segunda-feira, 28 de julho de 2014

POEMA DA NOITE Cerejeiras de Washington, por Aurea Domenech


Vieram por mar, invasores,
Os tiranos do poder,
Travestidos de soldados
Que não querem mais viver.
Avançam sobre a cidade
Que arde em cores metálicas;
Avançam na noite de estrelas
E, deixando-as sem ponteiras,
Acham que é “um bom trabalho”.
E sob um céu já queimado,
Armam suas vis trincheiras.
Vêm com bandeiras e cruzes
E, assim, pensam incoerentes,
Legitimar o ataque
Sobre a cidade que dorme,
Sobre as crianças do Iraque.
E, assim, no sangue se banham
Sabendo que é sangue inocente,
Mas obedecem à loucura
Do imperador tresloucado,
Que tem orgulho do feito
E que reina, vampiresco,
Em total ilegitimidade...
Vêm com fogo, vêm com mísseis,
Com suas tochas de aço
E inauguram o terror
No Dezenove de Março.
Enquanto isso em Washington
A primavera retorna
Da mesma forma de sempre:
- Fazendo florir cerejeiras
Que bebem das águas serenas
Do Potomac tranquilo.
Retorna o rosa das flores,
Retornam os cervos, esquilos,
Que nada entendem de guerra,
Que ignoram o déspota louco
Que não é seu Presidente.
Enquanto isso em Washington
A maldade é covarde e altiva,
Veste-se de artilharias,
Promete raros ataques
De proporções jamais vistas.
São os homens que são nada
E não entendem a coragem
Do repúdio pacifista.
Pedem ao mundo apoio
E que fechem embaixadas.
Repetem anteriores desastres,
Invadem a terra dos outros
Como fizeram em Granada.
E a isso chamam República,
A vera democracia;
Assim legitimam essa fraude
Tão desigual e oposta
Ao vorticismo de Pound.
Já não bastam os escândalos
E os tantos Suplícios de Tântalo,
A esse homem mordaz,
Que envenenou as papoulas
Do pobre Afeganistão.
Arma incríveis ciladas,
Ameaça com mil tanques
Os desarmados que a ONU
Deixou sem a menor proteção.
E ao mundo inteiro inclina
A ameaça da guerra,
(aos ânimos já alquebrados)
(Pela fome e por miséria).
Que será das verdes palmeiras
Tão belas, tão altaneiras;
Que será das companheiras
Das cerejeiras de Washington,
Que mesmo distantes são próximas
No resistir, na beleza?
Que será da Botânica inteira
Que geme aos olhos de Alá?
Que será das moças, crianças,
Dos homens bons, solidários,
Dos Pounds, dos tantos poetas,
Dos sonhos de Bagdá? 

Aurea Domenech nasceu no Rio de Janeiro em 1956. Além de poeta, é artista plástica, tradutora e advogada. Participou de algumas exposições pelo mundo, tais como na P.T.A Art Galery em Winnetka. Em 1989, publicou o elogiado O Pescador de Sombras e prepara mais um livro para este ano.

Um comentário:

  1. O livro de Aurea Domenech "Tempestades de Areia" já se encontra à venda nas Livrarias da Travessa do Rio de Janeiro e, em Brasília, na Livraria Sebinho.

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