quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para Delfim, a ideia de BC independente já acabou


\"Política econômica tem de ser de uma integração entre a monetária, a fiscal e a cambial\"




16 de maio de 2012 | 3h 07
    DANIELA AMORIM/RIO, RICARDO LEOPOLDO/SÃO PAULO - O Estado de S.Paulo
A nova realidade econômica impõe um diálogo maior entre o Banco Central e o governo, não apenas no Brasil mas também no resto do mundo.
Como resultado, a independência total do Banco Central já não existe mais, defendeu Antonio Delfim Netto, ex-ministro e professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP. Em entrevista à Agência Estado, ele também considerou inócua a polêmica em torno do câmbio flutuante.
"Não existe câmbio flutuante em lugar nenhum do mundo. Só um idiota pode dizer que existe câmbio flutuante", disparou. Sem reservas, usou o mesmo estilo direto para desqualificar a discussão atual sobre a independência do Banco Central. "A política econômica tem de ser de uma integração entre a política monetária, a fiscal e a cambial. Essa ideia de que o BC é independente já acabou. É coisa ridícula, de pessoas que provavelmente desde a crise de 2008 não leram um artigo sobre a tragédia do Fed."
A independência do BC vem sendo questionada após sucessivos cortes na taxa básica de juros, alguns acima da expectativa do mercado. Na visão de alguns economistas há um movimento casado com a meta do governo da presidente Dilma Rousseff de redução dos juros. Dilma teria a intenção de transformar a cruzada contra os juros em uma marca de sua gestão. Os bancos oficiais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, são os instrumentos para forçar a queda dos juros nas instituições financeiras privadas.
Incompreensão. Segundo Delfim, é preciso esquecer a discussão sobre a perda de independência do BC e considera saudável uma interlocução entre a autoridade monetária e a presidente Dilma, e também com o Ministério da Fazenda. "Há uma enorme incompreensão sobre as relações do governo com o Banco Central. O BC hoje é tão independente quanto foi no passado. Simplesmente tem mais conversa, porque o mundo é muito mais complexo. Você acha que o Bernanke (Ben Bernanke, presidente do Fed) é independente do Obama (Barak Obama, presidente dos EUA)? Você acha que o Draghi (do BCE) não conversa com ninguém?", questionou.
Quanto à taxa básica de juros, a Selic, o economista prefere não fazer previsões, mas concorda que ainda há espaço para corte de um ponto porcentual: "O (presidente do BC, Alexandre) Tombini já provou que está muito mais antenado com a realidade brasileira e com a realidade internacional. Vai conversar com seus companheiros do Copom e ver onde podem ir."
O economista acredita que a forte desvalorização do real em relação ao dólar nas últimas semanas foi resultado da atuação do governo, que permitiu que a moeda brasileira ficasse supervalorizada por muito tempo, em parte devido aos juros altos. Na avaliação dele, no entanto, ainda é difícil definir uma taxa de câmbio ideal para o País.
Entretanto, ele não acredita em uma pressão inflacionária mais forte como consequência da mudança no câmbio. "A passagem do câmbio para os preços evidentemente existe. Mas a economia tem outros fatores. Seguramente, um aumento de câmbio de 10%, 15%, 20% se transfere como um aumento de preços talvez em 1%, 2%, ou 3%, mas ao longo de 12, 15 meses", calculou.
O ex-ministro disse mais pessimista com o crescimento do PIB este ano e revisou a previsão de crescimento para 3,2% ou 3,3%.

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