terça-feira, 27 de dezembro de 2016

POESIA DA MADRUGADA - LIRA ROMANTIQUINHA - Carlos Drummond de Andrade

Por que me trancas 
o rosto e o riso 
e assim me arrancas 
do paraíso?
Por que não queres, 
deixando o alarme 
(ai, Deus: mulheres!),
acarinhar-me?
Por que cultivas 
as sem perfume 
e agressivas 
flores do ciúme?
Acaso ignoras 
que te amo tanto, 
todas as horas, 
já nem sei quanto?
Visto que em suma 
é todo teu, 
de mais nenhuma,
o peito meu?
Anjo sem fé 
nas minhas juras, 
porque é que é 
que me angusturas?
Minh'alma chove 
frio, tristinho. 
Não te comove 
este versinho?

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