terça-feira, 26 de junho de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Hieronimus Bosch - O Ilusionista (c.1475/1505)


Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
26.6.2012
 | 12h00m

Bosch nasceu em Hertogenbosch, Brabante do Norte, na Holanda, em c.de 1453. São poucos os detalhes conhecidos de sua vida. Seu verdadeiro nome era Jeroen van Aken e ele assinava seus trabalhos Hieronimus Bosch talvez para chamar atenção sobre a região onde nasceu, os bosques (bosch) do duque (hertog).
Em 1481, casou-se com mulher rica, sua conterrânea, e é provável que nunca tenha se afastado de sua cidade natal, onde faleceu em 1516.
Apesar de viver longe dos centros culturais, logo demonstrou um talento sem sombra de provincianismo. Tinha uma visão séria, de grande alcance intelectual, e sua ironia insolente é por vezes confundida com deboche. Era mais fácil para um homem como ele crer na maldade humana – bruxas e feiticeiros bem terrestres – do que no Castigo ou Bênção após a morte...

 

Hoje mostramos uma das obras mais conhecidas de Bosch, O Ilusionista. De acordo com registros da época, Hertogenbosch era mercado comercial em franco progresso, que atraia toda sorte de pessoas, inclusive ladrões e tratantes. Como não tinham endereço fixo e a população da cidade era muito unida, os estranhos, como o mágico aqui retratado, eram objeto de fascinação, mas também de desconfiança.
Mascates, músicos, contadores de história, e enfeitiçadores de um modo geral, estavam sempre em busca de grupos de pessoas para poder delas se aproveitarem.
No Malleus Maleficarum, manual de diagnóstico para bruxas publicado em 1487, muito usado pela Inquisição, as mulheres eram retratadas como criaturas frívolas, influenciadas pelo demônio, e ignorantes que acreditavam em todos os truques.
No entanto, na obra de Bosch, é uma autoridade municipal, que se reconhece pelo alto chapéu dos juízes dos tribunais, a mais impressionada com o ilusionista. Reclinado sobre a mesa de modo a não perder nada do truque, o homem nem percebe que está sendo aliviado de seu dinheiro. Um personagem vestido como frade dominicano, de óculos, na fila de trás, rouba-lhe a bolsa. Talvez o pintor tenha escolhido um dominicano por essa ser uma ordem ao mesmo tempo poderosa e controversa.
Os donos do mundo, na época, eram os Habsburgos e os Borgonhas. A cidade de Bosch tinha acabado de cair nas garras do que o povo acreditava ser o tirânico poder dos Habsburgos. Por extraírem um décimo da riqueza que a Igreja recebia na concessão de indulgências, os Habsburgos formaram uma poderosa aliança com os dominicanos.
Assim o pintor demonstra que vê o povo como sujeito à opressão e ao roubo por parte dos chefes religiosos e das autoridades seculares. E alerta: o mundo está cheio de farsantes e nós não devemos confiar naqueles que levam vantagens fazendo toda sorte de truques.
O uso de animais apoia a mensagem do pintor: a coruja cuja cabecinha aparece dentro de uma cesta pendurada na cintura do finório, representa a inteligência do ilusionista. Sapos pulando para fora da boca do embasbacado cidadão enchapelado representam como a ilusão anulou seu raciocínio, dando margem a uma reação animalesca.
Em 1480, mais ou menos na época da criação dessa tela, foi publicado em Hertogenbosch um provérbio flamengo que muito além de grande divulgação na região, correu o mundo: Ninguém é mais tolo que um tolo obstinado.
Talvez fosse hora de publicá-lo e divulgá-lo novamente...
Óleo sobre madeira, 53 cm × 65 cm

Acervo do Museu Municipal de St.-Germain-en-Laye, França 

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