GAZETA DO POVO - PR - 13/11
No recém-lançado livro 1889, o jornalista Laurentino Gomes levanta a hipótese de que pode ter sido a dor de cotovelo do marechal Deodoro da Fonseca que desencadeou a proclamação da República – que nesta semana completa 124 anos. O pouco conhecido episódio do ciúme do marechal pela Baronesa do Triunfo também simboliza a tortuosa gênese republicana do país, que produz seus efeitos até hoje na vida pública nacional.
Segundo o relato de Laurentino Gomes, a baronesa – Maria Adelaide Andrade Neves Meireles – era uma bela viúva gaúcha. Documentos indicam que Deodoro teria se sentido atraído por ela quando governou o Rio Grande do Sul, em 1883. Mas Maria Adelaide escolheu Gaspar Silveira Martins – um rival do marechal no amor e na política.
Os destinos de Deodoro e Silveira Martins voltariam a se cruzar seis anos depois, nos eventos que culminaram na instauração do regime republicano. Laurentino Gomes conta que o marechal, em nenhum momento durante o dia 15 de novembro, derrubou a monarquia. Deodoro, que era o líder do golpe militar, tão-somente afastou da chefia do governo parlamentar o Visconde de Ouro Preto, considerado um perseguidor do Exército.
Foi somente na madrugada do dia 16 que Deodoro concordou em instituir a República, como pedia uma ala dos militares insatisfeitos. A decisão do chefe do movimento foi tomada quando ele soube que dom Pedro II havia convocado Silveira Martins para chefiar o novo gabinete. Laurentino Gomes especula que o ciúme do marechal em relação ao rival tenha contribuído para pôr fim ao Império. Sem o prestígio de Deodoro e diante de uma eventual recusa dele em propor a mudança de regime, a nação talvez pudesse ter permanecido uma monarquia.
Assim, a República brasileira teve, nas palavras de Gomes, uma “madrinha secreta”. O curioso é que a “musa” da proclamação e os demais personagens envolvidos eram todos da aristocracia rural ou militar. E que a alvorada do republicanismo nacional teve um forte componente personalista. O elitismo e o personalismo, que pouco combinam com uma verdadeira República, continuam a ser marcas da vida pública nacional mais de um século depois.
É sintomático ainda comparar a madrinha republicana do Brasil com o símbolo universal da República – a efígie de Marianne, que pode ser vista em qualquer nota de real. Marianne foi concebida como uma musa pelos republicanos franceses. Ela não é uma pessoa de carne e osso, marcando a impessoalidade da República ideal, que não faz diferença entre cidadãos. Marianne – a contração dos dois nomes femininos mais comuns na França do século 18 (Marie e Anne) – é ainda a personificação do povo, em contraposição à aristocracia.
No recém-lançado livro 1889, o jornalista Laurentino Gomes levanta a hipótese de que pode ter sido a dor de cotovelo do marechal Deodoro da Fonseca que desencadeou a proclamação da República – que nesta semana completa 124 anos. O pouco conhecido episódio do ciúme do marechal pela Baronesa do Triunfo também simboliza a tortuosa gênese republicana do país, que produz seus efeitos até hoje na vida pública nacional.
Segundo o relato de Laurentino Gomes, a baronesa – Maria Adelaide Andrade Neves Meireles – era uma bela viúva gaúcha. Documentos indicam que Deodoro teria se sentido atraído por ela quando governou o Rio Grande do Sul, em 1883. Mas Maria Adelaide escolheu Gaspar Silveira Martins – um rival do marechal no amor e na política.
Os destinos de Deodoro e Silveira Martins voltariam a se cruzar seis anos depois, nos eventos que culminaram na instauração do regime republicano. Laurentino Gomes conta que o marechal, em nenhum momento durante o dia 15 de novembro, derrubou a monarquia. Deodoro, que era o líder do golpe militar, tão-somente afastou da chefia do governo parlamentar o Visconde de Ouro Preto, considerado um perseguidor do Exército.
Foi somente na madrugada do dia 16 que Deodoro concordou em instituir a República, como pedia uma ala dos militares insatisfeitos. A decisão do chefe do movimento foi tomada quando ele soube que dom Pedro II havia convocado Silveira Martins para chefiar o novo gabinete. Laurentino Gomes especula que o ciúme do marechal em relação ao rival tenha contribuído para pôr fim ao Império. Sem o prestígio de Deodoro e diante de uma eventual recusa dele em propor a mudança de regime, a nação talvez pudesse ter permanecido uma monarquia.
Assim, a República brasileira teve, nas palavras de Gomes, uma “madrinha secreta”. O curioso é que a “musa” da proclamação e os demais personagens envolvidos eram todos da aristocracia rural ou militar. E que a alvorada do republicanismo nacional teve um forte componente personalista. O elitismo e o personalismo, que pouco combinam com uma verdadeira República, continuam a ser marcas da vida pública nacional mais de um século depois.
É sintomático ainda comparar a madrinha republicana do Brasil com o símbolo universal da República – a efígie de Marianne, que pode ser vista em qualquer nota de real. Marianne foi concebida como uma musa pelos republicanos franceses. Ela não é uma pessoa de carne e osso, marcando a impessoalidade da República ideal, que não faz diferença entre cidadãos. Marianne – a contração dos dois nomes femininos mais comuns na França do século 18 (Marie e Anne) – é ainda a personificação do povo, em contraposição à aristocracia.
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