sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Após 27 anos preso, Cabo Bruno é solto em São Paulo Acusado de mais de 50 assassinatos, ex-policial havia sido condenado a 120 anos de prisão




SÃO PAULO - Florisvaldo de Oliveira, o Cabo Bruno, acusado de chefiar um grupo de extermínio e matar mais de 50 pessoas na periferia de São Paulo nos anos 80, está solto. Condenado a 117 anos e quatro meses de prisão, Florisvaldo de Oliveira, atualmente conhecido como Pastor Bruno, cumpriu 28 anos e deixou nesta quinta-feira o presídio de Tremembé, no interior paulista, para seguir a vida de pastor evangélico ao lado da mulher, a pastora e cantora gospel Dayse França.
— Eu não conheci o Cabo Bruno, aquele é outro homem— diz a pastora Dayse, por telefone, ao GLOBO.
Dayse conta que conheceu o marido na prisão, há sete anos, quando ele já havia se transformado em pastor evangélico. Eles casaram-se no presídio, em 2008, com a bênção de outro pastor. Agora, trabalharão juntos na igreja pentecostal "Refúgio em Cristo", de Taubaté. Bruno tem ainda outro rendimento: pinta quadros.
O casal mora a 30 quilômetros do presídio de Tremembé, em Pindamonhangaba, um trajeto que, segundo o advogado de Cabo Bruno, Fábio Ferreira Jorge, foi percorrido a pé pelo detento durante o indulto do Dia dos Pais, no início deste mês:
— Ele queria muito andar, aproveitar a liberdade.
Aquele foi o primeiro passeio de Bruno depois de 20 anos ininterruptos de detenção.
— O dia dos Pais foi ainda mais emocionante do que a chegada dele hoje (ontem) porque foi uma surpresa para todos nós— disse Dayse, que informou que o marido saiu de casa ontem para evitar o assédio da imprensa.
O advogado diz que o ex-chefe do grupo de extermínio deixou o passado para trás e quer uma vida nova:
— Ele mesmo fala que o Cabo Bruno morreu e que agora só existe o Florisvaldo.
O nome Bruno, no entanto, persiste até mesmo entre os fiéis da igreja, que o chamam de "pastor Bruno".
Florisvaldo, hoje com 53 anos, não é o único chefe de grupo de extermínio que acabou se convertendo na prisão. O ex-delegado do Dops Cláudio Guerra, que liderou o esquadrão da morte no Espírito Santo, também tornou-se líder evangélico.
O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu ao Cabo Bruno o indulto pleno, cancelando o restante da pena. Com a decisão, assinada pela juíza Marise Pinto Bourgogne de Almeida, ficam extintos os débitos pendentes com a Justiça. Em 2009, ele havia sido submetido a um exame de personalidade, feito por psiquiatra, psicólogo e assistente social. Por ter um parecer favorável, conseguiu o benefício para deixar o regime fechado e cumprir a pena em regime semiaberto. Foi o primeiro passo para a liberdade obtida ontem.
O ex-policial dizia que matava porque "odiava bandidos". Muitas execuções teriam sido feitas com base apenas na aparência das vítimas. Para ele, qualquer tatuagem indicava que a pessoa era criminosa, especialmente se fosse de algum motivo religioso.
Durante o período em que esteve preso, fugiu três vezes - a última fuga foi em 1991.
— Ele não gosta de falar do passado e afirma que está recuperado. Vários diretores do presídio elogiaram a sua conduta, o seu comportamento durante esses anos. Antes de dar o parecer, pedi declaração do diretor da unidade. E como já tinha sido feita uma avaliação em 2009, não havia necessidade de repetir o exame. Por isso, concordei com a saída dele — afirma o promotor Paulo José de Palma, responsável pelo processo do Cabo Bruno, que encaminhou um parecer favorável ao indulto para a decisão final da Vara Criminal.

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