Carla Kreefft
As contradições de uma sociedade talvez sejam a maior expressão da natureza humana (ou desumana). Fato é que não raro, especialmente na política brasileira, é possível deparar com algumas situações que, de tão inusitadas, causam risos, mas na verdade são verdadeiros dramas. É que o Brasil ainda não perdeu – e pode ser que nunca perca – o título de lugar da piada pronta.
A indicação do pastor Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal é um excelente exemplo. É claro que não cabe aqui nenhuma redução da representatividade do deputado Feliciano. Ele foi eleito de forma legítima e tem o direito de representar o pensamento de seus eleitores. Mas também é preciso questionar o motivo pelo qual alguém que já tem posição – e bastante radical – tomada sobre as questões ligadas às minorias tem que assumir a presidência da comissão. Esse não deveria ser uma cargo para alguém que fosse capaz de mediar e buscar o consenso entre os pensamentos das diversas representações?
O que não é possível aceitar é a justificativa de que o ritual e a burocracia da Câmara têm que ser respeitados e, por isso, a indicação de Marco Feliciano não poderia ser alterada. Se a burocracia deprime a possibilidade de saídas democráticas, é de se esperar, no mínimo, que ela seja alterada.
Mas é assim que o Congresso anda. José Genoino, João Paulo Cunha, condenados pelo mensalão, e Paulo Maluf integram a Comissão de Constituição. O maior produtor de soja transgênica do país, Blairo Maggi, é o presidente da Comissão de Meio Ambiente. E até mesmo João Magalhães, um dos chamados “anões do Orçamento”, ocupa a Comissão de Finanças e Tributação. São as raposas tomando conta dos galinheiros.
(transcrito de O Tempo)
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