quarta-feira, 16 de maio de 2012

Patrulhamento de políticos: o que a imprensa pode fazer pelo leitor



Por Carlos Castilho em 11/05/2012
A  página do jornal norte-americano The Washington Post hospeda um blog que poderia servir de modelo para todos os jornalistas e outros jornais. O blog The Fact Checker (Verificador de Fatos) confere o que políticos, candidatos e governantes afirmam em público para verificar se o que dizem corresponde à realidade. Os que não passam nessa prova recebem Pinóquios, um prêmio baseado na história do boneco de madeira cujo nariz crescia sempre que era flagrado mentindo.
O blog lava a alma do leitor porque faz aquilo que todos nós gostaríamos de fazer, mas não temos tempo e nem preparo para encarar numa época em que os políticos e executivos despejam quantidades avassaladoras de dados, estatísticas e fatos para apoiar seus pontos de vista. A frequência com que esse recurso está sendo usado é tal que ficamos com a quase convicção de estão tentando nos enrolar, mas não temos como provar o que sentimos.
Os manuais de persuasão  recomendam rechear qualquer declaração pública com o maior número possível de dados e fatos, para atender à regra de que os números estariam acima de qualquer suspeita.  Esta é a lei máxima dos políticos e pode ser comprovada às vésperas de eleições, quando candidatos despejam sobre os eleitores uma quantidade enorme de cifras.
Só que os números, gráficos e fotos sem contexto podem ser usados para qualquer finalidade. Uma meia verdade é também uma meia mentira, mas os candidatos se utilizam apenas um lado desta dicotomia , usando números para tentar transmitir credibilidade ao que afirmam.  Contextualizar não é uma tarefa fácil e requer examinar com lupa o que é dito por personalidades públicas, para permitir que os leitores não sejam levados a tirar conclusões equivocadas a partir de informações tendenciosas.
O blog The Fact Checker obviamente não pode esmiuçar tudo o que os candidatos e políticos dizem à mídia. A iniciativa é tocada por dois jornalistas, Glenn Kessler e Josh Hicks, que selecionam declarações de governantes e parlamentares, tanto democratas como republicanos, e vão até os bancos de dados oficiais e arquivos da imprensa  para conferir se as cifras mencionadas são verdadeiras e se o contexto em que foram citadas corresponde à realidade. É um trabalho que consome dias para ser feito, porque qualquer falha gera  protestos de quem recebe um Pinóchio e compromete a credibilidade do patrulhamento.
A checagem de declarações e documentos públicos por jornalistas é  um processo em ascensão nos Estados Unidos, conforme revela um informe divulgado em fevereiro pela New America Foundation,atualmente presidida por Eric Schmidt,  executivo da Google.  Há pelo menos quatro outras organizações especializadas nesse tipo de patrulhamento de políticos, como as não governamentaisl  Fact Checker,  On The Issue   e  Open Secrets, bem como empresas online como a  Politifact e  RealClearPolitics.
Conferir dados, estatísticas, descrições e versões é uma função intrínseca ao jornalismo, mas ela acabou perdendo consistência na medida em que o volume de informações cresceu desproporcionalmente à força de trabalho, que as estratégias de “construção” de informações se tornaram muito mais sofisticadas (vide o marketing político), e que as empresas  passaram a impor seus interesses político-econômicos  sobre o conteúdo das notícias.
Mas se existe uma área da informação pública onde os jornalistas podem reconquistar a confiança dos leitores, esta é a da checagem dos fatos. É um caminho que ainda continua pouco explorado — principalmente no Brasil, onde raríssimos jornais optaram por seguir o exemplo pioneiro do Washington Post.  É interessante que o jornal que os americanos apelidaram de WaPo também recorre aos leitores para esmiuçar declarações de políticos, burocratas e governantes.
A prestação deste tipo de serviço ao leitor pode constituir também um novo modelo de negócios, porque fica muito mais fácil mostrar às pessoas por que pagar por serviços informativos quando elas conseguem ver claramente os benefícios que podem auferir. No caso do patrulhamento de políticos, governantes, burocratas e executivos privados, as vantagens são óbvias.

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