Ricardo Setti - VEJA
Mas que bando de hipócritas! Há numerosos lulopetistas em todos os cantos — inclusive colunistas e blogueiros — espinafrando a eleição, pelo Senado, do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) como seu novo presidente, por folgados 56 votos a 18 conferidos ao senador Pedro Taques (PDT-MT), e dois nulos.
Calheiros, que se viu obrigado a renunciar ao mesmo cargo em 2007 para não ser cassado, devido ao envolvimento em escândalos, está neste exato momento, como se sabe, sendo alvo de três processos no Supremo Tribunal Federal por peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso, e sua atuação nos bastidores do governo, supostamente para favorecer amigos, está coberta por nuvens cinzentas.
É, evidentemente, um grande constrangimento, para não dizer uma coisa horrorosa, termos na presidência do Senado e do Congresso alguém nessas condições, e igualmente não é nenhuma maravilha ver aboletar-se um deputado medíocre, como Henrique Alves (PMDB-RN), integrante de uma dinastia de neocoronéis do Nordeste, e também cercado de controvérsias, na presidência da Câmara, como está prestes a ocorrer.
O problema é que lulopetistas não têm autoridade moral para criticar nem Renan, nem Alves!
Moral alguma!
Os dois são produto da aliança eleitoreira entre o antigo e suposto “partido da ética”, o suposto “renovador” da política brasileira — o PT — com o partido de espertalhões gulosos que é o PMDB. Ao fundir seu destino ao PMDB do vice-presidente Michel Temer para eleger Dilma e alcançar grande maioria no Congresso, o PT igualou-se moralmente ao agora irmão gêmeo.
Os “300 picaretas” de que um Lula que não existe mais falava estão todos com ele! E com Dilma!
Esse tipo de gente como Renan e Alves são hoje a cara do lulopetismo, que apoiam num regime de trocas. Ambos candidatos foram devidamente abençoados pelo Palácio do Planalto. Em seus cargos, continuarão a ser o que já são — parte importante do esquema de poder lulopetista. Tanto é que obtiveram, por escrito, o apoio do principal guru do stalinismo lulo-petista, o hoje réu mensaleiro condenado José Dirceu.
De fato, em seu blog, sem a hipocrisia que muitos lulopetistas ostentam diante das duas figuras que presidem nossas Casas legislativas a partir de hoje, Dirceu classifica de “campanha de falso moralismo” as críticas Renan.
Ele se refere, naturalmente, à oposição e à “imprensa golpista” (com que exércitos contaria?) — mas a carapuça cabe direitinho na cabeça dos quadros lulopetistas que, hipocritamente, se horrorizam com algo que eles próprios criaram.
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