Nesta cidade densamente povoada, repleta de edifícios altos e envelhecidos e onde as restrições ambientais e de reciclagem são rígidas, empresas japonesas vêm aperfeiçoando algo que pode ser descrito como demolição invisível.
Alguns edifícios são desmontados de cima para baixo, sendo o trabalho escondido por um andaime móvel. Outros, de baixo para cima, sendo a estrutura içada para baixo aos poucos, com a ajuda de um macaco especial.
Às vezes, as técnicas parecem desafiar a gravidade, pois, embora os prédios aparentem estar intactos, vão encolhendo aos poucos. Os métodos, que resultam num canteiro de obras mais limpo e silencioso, podem acabar chegando a outras cidades, à medida que arranha-céus envelhecidos ficam obsoletos e que a melhor solução é demolir e reconstruir.
Mika Gröndahl/The New York Times
O mais recente arranha-céu de Tóquio a ser demolido às escondidas é o Akasaka Prince Hotel, uma torre de 40 andares que se eleva sobre o distrito comercial da cidade. Desde o outono, o prédio vem sendo demolido, um piso de cada vez. Ele vem encolhendo ao ritmo de mais ou menos dois andares a cada dez dias. No final deste mês, ele terá desaparecido, para dar lugar a duas torres novas.
Hideki Ichihara, gerente da Taisei Corporation, que desenvolveu o sistema, disse que a técnica tem benefícios ambientais e permite uma separação mais eficiente do metal, concreto e outros materiais recicláveis. Outra vantagem é de natureza visual: “Não queremos que as pessoas vejam a demolição em curso”.
O chapéu ajuda a minimizar o barulho e a poeira, em comparação com os métodos mais convencionais de demolição de edifícios altos, que envolvem erguer um andaime até o topo e em volta da estrutura, deixando o topo exposto.
“Todos os trabalhos são feitos dentro da área coberta”, explicou Ichihara. “O nível de ruído é 20 decibéis mais baixo que da maneira convencional e há 90% menos pó saindo da área.”
Tirando o chapéu, contudo, o sistema da Taisei é semelhante a outros métodos em que a estrutura é desmontada de cima para baixo. Outra companhia japonesa, a Kajima Corporation, desenvolveu um sistema de baixo para cima, cortando as colunas do edifício ao nível do chão e abaixando a estrutura com um macaco hidráulico, à medida que cada piso é removido.
“A ideia é conservar o prédio o mais intacto possível”, explicou Ryo Mizutani, da Kajima, que em janeiro concluiu a demolição do edifício comercial de 24 andares Resona Maruha, perto dos Jardins Imperiais. Enormes macacos hidráulicos suportaram as 40 colunas do prédio. Operários cortaram 75 centímetros de cada coluna, repetidas vezes, para que a estrutura pudesse ser abaixada lentamente.
Por criar ambientes de trabalho controlados, os dois métodos japoneses permitem a separação na própria obra dos materiais que podem ser reciclados. No Akasaka Prince, disse Ichihara, a separação dos materiais começa desde o alto. O concreto e o aço são trazidos para baixo por guindastes separados. Com o método Kajima, de baixo para cima, disse Mizutani, todos os escombros são criados no térreo, permitindo uma separação eficiente dos materiais.
Uma lei de reciclagem aprovada em Tóquio em 2002 requer que sejam reciclados os dejetos de madeira e concreto, além de metais valiosos como aço, alumínio e cobre, mesmo que as empresas de demolição precisem pagar para isso.
“As pessoas começaram a levar a reciclagem a sério”, comentou Tsuyoshi Seike, professor-associado no Instituto de Estudos Ambientais da Universidade de Tóquio. “As coisas mudaram drasticamente no setor da demolição.”
Fonte: Folha de S. Paulo
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