quinta-feira, 21 de agosto de 2014

POEMA DA NOITE Pálido céu abissal, por Carlito Azevedo


que não nos protege,
é antes cúmplice, ou mentor
intelectual dessas ruínas,
de nossas mentes estropiadas.
Ao passar por certas casas e ruas
suburbanas, ocorre às vezes
de nos depararmos com algo
que brilha deslumbrante e dissimétrico,
e nos comove a ponto de nos
perguntarmos se de sua aparição
escandalosa, sua cauda
luminosa de átomos e vazio,
poderão surgir algum dia
moças asseadas em vestidos
de flores, conduzindo pela
mão crianças bem penteadas
para a Escola Municipal,
o Sonho Municipal.
Parei um dia em uma dessas
praças e, deitado sobre a 
grama, me pus a escutar a
desconexão absoluta de
todas as falas do mundo, de
todos os sonhos do mundo.
Ao levantar-me para buscar
um pouco de água no tanque
vazio vi (me encarava)
uma ratazana que ainda
assim me lembrou
Debra Wingers
abandonada no deserto.

Carlos Eduardo Barbosa de Azevedo, ou Carlito Azevedo (Rio de Janeiro, 4 de julho de 1961) - Além de poeta, é crítico literário e editor da revista de poesia Inimigo Rumor. Com seu livro de estreia, Collapsus linguae, ganhou o Prêmio Jabuti. Publicou também As banhistas, Sob a noite física e a antologia Sublunar, que recebeu o Prêmio Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional. Publicou recentemente Monodrama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário