Luis Nassif
Vamos a alguns pontos mal explicados nessa luta para baixar os juros.
Até agora os bancos atuavam de forma cartelizada. Isto é, tinham pactos de manutenção de altos custos dos serviços e dos juros. E ninguém se preocupava em disputar a clientela em mercados já consolidados – como crédito pessoal ou cheque especial.
As disputas davam-se em torno de compras, aquisições ou entrada em novos mercados e em crédito consignado. Durante algum tempo, por exemplo, os grandes bancos comerciais disputaram a carteira de clientes de lojas de departamento. Em outros momentos, houve disputa em cima do crédito consignado. Alguns bancos comparam concorrentes menores para se posicionarem em crédito para compra de veículos e assim por diante.
Mas no ponto central – custo de tarifas e de juros – não se mexia.
Em todo processo de cartel, quando se rompe o pacto inicial há uma corrida para um novo posicionamento. Quem sai na frente conquista mais clientela, antes que os preços se estabilizem em um patamar menor.
O movimento de queda de juros, iniciada pelos bancos públicos, não significou um confronto com os bancos privados. Pelo contrário, antes do movimento houve um conjunto de reuniões do Ministro da Fazenda Guido Mantega com grandes bancos, avisando da intenção do governo.
Além disso, há um histórico de colaboração do setor bancário com sucessivos governos. Até pela sensibilidade do setor – afetado por qualquer decisão do Banco Central e da política monetária – há sempre uma tendência de acatar as providências, desde que tenham racionalidade.
A insistência dos jornais em “criar” crises faz parte de um certo vício de estilo, de transformar qualquer movimento em conflito, afim de tornar as manchetes mais atraentes.
Há tempos os grandes bancos já tinham definido estratégias, aguardando o momento em que os juros internos começassem a despencar. Em pleno tiroteio de manchetes bombásticas, mencionando supostos conflitos entre Dilma Rousseff e os bancos, em pressão e coisa e tal, o que dizia Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco: “Taxas de juros menores, num país como o Brasil, de responsabilidade fiscal, setor privado dinâmico e economia diversificada, são ingredientes para um forte ciclo de desenvolvimento econômico e social”, disse Trabuco.
O desafio maior do sistema bancário não será resistir a reduzir juros. Deixe-se esse esperneio para comentaristas econômicos ligados à Confraria da Selic.
Será, de um lado, ampliar ainda mais o mercado de crédito, incorporando novos contingentes de clientes recém-entrados no mercado de consumo.
Depois, começar a pensar em modelos de financiamento de longo prazo.
Em outros tempos, o Bradesco tornou-se o maior banco privado nacional atuando em regiões pioneiras, apoiando novos setores que surgiam. O Unibanco, por sua vez, teve atuação expressiva em aberturas de capital de grandes grupos. O Mercantil de São Paulo virou uma potência com a inovação da letra de câmbio. O Itaú, com sua metodologia de absorção de outros bancos.
Depois, houve o acomodamento geral, sem desafios. Agora, o novo cenário econômico induzirá a uma nova rodada de renovação da das práticas bancárias.
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