30.08.2013
Política
Continua a impunidade, apesar dos protestos populares: espírito de corpo parlamentar segue protegendo ladrões de papel passado; vai acabar mal
OS DEPUTADOS FEDERAIS DESMORALIZARAM mais um pouco o poder Legislativo, com a cumplicidade da maioria dos juízes do Supremo Tribunal Federal, que lhes deu a última palavra para decidir sobre a perda de mandato de parlamentar condenado pela Justiça em decisão final. Sentenciado a 13 anos de prisão por formação de quadrilha e desvio de R$ 8 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia, o peemedebista Natan Donadon não foi cassado nesta quarta-feira por ter recebido 233 votos em favor de sua punição, 24 a menos do que a maioria necessária (257, metade, mais um) dos 513 colegas.
DO TOTAL, 104 SEQUER compareceram à votação – 14 deles do Rio Grande do Sul. Votação secreta, claro, que esconde o corporativismo e a covardia. Mas, para que a fraude ao eleitor e à ética da representação ficasse menos escandalosa, o vício prestou à virtude o tributo da hipocrisia: o ladrão foi suspenso do mandato logo após a apuração dos votos, pelo presidente da Mesa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
UMA IMORALIDADE DA ESPÉCIE, prezados leitores, não ocorre por acaso. Tem todo o jeito de ter sido cuidadosamente tramada pela direção da Casa e pelos líderes das principais bancadas, com apoio do comando dos seus partidos. E é bem possível que tenha sido um teste para avaliar como os cidadãos brasileiros receberiam a repetição do engodo no caso dos deputados condenados no Mensalão, João Paulo Cunha e José Genoíno (ambos do PT), Pedro Henry (PP) e Valdemar Costa Neto (PR).
SEJA COMO FOR, constata-se outra vez a imperiosa necessidade de alteração no processo eleitoral, para dar ao eleitor melhores condições de avaliar os concorrentes nas campanhas eleitorais, e permitir-lhe cobrar deles comportamentos dignos se eleitos. Isto nada tem a ver, observe-se, com o safado financiamento público ou as ineptas listas de candidatos. A propósito, existisse aqui o mecanismo do recall, os mandatários pensariam duas vezes antes de prejudicar a política, a insubstituível arte de governar.
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