sexta-feira, 13 de junho de 2014

Cartas de Nova Iorque: Futebol e Copa, longe de casa, por Luisa Leme


Hoje a Copa do Mundo começa no Brasil e eu não estou lá. Acho que a frase já passou pela cabeça de cada um de nossos expatriados soltos pelo mundo. A Copa começa na minha cidade, no estádio do meu time, novinho...As ruas estão verde e amarelas, as pessoas preocupadas, ansiosas. Vai ter feriado, vai ter trânsito, greve, gringos, confusão...Vai ter churrasco, vai ter jogo, cerveja, futebol. Vai ter Copa! Mas eu não estarei lá.
A sensação veio esse mês, muito mais forte do que durante o Carnaval. Saio nas ruas de Nova Iorque procurando as cores, o barulho, a ginga no andar, nós. Não encontro bandeirinhas nos carros ou crianças uniformizadas, nem vuvuzela, nem rojão. Encontro a resposta de que não estou em casa: eu moro longe. Ao redor, me perguntam se eu vou para o Brasil, quem vai ganhar, sobre os protestos, a violência, os problemas. Mas todos querem ver a Copa, todos aqui estão animados pelo Brasil. Como um comercial fala na televisão: o futebol voltou para casa.
Não me leve a mal, haverão muitos eventos brasileiros para os jogos por aqui. Mas a experiência internacional não substitui “estar lá” para assistir a partida e gritar gol em coro. A Copa está aqui, mas a festa que começa hoje, lá em casa, não. De fora, expatriados acompanham as críticas, manifestações, a discussão sobre o dinheiro que se gastou, as fotos do metrô lotado na internet, as notícias…Mas não dá para viver a Copa assim.
Quem mora fora por muito tempo as vezes assume o “lado expatriado”, de viajante, e não pensa muito na identidade nacional. Até mesmo para se acostumar com a nova morada, por mais que os gringos adorem “a Brazilian, oh how nice!”. Mas a Copa sempre foi quando nós vestimos a camisa, sacudimos a bandeira. Viver a Copa em casa é um privilégio.
Adoraria ver os estrangeiros amontoados em São Paulo, os fãs do Reino Unido espantados com a nossa cerveja ultra gelada...acompanhar os jogadores dos países mais nórdicos curtindo um samba, comendo acarajé! Ai como seria legal receber os gringos no Brasil, como tantos me receberam por aqui. Assistir corações do outro lado do mundo se apaixonando pelos brasileiros, pela nossa cultura. Como o amor que deu origem à minha família. Conversar sobre a bagunça (não se preocupem com reclamações: americanos, pelo menos, são fascinados pela nossa bagunça) e, principalmente, o jogo de cintura do Brasil. Os gringos sabem que o brasileiro, criativo, sempre se adapta. Características muito valorizadas aqui.
Copa em Nova Iorque é uma festa linda que vai unindo expatriados do mundo todo nos bares da cidade. Daquelas que acontecem no pub inglês, para assistir jogo de times latinos, acontecendo em país ainda mais distante. Entender o fuso horário é uma confusão. Mas todo mundo aparece, se espreme na frente do bar, aprende a dizer “com licença” em umas três línguas, toma cerveja e grita junto. Unidos pelo futebol e pela saudade.
Então já que você leitor está por aí, aproveite por mim e todos os que não podem curtir a Copa de casa. A Copa dos brasileiros.

Luisa Leme é jornalista e produtora de documentários. Passou pela TV Cultura e TV Globo em São Paulo, e pelas Nações Unidas em Nova York. Mora nos Estados Unidos há sete anos e fez mestrado em relações internacionais na Washington University in St. Louis. Escreve aqui sempre às quintas-feiras. Mantém o blog DoubleLNYC com imagens e impressões sobre Nova York. Twitter: @luisaleme

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