sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Na busca da reeleição, o governo do PT entrega cada vez mais emissoras de TV aos pastores evangélicos


Carlos Newton
A legislação em vigor determina que haja concorrência para outorga de concessões de televisão. Essas normas acautelatórias foram criadas ainda no regime militar. Silvio Santos, por exemplo, teve de se virar para conseguir derrotar a editora Abril e o Jornal do Brasil, na licitação aberta pelo governo João Figueiredo, conseguiu ganhar suas primeiras concessões e iniciou assim a formação da rede nacional do SBT.
Na redemocratização, o governo Sarney começou a bagunçar o setor das comunicações, distribuindo concessões de rádios e televisões para políticos da base aliada, que é uma espécie de gangrena que suga eternamente o Poder, mas tendo sempre o cuidado de mantê-lo vivo, para não exaurir a fonte.
A prática inaugurada por Sarney continuou no governo FHC e também foi adotada pelo PT, é claro. A justificativa é de que a legislação somente se refere a emissoras abertas, porque na época em que foi baixada não existiam canais por assinatura. E como isso legalizou-se o protecionismo, como se a lei tivesse sido revogada.
EMISSORAS ABERTAS
Ocorre que, de lá para cá, o conceito de emissora aberta mudou muito. Hoje, os aparelhos de televisão captam mais de 100 estações, incluindo os antigos canais da TV aberta (que iam apenas do 2 ao 13, lembram?) e os demais, por sistema UHF, como a MTV, a NGT, a TV Justiça, a TV Câmara e por aí em diante. Um verdadeiro festival.
Pois bem. Em busca de sua perpetuação no Poder, a tática do PT tem sido a de fortalecer os pastores evangélicos. Assim, além da Rede Record, que apóia o governo incondicionalmente e se formou com base na riqueza da Igreja Universal do Reino de Deus, estão sendo fortalecidas pelo Ministério das Comunicações (leia-se: Paulo Bernardo, um dos ministros ainda leais a Dilma)  mais duas poderosas cadeias de emissoras evangélicas – uma da Igreja Internacional, do pastor R.R. Soares, e a outra do apóstolo Valdemiro Santiago, ambos egresso da Igreja Universal.
R.R. Soares aluga espaço na Rede Bandeirantes, já tem sua própria operadora de TV por assinatura (“Nossa TV”) e controla mais 60 emissoras abertas, espalhadas pelo país. Agora, acaba de conseguir da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a permissão para comprar mais três operadoras de serviço especial de TV por assinatura do grupo Abril.
APÓSTOLO CALOTEIRO
Correndo por fora, desponta o líder da Igreja Mundial, Valdemiro Santiago, que se autodenomina “apóstolo”. Ele segue o caminho trilhado por R.R. Soares e também já ganhou do governo um grande número de concessões de emissoras abertas. Desde 2008, arrenda o canal Rede 21, do grupo Bandeirantes, e aluga espaço na RedeTV! durante a madrugada e o início da manhã.
Recentemente, Valdemiro que se diz milagreiro e apto a curar quase todas as doenças, entrou em negociações para comprar a rede MTV. A informação foi confirmada pelo deputado do PSC do Paraná, Ricardo Arruda, administrador de empresas e gestor financeiro ligado à Igreja. Mas ninguém sabe se há veracidade nessa informação, porque Valdemiro alugava 10 horas diárias na CNT e saiu em maio, dando um cano na emissora da família Martinez.
Detalhe importante é que Valdemiro está sendo atropelado pela Igreja Universal. Além de comprar os horários do “apóstolo” na CNT, a Igreja Universal está procurando as outras emissoras que alugam espaços para o dono da igreja Mundial. Chegou a oferecer o dobro do valor e conseguiu  tirar o rival do ar em horário nobre da RedeTV!. E tudo isso em plena crise da Record, com centenas de demissões nos últimos meses.
No meio da confusão, a presidente Dilma está confiante de que terá apoio dessas três maiores seitas evangélicas, que trariam as outras de roldão. Mas as coisas não parecem simples assim. Os líderes das igrejas evangélicas são malandríssimos e gostam de apoiar quem vai ganhar (ou já ganhou) a eleição. Por isso, não fazem acordos e ficam em cima do muro até a undécima hora, como se dizia antigamente.

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