quinta-feira, 18 de julho de 2013

Novo selo gera polêmica na França, por Ana Carolina Peliz


As agências de correio francesas começaram a vender nesta terça-feira uma nova versão do selo usado para cartas simples. O timbre leva a imagem da Marianne, uma alegoria da república francesa. Encarnada por uma mulher, a personagem aparece em suas várias representações usando um barrete frígio, chapéu usado pelos revolucionários, e em muitos casos, como no célebre quadro de Eugène Delacroix, “A liberdade guiando o povo”, com os seios nus.
Como símbolo da França, a Marianne pode ser vista não somente nos selos postais, mas também em esculturas em prédios públicos e em documentos oficiais. A imagem evoluiu em conjunto com as mudanças da sociedade francesa. Atrizes como Brigitte Bardot e Catherine Deneuve serviram de inspiração para o busto da personagem.
Nos selos, a Marianne aparece em várias situações: saudando uma mulher americana, na versão de 1937, feita para a comemoração de 150 anos da Constituição dos Estados Unidos, acolhendo exilados espanhóis em 1938 e enviando uma carta, em 1983.
A escolha, que normalmente só é notícia entre filatelistas, desta vez, gerou polêmica. Isso porque um dos desenhistas da nova Marianne, Olivier Ciappa, disse ter usado o perfil de ninguém mais, ninguém menos que Inna Shevchenko, líder do movimento feminista Femen, como uma de suas fontes de inspiração. A ucraniana, que fez dos seios uma arma de protesto, vive como exilada política na França e participou recentemente de manifestações à favor do casamento gay.

François Hollande participa da apresentação do novo selo em homenagem a Marianne.Foto: Francois Mori / AP

O selo foi escolhido como timbre comemorativo pelo próprio presidente François Hollande, para representar seu mandato. Ele afirmou que a chancela ilustrava a juventude francesa, uma das preocupações de seu governo, e enviava uma mensagem de “igualdade, paridade e diversidade”.
Como era de se esperar, nem todos os franceses gostaram da imagem da nova Marianne. Militantes contra a lei que permite o “casamento para todos” e católicos fundamentalistas, o consideraram como uma provocação e convocaram pelas redes sociais, um boicote ao “selo do ultraje”.
Ainda que a nova Marianne se aproxime da ideia original, se falamos de revolucionárias de seios nus, eu só consigo ver uma mulher de lábios carnudos, olhar etéreo e feminilidade estereotipada. Mas não deixa de ser irônico imaginar os franceses mais conservadores tendo que colar a imagem da militante do Femen em suas correspondências. Sem dúvida nenhuma, o presidente francês tem um senso de humor bastante peculiar.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela escreve aqui todas as quintas-feiras.

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