segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A raiva sai caro


Posted: 31 Jan 2014 09:42 AM PST
 
Por Dra. Miriam Adahan
 
Assim como são necessárias muitas ferramentas para construir um lar físico, os pais precisam de muitos talentos para construir um alicerce forte de boas midot (traços de caráter). Raiva e crítica não são ferramentas construtivas; destroem o senso de autoestima, confiança e segurança das pessoas.

Lia era minha aluna anos atrás, e entusiasticamente colocava minhas ideias em prática. Ela usava minhas ferramentas e técnicas para ajudar seus filhos a enfrentar perda e frustração, expressar suas emoções e construir a autoestima. Apesar do fato de seu marido, de pavio curto, explodir furioso com frequência, essas táticas funcionavam muito bem com as crianças menores, ajudando-as a controlar seus impulsos negativos. Infelizmente a filha mais velha, Sharon, já era adolescente quando a mãe introduziu minhas ideias, e ela puxou pelo pai, sarcástica e condescendente em casa, mas querida e virtuosa para os estranhos.

Quando Sharon casou-se com Eli, eles decidiram que não teriam nem um pouco daquilo que ela chamava de “falta de senso delicado, psicológico,” de Lia. Eles declararam: Os filhos devem ser obedientes sem prêmios, roteiros ou notebooks.” O filho mais velho, Mike, mal tinha dois anos quando eles começaram a espancá-lo por ser “desrespeitoso”. Isso incluía não colocar os brinquedos de lado instantaneamente, não olhar nos olhos dos pais quando era repreendido, deixar cair um pouquinho de comida no chão, ou não dormir facilmente quando era posto na cama. Para ensinar-lhe uma lição, era mandado para a cama sem comida, recebia longos castigos, e às vezes era trancado num quarto escuro durante horas ou obrigado a ficar fora da casa num frio congelante.

Eles se viam como pais muito devotados que estavam educando os filhos corretamente. Agiam amorosamente, desde que Mike concordasse de imediato, e batiam nele e o puniam somente quando necessário.

Às vezes compravam-lhe um brinquedo e não o deixavam brincar com ele porque tinha sido “mau”. Ali ficava, em cima da geladeira, onde ele podia olhar, mas não tocá-lo, para lembrar de sua falta de respeito. Os fortes conflitos aumentaram: quanto mais furiosos eles ficavam, mais desafiante Mike se tornava.

Agora Mike tem dez anos. Quando fica frustrado, ele aterroriza seus sete irmãos mais novos, bate na mãe, ou destrói objetos pela casa. Às vezes ele se recusa a comer, tomar banho ou se vestir, o que deixa os pais ainda mais furiosos. Ameaças de não dar comida não funcionam mais, pois ele pode se recusar a comer durante dias. Quanto a surras, ele aprendeu que pode bater de volta ainda com mais força. Ele não se importa se morrer, e muitas vezes foge ou se aventura sem rumo pela rua. Quando sugeri a Lia que ela ajudasse a construir a autoconfiança de Mike telefonando todo dia para ele e falando sobre suas vitórias, os pais dele insistiram que ela não seria bem-vinda na casa se continuasse com isso. Sharom disse: “Com uma casa cheia de crianças e os estresses da vida, não tenho tempo para as bobagens de Adahan.”

Quando os professores de Mike reclamaram que ele era violento com os colegas, grosseiro e não comunicativo, os pais consultaram um psiquiatra, determinados a descobrir quais remédios psiquiátricos o deixariam calmo e obediente. Eles pareciam tão devotados que o médico viu apenas uma criança perturbada, não a origem de seu sofrimento.

A raiva é realmente muito cara. Parece funcionar como magia com crianças pequenas, conseguindo que limpem, vão para a cama, fiquem quietos, e façam tudo que os pais querem. Mas o “caminho curto e furioso” é na verdade o caminho mais longo. Pesquisas no cérebro mostram que o desenvolvimento cerebral de uma criança é afetado não apenas por abuso físico ou negligência, mas também por violência verbal crônica entre os pais, mesmo quando a criança está dormindo. Mike aprendeu a odiar a si mesmo e a temer as pessoas.

Um lar com muitos conflitos ensina os filhos que o mundo não é seguro e que as pessoas são perigosas. Quando os pais são abusivos, os filhos inevitavelmente se tornam violentos consigo mesmos ou com os outros, pois aprenderam que é assim que os relacionamentos são - magoar e ser magoado. Eles ficam apertando os botões dos pais, provando para si mesmos que os pais não merecem confiança. Alguns se voltam para vícios em busca de consolo, pois um computador, chocolate ou álcool jamais ficarão furiosos, não rejeitarão nem trarão desapontamentos - pelo contrário, o vício recebe você de braços abertos, oferecendo uma ilusão de “amor” na forma de uma falsa conexão.

Portanto, o que podemos fazer quando as crianças apertam nossos botões, ou no sentimos encurralados, exaustos, esgotados e irritados? A raiva está ligada em nosso cérebro: quando crianças, choramos quando temos fome, quando estamos entediados ou irritados. Mesmo quando adultos, nosso “cérebro de bebê” cria confusão quando nos sentimos privados no sentido físico ou emocional.

O que podemos fazer quando as crianças apertam nossos botões?

Mas como adultos, podemos fazer novas escolhas e dominar o cérebro primitivo. Da próxima vez que você sentir raiva, faça isso:

1 - Sinta o sofrimento. Você é humano. Criar filhos é difícil. Não negue que você se sente aborrecido, furioso, traído, desapontado, frustrado ou magoado. Dê nome à perda. Filhos podem causar perdas físicas, como a perda do conforto, privacidade, espaço, estrutura, limpeza, ordem, segurança, tempo ou sono. Podem causar perdas emocionais, como a perda do amor, respeito, autoconfiança, reconhecimento, validação, senso de pertencer, justiça, comunicação ou a realização de um sonho. Se você consegue dar nome a isso, pode superar!

2 - Agradeça a D'us. Pense: “D'us, Tu estás fazendo esta criança agir dessa maneira agora para me dar uma chance de trabalhar em minhas midot. Posso praticar paciência, maturidade e compaixão, ou posso destruir meu relacionamento e elevar minha pressão sanguínea e meu colesterol.”

3 - “Regue” o positivo. Tudo que você rega cresce. A mãe de Mike já “regou” fúria e ira. A única maneira de evitar isso é falando constatemente com os filhos sobre suas vitórias e sobre as deles. Mantenha uma lista na porta da geladeira. Repita as vitórias deles a amigos e membros da família. Repita a lista à mesa do Shabat. Isso ensina às crianças que são capazes de ter autocontrole e são essencialmente boas. D'us não permita que elas interiorizem a mensagem, como MIke, de que “eu não tenho valor, não sou amado e sou um fracasso.”

Fazer isso é como exercitar um músculo. Você se acostuma a reagir ao estresse e desconforto concentrando-se em soluções em vez de agir como um animal enfurecido. É importante lembrar que as crianças somente têm um cérebro primitivo, impulsivo. Seu córtex pré-frontal, o cérebro que resolve problemas, não está totalmente desenvolvido até os 20-25 anos de idade. Você pode ensiná-los a ter autocontrole somente se os elogiar entusiasticamente sempre que forem obedientes e cooperativos, e mostrando a eles como você pratica o autocontrole.

Um provocador pensa: “A raiva me motiva a exigir que minhas necessidades sejam satisfeitas e meus direitos respeitados! Preciso ficar furioso ou as pessoas vão me desrespeitar e abusar de mim.” Não ensine seus filhos a serem provocadores. Se você não consegue se controlar, tenha a humildade de procurar ajuda antes que a vida de seus filhos seja arruinada.

Como mãe jovem, escrevi uma declaração e a coloquei em meu sidur: “Não abrirei minha boca a menos que tenha amor em meu coração.” Aprendemos: “Na maneira que uma pessoa deseja ir, ela recebe ajuda Divina.” (Talmud, Makkot 10 a).

Testemunhei muitos milagres em minha própria vida. Nem sempre consegui que os outros cooperassem ou me tratassem com respeito, mas mantive minha sanidade e senso de auto-valor. E isso foi mais importante que tudo que eu pensava precisar no momento. Tente! Você economizará muito dinheiro com terapeutas.

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