domingo, 1 de abril de 2012

Sobre roubos, descaso e morte por falta de ética


 


Num instante em que a sociedade é incapaz de reconhecer a honestidade dos administradores públicos e estes são incapazes de demonstrá-la, o Brasil deveria pensar na adoção de um código de falta de ética. Até para ser aético é preciso ter um mínimo de ética. Assim, convém organizar o saque.
Sugestão de artigo primeiro para o novo código de aética: se roubar, não roube da saúde. Se assaltar, tente levar pouco. Se exagerar, distribua bem as mortes. Se os cadáveres forem muitos, não seja pego. Se for pilhado, mantenha a calma. Se tiver um infarto, assegure-se de dispor do melhor plano de saúde privado que o dinheiro público puder pagar.
Notícias veiculadas neste final de semana revelam que o nível ético anda tão baixo que, na saúde, a turma está esquecendo de maneirar. Soube-se, por exemplo, que aliados políticos do governo esfolam-se pelo comando dos hospitais federais do Rio.
A luta chegou ao Ministério da Saúde. Ali, um aliado de duas décadas do ministro petê Alexandre Padilha, Edson Pereira de Oliveira, deixou a pasta há três meses, em dezembro de 2011. Dizia-se que saíra por razões pessoais. Lorota.
Edson Oliveira saiu de cena de fininho porque recebera propina de R$ 200 mil. Pagou-a um grupo suspeito desviar milhões dos hospitais do Rio. Revelada a malfeitoria, o ministro saiu-se com uma velha desculpa –“Eu não sabia”— e chamou a Polícia Federal.
Noutra notícia, a platéia foi informada de um flagelo ocorrido no hospital municipal Salgado Filho, no bairro carioca do Méier. Em 2010, quase metade dos pacientes internados por mais de 24 horas na emergência virou cadáver. De um total de 854 doentes, 363 saíram do hospital para a cova.
O Ministério público investiga o descalabro. O vídeo abaixo mostra que, no Rio, a encrenca da saúde pública tem dois lados. O lado de dentro e o de fora. Muitos pacientes não conseguem nem entrar nos hospitais. Algo que, consideradas as circunstâncias, pode ser uma bênção. Talvez seja melhor morrer de falta de atendimento do que de descaso.

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