domingo, 19 de outubro de 2014

A eleição antipetista, by David COIMBRA


17 de outubro de 2014
Essa é a eleição do antipetismo. Vejo amigos petistas magoados, queixando-se do ódio que as pessoas sentem do PT. É verdade, é ódio mesmo, e também é verdade que nada se constrói com ódio. Mas os petistas precisam compreender que o antipetismo não existia antes do petismo. O antipetismo é uma reação.
Os petistas dignos tinham de tentar compreender a natureza da ação que gerou essa reação. Por que o antipetismo tão feroz infiltrou-se em praticamente todas as artérias da sociedade brasileira? Alguns analistas petistas tentam explicar o infortúnio do PT por seus méritos. Grosseiramente falando, seria uma reação dos ricos e da classe média, que não admitem ver pobres melhorando de vida. Isso é uma tolice. É como aquele sujeito insuportável, detestado por todos, que justifica sua solidão pela inveja que os outros supostamente sentem da sua beleza, da sua inteligência, da sua competência, seja o que for.
Se os petistas tiverem humildade, reconhecerão vários motivos para essa rejeição, mas um acima de todos: é a atitude religiosa e excludente dos petistas, que acham que o PT detém o monopólio da correção política e do porte das bandeiras de causas populares.
O petista transformou-se em algo parecido com um gremista, com um colorado, com um torcedor de futebol, que vê no seu clube o sal da terra e no adversário o próprio Mal. Cada vez que um petista abre a Tamanha arrogância até seria perdoável, se correspondesse à realidade. Não corresponde, e os escândalos de corrupção orgânica que saltam como carpas das águas do governo do PT estão aí para comprovar.
Esse, aliás, é o segundo grande motivo da rejeição ao PT. Lula, com seu gênio político, entendeu que o PT precisava se abrir para governar. Mas aí foi ao extremo. Abriu-se demais, fez concessões demais. E trouxe para junto do PT tudo o que o PT repudiava. O PT fez as alianças mais espúrias da história da política brasileira, e digo que são as mais espúrias não por quem se aliou ao PT, mas pelo PT. Pelo PT ter aceito tais alianças. Afinal, os brasileiros esperam que Sarney, Collor, Maluf e Calheiros façam aliança com qualquer um para deter o poder, mas não esperavam que o PT fizesse alianças com Sarney, Collor, Maluf e Calheiros para deter o poder. Foi uma traição. Uma traição, inclusive, aos muitos petistas retos que há.
Agora o PT vive um momento delicado, sentindo o antipetismo pulsante em todo o país. Não sei se isso levará o PT à derrota na eleição, mas sei que este pode ser um momento de aprendizado. Pode ser um momento de engrandecimento. Porque as crises não servem só para fazer sofrer. Servem para fazer crescer.

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