O cinismo nasceu idealista, otimista mesmo. Na Grécia Antiga, o cinismo começou como corrente filosófica que pregava que o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza. Seus praticantes eram chamados de cínicos.
Os cínicos gregos, sendo idealistas e radicais, consideravam a virtude como a única condição necessária para a felicidade. Viam a virtude como ferramenta única requerida para alcançar a felicidade. Negligenciavam tudo que não promovesse a perfeição da virtude.
Para ser cínico daquela época, palavras não bastavam. Abraçar o modo de vida cínico era exigência fundamental e consistente com a busca da virtude. Para eles a virtude residia, sobretudo, em conduta moral irrepreensível. Conquistas materiais e aparência exterior eram supérfluas, e, por supérfluas, não eram parte da virtude.
Não se sabe exatamente a razão, se é que existiu uma só. Talvez fosse um mecanismo de defesa contra as inevitáveis frustrações. Talvez porque a distancia entre seus ideais e a realidade lhes fosse tão desfavorável. O fato é que os cínicos se tornaram críticos ácidos e implacáveis do comportamento da sociedade em que estavam inseridos.
De critica em critica, ou de frustração em frustração, o cinismo foi cedendo em expectativa e crescendo em amargura. Virou aquilo que conhecemos e reconhecemos hoje. Reduziu-se apenas a atitudes de desdém negativo ou cansado, manifestada na desconfiança geral quanto à integridade ou motivos professos dos seres humanos. Transformação dramática para uma corrente filosófica que em sua origem destacava a busca obsessiva da virtude e da perfeição moral.
Talvez estejamos, nestes dias, em um dilema moral semelhante. Diante da aparente falta de mudança; em face da evidente degradação ética; confrontados com a inutilidade aparente da coerência; e afrontados cotidianamente por insulto à inteligência e ao bom senso, cresce a descrença. Floresce a frustração. Vem a desilusão.
E assim, em cada passo; em cada desilusão; em cada frustração, a esperança morre um pouco em lenta agonia. Como lodo, o desdém negativo e cansado brotando nas paredes do coração de cada um. Até o ponto em que, finalmente, emerge uma nação de cínicos.
Diógenes, o Cínico
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca
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