sábado, 29 de dezembro de 2012

Começou a corrida Carlos Chagas



Vale repetir o provérbio árabe: bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Adianta pouco lembrar que a sucessão presidencial está marcada para outubro de 2014, porque faltando dois dias para 2013 começar, a questão já se coloca nos partidos, no Congresso, na imprensa e nas representações da sociedade civil. Fica sozinha a presidente Dilma Rouseff, a se dar crédito ao seu comentário de que não se pensa em sucessão no meio de um mandato. Porque será humanamente impossível supor que ela também não pense, dispondo da prerrogativa constitucional da reeleição.
Sendo assim, importa buscar os contornos desse quadro já posto em exibição, mesmo sujeito a alterações nas cores e na forma.
Começando pela própria: com os índices de popularidade que detém, se permanecerem, Dilma ocupa a pole-position. É claro que em dois anos tudo pode mudar, mas se as eleições fossem hoje, ela seria vencedora. Dependendo, é óbvio de diversas condicionantes, a primeira delas de não sobrevir nenhuma crise fundamental na economia, desgastando seu governo. Outra, de ser desatado o nó que aperta o PT, de um lado sujeito às conseqüências do mensalão e similares. De outro, caso não se avolume entre os companheiros a frustração de estar no governo mas não ser governo, como há dois anos imaginaram.
Cresce no partido a tendência de que se o Lula voltar em 2014, maiores horizontes se abrirão para nova etapa do condomínio por ele praticado com o PT e suspenso pela sucessora. Apesar dos elogios ainda esta semana feitos por ela ao partido, fica claro que quem governa é ela.
Passa-se então à segunda hipótese: se o Lula topar sua candidatura, seja para garantir a vitória, seja por não suportar permanecer no banco, Dilma será a primeira a apóia-lo. Não hesitará um minuto em ceder a vez a quem a fez presidente. Apesar dos percalços que se sucedem, o ex-presidente seria imbatível, ressalvados os imponderáveis.
Do lado oposto, indicam a lógica e o bom-senso que se os tucanos rejeitarem Aécio Neves, estarão condenados a transformar-se em urubus. Não há mais espaço, no PSDB, para candidatos como José Serra, Fernando Henrique e até Geraldo Alckmin, não obstante o esforço que o grupo paulista ainda faz para evitar os mineiros.
O neto de Tancredo Neves enfrentará dificuldades profundas, a começar pela supremacia de Dilma ou do Lula, além da resistência dos caciques de seu próprio partido, mas se recuar estará confirmando o adágio de que o cavalo só passa uma vez encilhado na porta de casa. Já fala em libertar-se da sombra do conservadorismo, levantando a bandeira do desenvolvimento.
As pesquisas mais recentes fizeram justiça a Marina Silva, que nas simulações sucessórias perde apenas para Dilma Rousseff. O fato de encontrar-se sem partido é irrelevante, sempre aparecerá algum interessado nos milhões de votos que ela obteve nas eleições passadas. Estar bem mais à esquerda do PT e do governo exprime uma faca de dois gumes, mas é por aí que a ex-ministra do Meio Ambiente traçará seu roteiro.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, precisa definir-se. Seu partido, o PSB, cresceu nas eleições municipais e seu nome é cada vez mais lembrado no Nordeste, como alternativa para a disputa entre companheiros e tucanos. Hesitará entre sua lealdade ao governo Dilma e o castigo de ficar quatro anos ao sol e ao sereno. Tem idade para esperar, mas oportunidade, ninguém sabe. Há quem suponha sua aliança com Aécio Neves, sendo lançado como vice-presidente, coisa que se prestaria à denominação de “chapa dos netos”, pois Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes.
Por último, nessa relação inicial, uma incógnita. Joaquim Barbosa pode transformar-se numa lembrança meteórica, daqui a alguns meses, mas hoje estaria classificado como opção viável. Sua atuação no processo do mensalão e na presidência do Supremo Tribunal Federal representa uma lufada de esperança para quantos refugam os políticos profissionais. Melhor aguardar.
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RAIOS E APAGÕES
Com todo respeito, mas vamos discordar da presidente Dilma quando ela nega a influência dos raios na sucessão de apagões. Ainda na tarde do dia em que disse aos jornalistas credenciados no Planalto que raios não desligam o sistema de distribuição de energia, caiu um enorme, aqui em Brasília, seguido por uma trovoada para ninguém botar defeito. Apagou tudo, no Lago Sul, no Plano Piloto e adjacências. Minutos depois, a luz voltou, mas se o sistema não consegue ser apagado por raios, que diabo aconteceu?
É claro que na maioria dos apagões prevalecem as falhas humanas, como enfatizou a presidente. Seria preciso, até, investigar a coincidência das repetidas faltas de energia, às vezes atingindo metade do país, com a iniciativa do governo de baixar o preço das tarifas. Isso cheira a sabotagem, por parte das empresas que o sociólogo privatizou …

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