quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Em mais um episódio que ilustra o atual mal-estar entre a Justiça o governo argentino, o promotor Germán Moldes decidiu denunciar, nesta terça-feira (24), a procuradora do Tesouro, Agelina Abbona, e outros integrantes do governo por peculato. Segundo Moldes, os funcionários teriam usado indevidamente recursos públicos quando apresentaram a defesa da presidente Cristina Kirchner e de aliados contra a acusação feita pelo promotor morto Aberto Nisman - substituído por Gerardo Pollicita. Nisman denunciou e Pollicita indiciou a presidente, o chanceler, Héctor Timerman, e aliados políticos de conspirarem para proteger supostos responsáveis iranianos pelo atentado à entidade judaica Amia, em 1994. Para Moldes, as funções da Procuradoria do Tesouro não são trabalhar para defender os interesses particulares dos denunciados, e, sim, do Estado argentino. O promotor afirma que a acusação de Nisman não diz respeito ao Estado, mas aos indivíduos. "Talvez tenha sido um excesso entusiasmado derivado da devoção pessoal a algum dos implicados", afirmou Moldes em seu despacho: "A admiração incondicional pelas pessoas que detêm cargos públicos é um direito legítimo, mas diz respeito apenas ao âmbito pessoal". Em processo paralelo, o governo fez uma investida contra o ex-espião Antônio Jaime Stiuso e outros antigos dirigentes do serviço de inteligência do país. O atual titular da secretaria, Oscar Parrilli, apresentou denúncia contra o ex-espião, hoje inimigo do governo, por contrabando e evasão fiscal. O governo acusa Stiuso de importar equipamento sem pagar impostos entre 2013 e 2014. Esses produtos não serviriam ao trabalho da secretaria. Entre os produtos que teriam sido comprados por ordem do ex-espião há material oftalmológico, médico e até acessórios para jogos eletrônicos, segundo o governo. Stiuso também está sendo investigado por suposto enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro em outro processo incentivado por aliados do governo. A empregada de Nisman, Gladys Gallardo, deu entrevista ao canal Telefe e afirmou que a lista de compras encontrada no apartamento de Nisman - uma das possíveis provas de que o promotor não teria se matado - foi escrita por ela e não por ele. Gladys contou que esteve na casa de Nisman na quinta-feira, antes de o promotor aparecer morto, no domingo. Segundo ela, o promotor teria se queixado de que estava magro e lhe perguntou se ela poderia cozinhar uma torta de batata. Ela, então, escreveu a lista com o que era necessário comprar. Gladys voltaria à casa de Nisman na segunda-feira. A doméstica afirmou que o promotor lhe telefonou na sexta, porque não a havia encontrado quando ela saiu do trabalho, e disse que faria a compra. Apesar da informação, Gladys não acredita na hipótese de suicídio. Ela disse que Nisman lhe comunicou que estava voltando da Europa (onde passava férias com a filha) por razões de trabalho, mas que planejava retornar. "Pessoalmente, eu não acredito que ele tenha tirado a própria vida. Era uma pessoa que se cuidava tanto, que falava do futuro, apaixonado pelas filhas... não acredito", afirmou. Ela acrescentou que o promotor não confiava na equipe que fazia sua escolta e que eles nunca entravam no apartamento. Gladys deu informações também sobre a relação do promotor com Diego Lagomarsino, o técnico de informática que admitiu ter emprestado a arma a Nisman. A doméstica disse que abriu a porta para ele umas sete ou oito vezes durante o período em que trabalhou na casa de Nisman - desde outubro de 2013 - e que os dois aparentavam ter uma relação de trabalho.
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