quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ódio à mulher - por Pilar Rahola



 
Pilar Rahola já foi vice-prefeito (vice-alcadeza) de Barcelona, faz trabalhos jornalísticos e corajosamente defende os direitos humanos na Espanha e no mundo, fazendo grande crítica aos fundamentalistas. Já esteve pelo menos duas vezes em Porto Alegre.
 
Cada dia há mais mulheres em nosso país (Espanha) que passeiam embutidas em negros cárceres téxteis, muitas com apenas uma
abertura para ver o mundo, ou até sem ela.
Ontem me encontrei com uma delas no centro de Barcelona e a fiquei olhando, tentando vislumbrar a vida que latia sob este fanatismo feudal a que era relegada. Porém não pude ver nada, porque diante de mim só havia um manto negro que agredia meu olhar e me recordava que, para milhões de mulheres, o século XXI vive no século VIII.
É claro, ao seu lado estava seu macho, vestido com jeans, passeando seu troféu humano pelas ruas da Europa, muito seguro de seu domínio.
Nos olhamos rapidamente, e os desprezos mútuos se cruzaram como se fosse uma linguagem impossível.
Ele devia pensar que eu era uma libertina insubmissa, carregada de pecados, como todas as infiéis, e eu pensei que ele era um pobre desgraçado, incapaz de gozar a extraordinária força de uma mulher livre, tanto que necessitava tê-la como a uma escrava. Em algum momento pensei nos deuses negros que habitam seu cérebro fanático, e lamentei que não tivesse conhecido algum deus de luz.
 
A questão, no entanto, não é a minha anedota pessoal, cada dia vemos mais recorrentes por estas paragens em proliferação.
Onde ficou a famosa decisão de não permitir os "niqabs" em muitas cidades? Por aí estavam muitos policiais que, provavelmente, não faziam nada. E não creio que ninguém tenha feito nada em nenhum lugar deste país, perdidos na "grandiloquente", porém incapaz retórica política.
Enquanto isso o fenômeno integrista cresce subterraneamente, como se fosse uma grande mancha de azeite se alastrando sem parar. Não parece estranho, por exemplo, que em um só ano tenham sido abertas 28 mesquitas novas, segundo os dados do "Observatório Religioso do Ministério"? E isso apesar da moratória de alguns municípios. E não é de admirar que a Catalunha tenha 242 mesquitas, enquanto a Andalucia tenha 180 ou Madrid 106? E isso sem contar com as mesquitas-garagem, que não estão legalizadas, nem catalogadas.
 
Sabendo disso, não deveríamos nos perguntar porque crescem sem parar tantas mesquitas e por outro lado não se desenvolvem centros  que ensinem cultura, história, identidade, senão por outra vontade que o conhecimento?
 
Me dirão alguns que se trata de religião e temo ter que desmentí-los. Não se trata de religião. Trata-se de muito dinheiro, proveniente de ditaduras islamitas - estas tão "amigas" - que dedicam seu enorme poder financeiro a potencializar um islamismo rigoroso, medieval e antiocidental. Trata-se, pois, de tecer uma sólida rede de centros religiosos que  pegam e enganam no discurso fundamentalista a todos os cidadãos muçulmanos que estão em terra infiel.
 
É claro que nem todas as mesquitas respondem esta idéia, mas as que não fazem parte delas ficam segregadas.
E o que nós fazemos?
Ficamos caladinhos olhando para outro lado. Não seria o caso de acordarmos deste cuchilo?

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