estação da Guarda Costeira (foto acima), o mar tranquilo, o dia límpido, mas não obstante o ambiente sugere possibilidades de perigo e resgate do oceano.
Apesar da intimidade com o lugar, foi só depois do casamento, encorajado por Jo, que Edward começou a pintar marinhas.
Lutou muito contra o tédio, foi uma batalha constante. Essa sensação angustiante abafava sua vontade de pintar e era isso que ele queria combater. Por isso estava sempre em movimento – sua busca por inspiração era menos dolorosa em novos e diferentes ambientes. Como muito depois ele explicou a um crítico:
Para mim, a coisa mais importante é a sensação de estar indo em frente. Você percebe como são bonitas as coisas quando está viajando.
Mas ao que parece, sua angústia o acompanhava... ou essa não é uma visão do tédio?
Guarda Costeira, Maine, aquarela, guache e carvão sobre papel, 35.2 x 50.5cm, 1927- MET, NYQuarto de Hotel, óleo sobre tela, 150 x 162.5cm, 1931 - Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid
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