segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Carlos Brickmann: O tempo fora de tempo, o assessor envolvido em abuso sexual, o puro deboche


Não é tempo de aumento no STF, nem de manter mandato de parlamentar-presidiário, nem de comprar helicópteros e contratar bufês, nem arrumar empregos públicos para parentes e amigos... Não agora (Imagem: Salvador Dali -- A Persistência da Memória)
"Não é tempo de aumento no STF, nem de manter mandato de parlamentar-presidiário, nem de comprar helicópteros e contratar bufês, nem arrumar empregos públicos para parentes e amigos... Não agora" (Imagem: Salvador Dali -- "A Persistência da Memória")
Notas da coluna de Carlos Brickmann publicadas hoje por diversos jornais
O TEMPO FORA DE TEMPO
Diz o Eclesiastes, um dos livros da Bíblia, que há um tempo para tudo, um tempo para tudo o que ocorre. Há, pois, que ter o tempo como aliado; e saber quando a hora não chegou. E, quando não for o tempo, adiar o que se deseja.
É justo ou não o pedido do ministro Joaquim Barbosa de aumento de salários no Supremo Tribunal Federal? Pode ser; mas não é hora de elevar agora o salário dos ministros do STF para mais de R$ 30 mil, quando o salário mínimo talvez vá para R$ 722, e só no ano que vem.
É correto manter o mandato do deputado federal Natan Donadon, do PMDB, preso por corrupção?
Este colunista acha que não, a Câmara acha que sim; mas não é hora de criar a figura jurídica do deputado sem direitos políticos, que não pode votar nem ser votado, nem comparecer às sessões, mas continua deputado.
Não é o tempo certo para que a cúpula do país faça reivindicações, por justas que lhe pareçam. Multidões foram às ruas pedir seriedade na administração pública.
Não é o tempo certo para que o governador do Ceará, do PSB, compre quatro helicópteros sem licitação e contrate bufês suntuosos para servi-lo; nem para que o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, arranje emprego público para a namorada, a sogra e o cunhado; nem para que o governador gaúcho, do PT, gaste R$ 400 mil do Tesouro para avaliar se o jornal Zero Hora o trata com imparcialidade; nem para que o governador do Piauí, do PSB, queira pagar seu hidratante, xampu reparador e gel esfoliante com dinheiro público.
Puro deboche.
Parafraseando o Eclesiastes, que proveito tirou o povo de suas manifestações?
Sabedoria antiga
Um grande historiador, Capistrano de Abreu (1853-1927) dizia que a nossa Constituição deveria ter apenas dois artigos:
“1 – Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.
2 – Revogam-se as disposições em contrário”.
O caminho das pedras
Em duas semanas, dois jogos em Brasília, com times de fora, e duas grandes brigas no Estádio Mané Garrincha. Um torcedor do Flamengo foi seriamente machucado por são-paulinos; corinthianos e vascaínos brigaram a pauladas, ignorando a Polícia.
Três dos brigões corinthianos estavam entre os detidos em Oruro, após a morte do garoto boliviano Kevin Strada. Fala-se em proibir as torcidas organizadas, mas isso não funciona: basta que troquem de nome, e pronto.
No caso Watergate, a principal fonte dos jornalistas que revelaram o escândalo repetia sempre um lema: “Sigam o dinheiro”. O que se tem de fazer no futebol é buscar o caminho do dinheiro.
Como puderam os briguentos ir a Oruro, viajar de avião a Brasília, comprar os caros ingressos, fora outras despesas? Os que ficaram detidos em Oruro por vários meses certamente perderam o emprego. Quem paga suas viagens?
Achando-se a resposta, as brigas acabam na hora.
A presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Realeza Eduardo Gaieviski e a ministra Gleisi Hoffmann: assessor da Casa Civil, ele teve prisão preventiva decretada (Foto: Divulgação)
A presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Realeza Eduardo Gaieviski e a ministra Gleisi Hoffmann: assessor da Casa Civil, ele teve prisão preventiva decretada sob acusaão de abusar sexualmente de meninas pobres (Foto: Divulgação)
Ela não sabia!
Eduardo Gaievski, assessor da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, está foragido: exonerou-se e desapareceu depois de ter sido acusado de abusar sexualmente de meninas pobres, pagando-lhes de R$ 150 a R$ 200 (há outras acusações contra ele, mas esta é a mais grave).
Gaievski foi prefeito de Realeza, no Paraná, preparava sua candidatura a deputado estadual pelo PT e seria coordenador da campanha de Gleisi ao Governo do Estado, no ano que vem.
E que disse a petista Gleisi sobre o caso?
Claro: que não sabia de nada. Que, antes de nomear o assessor, o Governo consultou a ABIN, a Justiça, cartórios “e todos os órgãos necessários”, mas não recebeu informações porque os processos contra ele corriam em segredo de justiça.
Pois é.
Mas talvez tenha se esquecido do Cartório da Comarca de Realeza.
A certidão, mediante simples consulta, lista 12 ações contra Gaievski, incluindo a de exploração sexual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário