Somente Deus, para os que acreditam nele (eu acredito), e o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, saberão dizer com segurança se está próxima ou distante a prisão de Lula por suspeita de envolvimento na roubalheira na Petrobras. E também na Nuclebras. E também na Eletrobrás. E sei lá mais onde.
O que parece cada vez mais provável é que um dia acordaremos ou iremos dormir com a notícia de que Lula foi chamado a depor. Por deferência ao cargo que ocupou duas vezes, talvez lhe seja concedido o direito de escolher dia e hora para ser ouvido. Desde que não demore. O juiz tem pressa.
A faxineira da minha casa comentou, sem nenhum assombro, tão logo ficou sabendo, ontem, da nova prisão do ex-ministro José Dirceu:
- Já, já vão chegar no Lula.
E continuou a faxina. Ela votou em Lula duas vezes, e em Dilma uma. Votou em Marina no primeiro turno da eleição passada. E em Aécio Neves no segundo turno. É maranhense, casada, mãe de três filhos e mora em uma cidade-satélite de Brasília. Garante que nunca mais votará no PT. Não perdoa as mentiras de Dilma.
Antes de se eleger presidente, Lula chamou Sarney de ladrão. Uma vez eleito, saiu em defesa dele classificando-o de “homem incomum”. Como tal, não mereceria ser acusado de nada. Se um dia, e por merecimento, Lula pode ser chamado igualmente de “homem incomum”, hoje não pode mais. E não é.
Um jornalista perguntou a um dos procuradores da Lava Jato se Lula estava sendo investigado. E se poderia ser preso. O procurador driblou com jeito as duas perguntas. Mas fez questão de dizer que qualquer cidadão pode ser investigado, seja pela Justiça comum ou pela Justiça superior. E que a comum pode investigar Lula, sim.
No churrasco servido, ontem à noite, por Dilma no Palácio da Alvorada a líderes dos partidos que supostamente a apoiam, a conversa era uma só: a prisão de Dirceu. E o que ela significa – que o objetivo da Lava Jato é alcançar Lula. Não acho correto que se diga que o objetivo da operação é esse.
Dá-se, assim, a impressão de que a operação foi armada ou está sendo conduzida com a intenção de pegar Lula. Os fatos apurados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público é que ditam os rumos da investigação. Se eles apontam na direção de Lula como o poderoso chefão, fazer o quê?
Justiça, oposição e os chamados movimentos sociais decidiram na época do mensalão que o processo de investigação não deveria ir além de José Dirceu. Como se Dirceu pudesse ter montado um esquema de compra de partidos e de políticos à revelia de Lula ou até contra sua vontade.
Governador de Minas Gerais, Aécio foi o cacique da oposição que mais se empenhou para livrar Lula de qualquer maior incômodo. Agora, ele repete que nem comemora prisões nem as lamenta. A declaração não deverá se aplicar somente à prisão de Dirceu. Aécio, mas não só ele, não verterá uma lágrima se Lula for preso.
Os demais caciques da oposição ou querem ver o fim de Lula ou não mais se recusam a ver. A Justiça se comporta com mais coragem. E os movimentos sociais... Bem, os movimentos sociais estão rompidos com Dilma. E decepcionado com Lula. De resto, estão intimidados pelo ronco das ruas. Por falar em ruas...
E assim caminha a humanidade. O que antes causaria espanto, agora se torna digerível. É mais uma evidência da robustez das principais instituições do país. Vida que segue.
(Arte: Antonio Lucena)
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