segunda-feira, 30 de abril de 2012

O GPS da vida



B
log do NOBLAT

Não tenho o menor senso de direção. Faço parte daquele grupo de pessoas para as quais o deslocamento de um lugar a outro é sempre um desafio. O Norte parece sempre mudar de lugar. Estar pedido é não somente habitual, mas também um fato inevitável da vida.
Talvez por isso, adoro o GPS do meu carro. Aquela voz feminina me explicando cada caminho e avisando a cada curva com precisão milimétrica me traz a segurança que eu chegarei a meu destino como planejado. Esta segurança provavelmente é ilusória. Sei que GPSs não são perfeitos.
Outro dia, vi no jornal a fotografia de quatro carros submersos parcialmente em um rio. Foi na Inglaterra. Os motoristas dos carros haviam conduzido seus veículos para dentro d água porque o GPS havia indicado que o rio, e não a estrada, era o caminho correto.
Sempre me perguntei como foi possível a esses motoristas seguirem as instruções do GPS apesar de elas estarem claramente erradas. Parece que eles deixaram de ouvir a sua voz interna e ignoraram as informações que o cérebro mandava baseado naquilo que os olhos viam.
Acho que todos nós temos esta voz que insiste em distinguir o que é certo do que é errado. Às vezes, estas vozes falam tão alto que a gente sente fisicamente sua presença. É aquela sensação de que tem algo fora de lugar. É aquilo que chamamos de consciência. A ética é a manifestação física desta voz interna.
Ética, como disse o Jurista inglês John Moulton, é obedecer ao que não tem punição prevista em lei.
O comportamento ético vem como resultado dos diálogos internos em que a consciência compara os fatos, as ações possíveis com os valores e decide (ou melhor, recomenda), o que é certo e o que é errado. Quase sempre, o comportamento antiético acontece quando as ações não seguem a consciência.
Decidir o certo do errado não é tarefa simples. A vida é cheia de curvas, dilemas, circunstâncias, pressões e situações. O certo não necessariamente é o obvio. O errado pode não estar evidente. Tudo isso gera ruído externo que interfere com a capacidade de ouvir a consciência. Optar pelo certo pode ter um custo ou mesmo não ter recompensa imediata aparente.
Viver é complicado, mas ignorar a voz interna é um erro. É a consciência individual a juíza das ações de cada ser humano. A ela pertence a avaliação que norteia as ações. É ela a companheira inseparável de cada um. Dela não se pode fugir. Dela não se pode esconder. Contrariá-la é condenar-se a ouvir, eternamente, os gritos de uma voz interna que não pode ser calada.

Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Emailesimoes@uvic.caEscreve aqui às segundas-feiras.

Brasília e seu quintal



Jose roberto toleto - blog do estadão
29.abril.2012 18:39:16


Que o Distrito Federal é uma ilha da fantasia, sempre se desconfiou. Mas os “Resultados gerais da amostra do Censo 2010″, divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, transformam a suspeita em constatação oficial. O rendimento médio nominal dos domicílios brasilienses é mais do que o dobro do Brasil. A renda média de Brasília é R$ 5.663. A do Brasil, R$ 2.653.
A desproporção da riqueza da capital brasileira é um caso único, não importa a referência. Em comparação a São Paulo, cujos moradores estão em segundo lugar no ranking de renda do país, o Distrito Federal tem um rendimento médio 63% maior -com a diferença de que Brasília só produz leis, decretos e sentenças. Pior, a renda dos brasilienses é, em média, quase três vezes maior do que a dos maranhenses, donos do rendimento mais baixo do Brasil.
Essa disparidade da riqueza dos moradores da capital federal em relação ao resto do país é incomparável em termos internacionais. Distrito federal norte-americano, Washington DC também foi fundado para ser capital da República e ocupa uma área restrita. Sua renda domiciliar é 13% maior do que a dos Estados Unidos. No Brasil, a desproporção é de 113%. Por comparação, Brasília tem 100 pontos porcentuais de renda a mais do que o país que a circunda. Quais as razões de tanto exotismo?
O principal motivo é que em Brasília os funcionários mais bem remunerados definem seus próprios salários. E estes servem de referência para quem está abaixo na hierarquia funcional. Essa regra provoca uma -digamos- cachoeira para o resto do funcionalismo. Como os servidores do topo da carreira de cada Poder são generosos com sua própria remuneração, o efeito riqueza se espalha para boa parte dos domicílios brasilienses.
Tanto é assim que o valor dos imóveis na capital varia em função da política salarial do governo de plantão. Quando o funcionalismo tem seus rendimentos reajustados, os preços das casas e apartamentos sobem junto.
Alguém pode argumentar que é injusto comparar uma cidade-estado, como Brasília, com as demais unidades da Federação, que têm  áreas muito maiores e disparidades regionais muito mais acentuadas. Pois consideradas apenas as cidades brasileiras e os salários de quem tem emprego formal, Brasília fica em 5º lugar entre 5.565 municípios. Só perde para quatro cidades onde unidades da Petrobras, a maior empresa estatal, são responsáveis por grande parte dos empregos.
A segunda razão para Brasília ter uma renda média tão mais alta do que o resto do país é que a capital federal exportou seus pobres. Eles vivem no chamado entorno brasiliense, em cidades como Águas Lindas de Goiás. O salário médio dos brasilenses é 3 vezes e meia maior do que o dos vizinhos goianos menos afortunados. Isso faz a média brasiliense se elevar, pois não computa a base de sua própria pirâmide econômica. 
É uma síntese do comportamento do centro do poder no Brasil: pega e paga o que quer, e descarta o resto no quintal do vizinho.

Relatório: o Irã busca tecnologia para censurar a Internet, desconectando-a da rede global.


BLOG DO OSIAS WURMAN
Por: Tal Pavel

O ministro da Informação iraniano diz que intenção não é desconectar-se da World Wide Web, mas para a criação de duas redes separadas, e por isso procuram ajuda externa para a criação de uma Internet mais regulada e restrita. De acordo com relatório publicado no site da Ars Technica, seria um documento em língua persa para grupos e universidades com conhecimento na área de "limpeza ou purificação" da Internet.

No início deste mês o Ministério da Informação do Irã anunciou que a República Islâmica planejava separar-se da rede de Internet global, para criar uma "Internet limpa" no próximo mês de agosto.

"Atualmente a questão da limpeza Internet está sendo feita através da filtragem nos gateways de Internet do nosso país, que já inclusive já tem o seu próprio conjunto de problemas", afirmou o documento; de acordo com Ars Furthermore, a Ars Technica disse que "o documento parece ser o último passo para que os funcionários do governo iraniano já estão chamando de "Internet Halal". O governo ainda não clarificou exatamente o que isso significa, as capacidades técnicas nem quando terá inicio".

Ao mesmo tempo na quinta-feira o ministro da Informação do Irã negou os relatos de que o país estaria procurando se desconectar da World Wide Web em um futuro próximo, acrescentando no entanto que a intenção é a criação de duas redes distintas - uma ligada à rede internacional, e outra web exclusivamente interna ao país.
Falando para o site, o especialista em segurança Collin Anderson, que localizou o documento, disse acreditar que a sua divulgação "demonstra que o governo iraniano não tem a intenção de em breve cortar [todo] acesso à Internet externa", indicando que isto "possa significar que o governo não conseguiu adquirir os serviços de empresas estrangeiras para o planejamento e otimização da infraestrutura para este objetivo".

O Irã como outros regimes totalitários no passado já utilizaram os serviços de empresas estrangeiras para a censura através do bloqueio e a espionagem dos usuários. Já houve uma ação judicial contra a Nokia Siemens, sob a acusação que a tecnologia da empresa vendida para o Irã ajudou na formação de um regime de censura e uma rede de vigilância. Este processo, aberto em 2010, afirma que a tecnologia vendida permitiu o rastreamento do telefone da Isa Saharkhiz, jornalista e dissidente que foi presa pelo regime.

Em 2011 houve relatos de que o Irã adquiriu equipamentos da empresa israelense Allot Comunications que melhorou o desempenho da Internet e também a capacidade de distinguir entre os tipos de tráfego e inclusive podendo limitar certos tipos de tráfego, como o compartilhamento de arquivos ou protocolos de comunicação diferentes. De acordo com uma reportagem da Bloomberg, a empresa israelense transferiu os equipamentos através de uma empresa dinamarquesa chamada Rantek. Os gerentes da empresa negaram as acusações que isto tivesse sido feito conscientemente, mas a Bloomberg afirmou, perguntando a ex-funcionários, que na verdade a gerência tinha pleno conhecimento.


Mídia de Ghetto

Ainda de acordo com o ministro da Informação, a iniciativa teve início no ano novo persa, que começou em 20 de março, através de um processo que será realizado durante várias fases. No início, os sites internacionais serão bloqueados, e na fase final em agosto deste ano todos os prestadores de serviços de Internet locais serão agrupados em único servidor fechado, quando então o Irã estaria planejando desconectar a Internet nacional da Internet internacional e desta forma impedir o acesso aos sites estrangeiros. Relatórios sobre estes planos para limitar a Internet iraniana começaram a aparecer na mídia em maio de 2011.

Segundo o ministro "as várias organizações governamentais já se conectam com a Internet nacional dos seus escritórios, e muitas escolas usam essa rede". Ele acrescentou que a rede iraniana de Internet ainda não foi apresentada a um público mais amplo de usuários de internet no país. Ele estima que dentro de dois a três anos a rede estará consolidada na sua forma final.

Porém o estabelecimento deste tipo de Internet irá impedir a criação, recebimento e transferência de informações de dentro ou de fora do Irã. Da mesma forma irá impedir a comunicação direta entre os usuários da Internet no Irã e o exterior, incluindo Israel.

Esta iniciativa iraniana é um mais um elo na longa cadeia de tentativas do regime para recuperar o controle sobre os meios de comunicação e para subjugar as novas mídias por um regime central, da mesma forma que a mídia "velha" está sendo controlada. Assim, o Irã efetivamente está formando um "gueto da mídia", parecido com o que existia antes do surgimento da Internet.Também terá o propósito de exportar a revolução on-line para outros países ao redor do mundo.

Dr. Tal Pavel tem doutorado sobre o Oriente Médio e é especialista em Internet e a Tecnologia no Oriente Médio e o mundo islâmico. Ele leciona na Escola de Comunicações do Colégio Acadêmico Netanya.

Brasileiro recria Bíblia ao estilo de HQs de super-heróis


30/04/2012 - 09h00


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MARCO AURÉLIO CANÔNICO - Estadão
DO RIO

Histórias em quadrinhos e religião andam juntas na vida do pernambucano Sergio Cariello, 48, desde a infância, quando ele desenhava no boletim da Igreja Presbiteriana que frequentava no Recife.
Essa duas forças motrizes --responsáveis também por sua ida para os Estados Unidos, onde vive desde 1985 e desenha para editoras como Marvel e DC-- se encontram na "Bíblia em Ação", adaptação em quadrinhos do livro sagrado, que Cariello autografa no Brasil nesta semana.
A volumosa HQ (752 páginas), publicada nos EUA em 2010 e com mais de 350 mil exemplares vendidos, segundo o desenhista, usa o estilo visual e narrativo dos gibis de super-heróis para contar a história da humanidade, a partir de textos bíblicos.
"A 'Bíblia em Ação' entretém, mostra a ação como uma HQ normal faria", diz ele.
Divulgação
Detalhe da "A Bíblia em ação", adaptação em HQ do texto sagrado, ilustrada por brasileiro
Detalhe da "A Bíblia em ação", adaptação em HQ do texto sagrado, ilustrada por brasileiro
Tendo desenhado personagens célebres como Batman, Wolverine e o Cavaleiro Solitário ("Lone Ranger", pelo qual foi indicado ao prêmio Eisner, o Oscar das HQs, em 2007), o brasileiro diz ter levado para sua adaptação bíblica o "dinamismo no jeito de desenhar, nos ângulos".
"Ilustrei Jesus de forma mais rude, mais apto para as tarefas do dia a dia, como ser carpinteiro. Ele tem as mãos grossas, músculos, parece mais um herói do que uma figura angelical, delicada."
Cariello lembra que não faltam boas histórias de heroísmo e personagens com poderes sobrenaturais na Bíblia e que, com certa licença poética, é possível fazer paralelos com ícones das HQs. "O Sansão, por exemplo, está mais para o Wolverine, porque pecou, errou. Mas foi usado por Deus de uma maneira bem significante."
Seu livro, porém, não tem a violência ou a sexualidade das HQs --é "para a família".
Cariello autografa a "Bíblia em Ação" no próximo sábado, às 17h, na Feira Literária Internacional Cristã (flic2012.com.br) e dará aulas em São Paulo (dia 4/5) e no Rio (6/5), na Impacto Quadrinhos (impactoquadrinhos.com.br ).

Juízes querem 'investigação geral' no Tribunal de Justiça de SP


Grupo de desembargadores sob inspeção quer que apurações sejam estendidas a todos

29 de abril de 2012 | 22h 31
Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Desembargadores sob inspeção da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo não aceitam ser os únicos nessa condição. Eles avaliam que os créditos concedidos antecipadamente a todos os magistrados, não importando os valores a eles destinados, também devem ser apurados. Os desembargadores invocam o princípio da isonomia.
O TJ dividiu em três os grupos de beneficiários. Um bloco de cinco magistrados que receberam acima de R$ 600 mil. Outro, de 41 juízes e desembargadores, que ganharam mais de R$ 100 mil. E uma terceira ala, de quase 200 magistrados, contemplados com quantias que oscilam entre R$ 10 mil e R$ 50 mil - estes não foram incluídos na investigação.
"Causa espécie a redução, no atinente aos esclarecimentos requisitados, ao conjunto dos beneficiários de adiantamentos superiores a R$ 100 mil", adverte o desembargador Tarcísio Ferreira Vianna Cotrim, que integrou a Comissão de Orçamento e Finanças da corte e recebeu R$ 631,6 mil de créditos antecipadamente, por férias e licença prêmio acumuladas.
Ao baixar a portaria 01/2012, em 5 de janeiro, o presidente do TJ, desembargador Ivan Sartori, alegou "necessidade de se apurar se os pagamentos dessas indenizações observaram os princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade".
"Diante da adoção, por essa presidência, do piso de R$ 100 mil referente ao valor do eventual adiantamento para, apenas a partir dele serem instaurados os procedimentos apuratórios, o signatário não contém a sua estranheza", protesta Vianna Cotrim, em sua defesa preliminar.
O desembargador é contundente. "Se a preocupação dessa douta presidência é prestigiar os princípios da isonomia, da moralidade e da impessoalidade, por qual motivo tão só infringiriam esses princípios as antecipações superiores a determinada quantia, sendo portanto isonômicos e impessoais os adiantamentos que não chegassem aos R$ 100 mil?"
Categórico, Vianna Cotrim afirma que "é credor de verbas estatais que lhes são devidas". Em sua defesa, ele diz que não se oporá à compensação das antecipações que recebeu, "conquanto observado que referidos descontos se estendam a todos quantos, independentemente das cifras recebidas, hajam sido destinatários finais dos mencionados adiantamentos".
Legalidade. Um ponto em comum marca a defesa dos magistrados cujos pagamentos estão sob inspeção: eles consideram inquestionável a legalidade dos pagamentos de que foram merecedores. "Tais desembolsos antecipados jamais tiveram normatização escrita", afirma Alceu Penteado Navarro, presidente do Tribunal Regional Eleitoral, que dirigiu a Comissão de Orçamento do TJ e recebeu R$ 640,3 mil.
Navarro pondera que "jamais postulou, escrita ou verbalmente, as antecipações que recebeu". "Esses adiantamentos decorreram de ordens explícitas da presidência, ainda que o critério determinante não tivesse sido sugerido ou instituído pelo signatário, ou por qualquer membro da Comissão de Orçamento, voltando-se principalmente a satisfazer necessidades inadiáveis e urgentes do beneficiado, inclusive de natureza médica, física e psíquica, do magistrado então favorecido, ou de seus familiares próximos." 

A casa do futuro é verde


Responsável por 40% do consumo de energia no mundo, padrão de edificação atual é insustentável. A boa notícia: tecnologia já está disponível e não há perda de conforto. Falta o mercado se adaptar

Cecília Ritto e João Marcello Erthal, de 

Divulgação
Condomínio Pedro do Rio, em Petrópolis
Condomínio em Petrópolis: busca de certificação verde
São Paulo - Em uma área verde a duas horas do Rio de Janeiro começa a ganhar forma o que pode ser a casa do futuro. A água dos chuveiros e torneiras será reaproveitada para a descarga dos banheiros, e o esgoto passará por tratamento nas instalações de cada uma das oito residências do condomínio, na região de Pedro do Rio, distrito de Petrópolis.
O planejamento de iluminação, com amplas janelas e luzes de led de baixo consumo, deve reduzir a conta de energia elétrica em até 30%. O aquecimento de água é feito com placas solares. Apesar do padrão sofisticado, não há previsão de ar-condicionado. Em vez disso, há um telhado com cobertura vegetal, que reduz em 30% a variação de temperatura em relação ao ambiente externo. A primeira casa está em construção, e os preços começam em 1,1 milhão de reais.

O projeto, uma exceção nos padrões brasileiros, segue regras que já vigoraram na Europa e nos Estados Unidos, onde há cerca de 200.000 construções com o selo Breeam (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), considerada a mais rigorosa certificação em matéria de exigências ambientais.

O condomínio Movimento Terras foi pensado para ser uma casa de campo de luxo. Mas morar e construir de forma “sustentável” caminha para ser o padrão em um futuro próximo. “Há quem pense que uma casa sustentável é algo de garrafas pet. Definitivamente, não é o caso”, diz o arquiteto Sérgio Conde Caldas, que coordenou os projetos do empreendimento.
O modo de vida em um mundo mais preocupado com o meio ambiente passa, necessariamente, por transformações na forma de morar e fazer casas. O padrão de edificação nos dias de hoje é algo altamente poluente – ou, para usar a palavra do momento, insustentável.
Prédios comerciais e residenciais são responsáveis por 40% do consumo anual de energia do mundo, por um terço dos recursos naturais consumidos pela sociedade – incluídos na conta 12% de toda a água potável da terra – e por 40% do lixo sólido. Os recursos são consumidos de forma inadequada na construção e ao longo da vida útil dos imóveis, com o alto consumo de energia para climatização, iluminação e aquecimento de água.
A mudança no padrão mundial de edificação é uma recomendação da ONU para que o planeta ponha em prática a "economia verde", que estará em debate durante a Rio+20, em junho. De forma geral, conhecimento, técnicas e materiais para que casas e edifícios sejam ambientalmente mais adequados são conhecidos. Mas as experiências nesse sentido ainda são limitadas.
No Brasil, o conjunto habitacional Rubens Lara, em Cubatão, é considerado um exemplo de construção ‘verde’. No lugar de madeira, esquadrias metálicas; em vez de eletricidade para esquentar a água, energia solar. As medições de gás, energia e água são individuais – o que estimula cada família a controlar melhor o seu consumo.
As 1.840 unidades do Rubens Lara fazem parte do projeto do governo paulista que prevê a remoção de 7.760 famílias moradoras de áreas irregulares do parque Serra do Mar. O Rubens Lara foi reconhecido pelo programa Iniciativa de Habitação Social Sustentável (Sushi), que faz parte do programa da ONU para o meio ambiente.

O estado de São Paulo tem investido na construção de casas ambientalmente corretas desde o governo passado. “As moradias têm inovações que passam pelo aquecimento solar, pé direito com cerca de 2,60 m (os convencionais têm 2,40), janelas maiores para ajudar a ventilar e iluminar”, explica o secretário estadual de Habitação de São Paulo, Silvio Torres.

Com as mudanças, afirma Torres, houve redução de 30% no consumo de energia nessas residências. De 2009 a 2012, foram construídas 60 mil unidades habitacionais verdes bancadas pelo estado.
Como trata-se de exceção, a construção de um edifício sustentável hoje ainda é cerca de 10% mais cara. Os benefícios vêm depois, com os gastos menores nas contas de consumo e na manutenção. O presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Marcelo Takaoko, enxerga benefícios além da economia.
O investimento nessa tendência de construção, afirma, facilita a manutenção, reduz a incidência de doenças e estimula a família no emprego e na escola. “Se você entrega uma casa com sistemas mais práticos, até nos materiais de limpeza há economia. A tendência mundial hoje é aumentar as moradias. Em uma casa com padrões mínimos de conforto, fácil de manter e limpar, as famílias produzem mais, crianças aprendem melhor”, acredita.
Ainda são poucas as edificações brasileiras com certificados de sustentabilidade. O selo LEED, um dos mais conhecidos, foi dado a apenas 500 prédios no país. Márcio Santa Rosa, engenheiro e coordenador da pós-graduação Economia e Gestão da Sustentabilidade na Construção Civil, da UFRJ, que também é gerente do plano de sustentabilidade do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016, calcula que metade desses “comprovantes verdes” esteja em São Paulo.
“É difícil popularizar porque há um custo. Mas as classes média e alta estão tendo maior aceitação hoje. Em parte, por uma expansão da consciência ecológica, mas também porque chegam ao mercado produtos ‘verdes’ com maior qualidade. Em São Paulo, há mais prédios com certificação porque há uma expansão da construção para a classe A e pela existência de muitas multinacionais que querem manter o padrão usado lá fora”, explica Santa Rosa.

Ainda assim, no Brasil, somente 1% das construções de médio e alto padrão têm selo de sustentabilidade. Nos EUA e na Europa, isso representa cerca de 15% do mercado imobiliário. Aproximadamente 500 edificações brasileiras estão na fila para reivindicar o selo Leed, o que demora dois anos para ser expedido.

No Rio, em 2007, havia apenas dois prédios com certificação. Chicago, que competia com o Rio para sediar as Olimpíadas de 2016, tinha mais de 600. O Comitê Olímpico Internacional (COI) exige construções verdes. Tanto que, em Londres, uma das técnicas usadas no Parque Olímpico foi a colocação de telhados verdes, que reduzem a temperatura em até três graus.

De volta à realidade brasileira, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Enquanto na cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016 ainda vigora uma lei que obriga os novos prédios a terem quarto de empregada, na Europa de forma geral uma habitação reformada ou nova só pode ser erguida ou modificada se tiver padrões mínimos de eficiência, sobretudo energéticos. Caso contrário, a prefeitura não dá autorização para habitar.

A proposta da ONU para as edificações ‘verdes’ começa pelo poder público. As recomendações das Nações Unidas são para que prédios públicos, como hospitais e grandes edifícios, sejam o ponto de partida para uma mudança de padrão. Afinal, é preciso criar escala para que produtos e normas ambientalmente corretas sejam também rentáveis.
Enquanto a indústria não faz a virada, a preocupação ambiental se mantém no campo das exceções. As oito casas do condomínio Movimento Terras foram projetadas desde o início de acordo com preceitos de interferência mínima no meio ambiente. Isso significa, por exemplo, construir com mínima interferência no terreno, considerando para o empreendimento o movimento dos ventos e todo o ambiente ao redor – exigências para a certificação Breeam.

Conde Caldas explica que, desde o início, a ideia foi construir de forma sustentável, mas tendo o conforto como um diferencial. “Não queríamos construir de forma artesanal. Procuramos os fornecedores e conseguimos envolver os fabricantes no projeto. O objetivo não é fazer uma vez diferente e isso se perder. Queremos desenvolver conhecimento e estabelecer um novo padrão de construção”, explica o arquiteto.

O conforto térmico permitiu eliminar o ar-condicionado. “Se o comprador quiser, pode até instalar, mas não previ isso no projeto, de propósito”, diz Conde Caldas. A água da chuva é captada no telhado para reaproveitamento no jardim, sem tratamento. Já a água “cinza”, ou seja, usada nos chuveiros e torneiras, é reaproveitada na descarga, depois de tratamento.
Cada casa tem uma pequena estação de tratamento de esgoto (ETE). A previsão é de que a economia de água e energia nas unidades do Movimento Terras seja de 30%. Todo o aço usado é reciclado, as madeiras e outros materiais têm comprovação de origem. 

O mercado de construção tem itens que permitem, mesmo em uma reforma, reduzir o consumo e o impacto ambiental de uma casa ou apartamento normal. Entre eles, estão as válvulas de descarga com dois níveis de acionamento, lâmpadas de led, painéis de aquecimento solar e janelas com vidros que reduzem o aquecimento causado pela luz solar, sem escurecer tanto o ambiente.

“O diferencial ambiental é um argumento a mais para a venda, mas ainda não é algo que motive isoladamente a compra. Mas o que percebemos é que faltam alguns passos para que a cultura de construções ambientalmente corretas se consolide no Brasil”, avalia Patrícia Judice, que gerencia as vendas do empreendimento.



domingo, 29 de abril de 2012

Como a organização de Carlinhos Cachoeira aproveitou-se do prestígio do senador Demóstenes Torres para tentar influenciar decisões judiciais


O homem de Cachoeira na Justiça


ANDREI MEIRELES, MURILO RAMOS E MARCELO ROCHA - Revista Época
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ALIADOS O senador Demóstenes Torres (acima, à esq.) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Eles discutiram formas de  conseguir decisões favoráveis na Justiça (Foto: Dida Sampaio/AE e Bruno Stuckert/Folhapress)

A organização criminosa comandada pelo bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ficou conhecida até agora por sua atuação em jogos ilegais, corrupção de agentes públicos e políticos e contrabando. A intensa atividade fica clara no extenso material obtido pela polícia na investigação que resultou na Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Gravações obtidas por ÉPOCA mostram, agora, uma nova faceta da atuação da turma. Para isso, a organização aproveitou-se da projeção e da boa imagem sustentada até então por seu integrante mais conhecido, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O objetivo era tentar influenciar decisões do Sistema Judiciário.
Em fevereiro do ano passado, a Polícia Federal (PF) prendeu 19 policiais militares em Goiás durante a operação Sexto Mandamento – na Bíblia, “Não matarás” é o sexto dos dez mandamentos. De acordo com a investigação da PF, os policiais faziam parte de um grupo de extermínio acusado de matar inclusive crianças, adolescentes e mulheres sem envolvimento com práticas criminosas. Alguns assassinatos foram cometidos no horário de expediente dos policiais. Os suspeitos foram levados para o presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
DOIS AMBIENTES A CPMI do Cachoeira no Senado (no alto) e o presídio de Campo Grande (acima). Cachoeira e Demóstenes discutiram como livrar policiais do presídio. Na CPMI, Cachoeira será a principal estrela, ao lado da empreiteira Delta (Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado e Dida Sampaio/AE)
Dias depois, em 3 de março, a situação dos policiais foi tema de uma das centenas de conversas entre Cachoeira e Demóstenes. Cachoeira pede a Demóstenes que converse com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), para tentar transferir os policiais para um presídio goiano. As gravações mostram que o senador da República orientou o bicheiro no procedimento para ajudar os PMs acusados de assassinato.
“Eu tava com o Ronald hoje (...) o Estado interceder através do Ronald para puxar esse pessoal pra cá pra cumprir aqui”, diz Cachoeira. “Ronald” é Ronald Bicca, procurador-geral de Goiás na ocasião. Com seu conhecimento e experiência no Judiciário, Demóstenes – ex-procurador-geral do Ministério Público (MP) de Goiás e ex-secretário da Segurança do Estado – afirma que Bicca precisaria concordar com o pedido de remoção dos presos para que ele pudesse ser levado adiante. E diz a Cachoeira que seria mais eficaz atuar no MP. “Eu já falei com a turma para dar o parecer favorável. Fica tranquilo”, diz Demóstenes. Cachoeira pergunta quando aconteceria isso. Demóstenes diz que quando “assumir o moço”.
Oito dias após o diálogo, Benedito Torres, irmão de Demóstenes, assumiu a Procuradoria-Geral do MP de Goiás. Benedito afirmou a ÉPOCA que “não daria abertura a esse tipo de tratativa”. O MP afirma que “todos os pareceres da instituição foram contrários à aventada transferência”. O governador Perillo diz que jamais recebeu pedidos de Demóstenes para interceder em favor dos acusados. “O governador jamais permitiria sequer ser abordado para tal propósito”, disse Perillo em nota. O ex-procurador-geral Bicca disse que não foi procurado por Cachoeira ou por Demóstenes. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirma que o senador Demóstenes Torres não vai comentar as acusações porque considera as gravações da Polícia Federal ilegais. A Justiça autorizou, em junho, a transferência de 15 presos para o Centro de Custódia da Polícia Militar, em Goiânia. Mais de um ano depois da prisão, apenas um dos acusados continua preso. Os outros exercem atividades administrativas na PM.
Não há, na investigação da PF, nenhuma referência a ligações da organização de Cachoeira com mortes. Ele tinha especial interesse na Polícia Militar (PM) por razões práticas. Entre os milhares de conversas captadas pela PF, há muitos diálogos de Cachoeira e de seus auxiliares com policiais civis e militares que faziam vista grossa a seus negócios ilícitos. Cachoeira usava sua influência política para nomear delegados e oficiais da PM para cargos estratégicos. A investigação da PF mostra que ele pagava propina para policiais. Ao todo, 28 policiais militares, sete civis e outros sete federais são apontados como membros da organização. Assim, Cachoeira assegurava proteção a seu império da jogatina em Goiás e na periferia de Brasília.
Desde a prisão de Cachoeira, em 29 de fevereiro, como parte da Operação Monte Carlo, ficou claro como Demóstenes conciliava sua atuação de político probo, com imagem respeitável, ao trabalho de membro destacado de uma organização criminosa, com ramificações no jogo ilegal, contrabando, evasão de divisas e corrupção de agentes públicos. O lançamento de suspeitas tão fortes, com evidências tão claras como as levantadas pela PF, tem o poder de mudar a percepção pública sobre uma pessoa. Há políticos que, por ser alvos frequentes de acusações, nem se abalam com novas denúncias. O caso de Demóstenes é totalmente distinto. Até o início de março, ele era um parlamentar de prestígio. Chegara à política graças à atuação como promotor e secretário de Segurança de Goiás. Em nove anos como senador, construiu uma sólida imagem de inimigo da corrupção, campeão de projetos de endurecimento de leis de combate ao crime e pela atuação em temas constitucionais. Em 2010, foi o relator da Lei da Ficha Limpa, uma iniciativa que vai dificultar a sobrevivência de políticos com problemas com a lei.
mensagem 728 (Foto: reprodução)
Demóstenes foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, uma das mais importantes da Casa. É a CCJ que sabatina e aprova (ou rejeita) magistrados indicados pela Presidência da República para ocupar vagas no Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Superior Tribunal Militar (STM) e para o cargo de procurador-geral da República. A posição abriu portas para Demóstenes nos mais altos escalões do Judiciário. Ele passou a ser um dos parlamentares de maior prestígio entre juízes e ministros de tribunais superiores. Passou a frequentar seus gabinetes para discutir questões constitucionais e federativas. Como membro da comissão de Orçamento, Demóstenes dedicou especial atenção às verbas destinadas ao Judiciário. Tornou-se o principal interlocutor do Ministério Público Federal (MPF) na comissão e brigava para destinar recursos ao MPF.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, foi um dos magistrados que mantiveram relacionamento próximo com Demóstenes. Eles se conheceram há cerca de dez anos. Gilmar e Demóstenes discutiram várias vezes temas relacionados ao Judiciário. Um deles foi uma Proposta de Emenda Constitucional para reforçar o papel da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Encontraram-se algumas vezes também em eventos sociais. “Até o dia em que vieram a público os fatos em torno do senador Demóstenes, autoridades públicas se relacionavam com naturalidade com o referido senador”, afirmou o ministro Gilmar Mendes em nota. “Até então o senador era credor da respeitabilidade de que desfrutava”. Recentemente, antes do conhecimento público dos relacionamentos paralelos de Demóstenes, o ministro César Asfor Rocha, do STJ, foi homenageado num jantar na casa de Gilmar. Entre os convidados de Asfor estava Demóstenes.
A boa fama e os relacionamentos de Demóstenes com pessoas influentes no Judiciário, sabe-se agora, eram vistos como um bem precioso por Cachoeira. Num diálogo de quatro minutos, no dia 16 de agosto do ano passado, Cachoeira e Demóstenes falam sobre a queda de Wagner Rossi (PMDB) do Ministério da Agricultura, sobre o ex-ministro José Dirceu (PT), até chegar à Companhia Energética de Goiás (Celg). Na conversa, Demóstenes comemora com Cachoeira uma decisão do ministro Gilmar Mendes, considerada favorável à Celg. “Conseguimos puxar aqui para o Supremo uma ação da Celg aí. Viu?”, diz Demóstenes. “O Gilmar mandou buscar, deu repercussão geral pro trem aí.”
NOVA DENÚNCIA O governador de Goiás, Marconi Perillo. Alvo de suspeitas por ligações com Cachoeira e de receber propina, ele pediu para ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
No dia anterior, o ministro Gilmar decidira que o STF era o órgão competente para julgar uma disputa em que a Celg reclama indenização de R$ 1,2 bilhão da União, da Eletrobras e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O processo estava na Justiça Federal de Goiás, mas advogados da Celg recorreram ao Supremo por entender que o tribunal era o foro adequado. Gilmar aceitou os argumentos da Celg. “Há patente conflito federativo”, afirma Gilmar em sua decisão. Ele afirmou a ÉPOCA que seguiu a jurisprudência do Supremo e que não foi procurado por Demóstenes para tratar do assunto. Não há sinais de que as investidas de Demóstenes nos tribunais superiores tenham dado qualquer tipo de resultado. Mas a investigação da PF deixa claro que ele tentava usar seu prestígio no Judiciário para tentar favorecer os interesses da quadrilha de Cachoeira.
A sofisticação dos relacionamentos de Demóstenes se espelhava também por seus gostos pessoais. Demóstenes é conhecido no Congresso como um grande apreciador de vinhos e dono de uma admirada adega. As gravações da Operação Monte Carlo revelam que Demóstenes compartilhava o gosto por vinhos caros com Cachoeira. Num dos diálogos interceptados pela PF, Gleyb Ferreira, um dos auxiliares de Cachoeira, informa a Demóstenes os preços de cinco garrafas de vinho: duas, de determinado tipo, custavam US$ 2.950 cada uma; as outras três, de outro tipo, sairiam por US$ 2.750 cada uma. Demóstenes autorizou a compra e pediu para debitar no cartão do “amigo deles”. No dia 16 de agosto, Gleyb comenta com Geovani, outro comparsa de Cachoeira, que Demóstenes autorizara a compra de cinco garrafas e que cada uma delas custava R$ 30 mil no Brasil. Em outra conversa, Cachoeira testa os conhecimentos de Demóstenes na área, ao dizer que tomava o vinho “Purple Angel”. “Você conhece?”, diz Cachoeira. Demóstenes afirma: “É um vinho com rótulo meio azulado”. O Purple Angel é um vinho chileno, produzido com uvas carmenère.

Na semana passada, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará Cachoeira e suas ramificações iniciou seus trabalhos. Além de Cachoeira e Demóstenes, um dos principais alvos de disputa será a construtora Delta. Na semana passada, a empreiteira perdeu contratos com a Petrobras. O governador de Goiás, Marconi Perillo, decidiu não esperar ser envolvido na CPI. Pediu para ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, após o site do jornalista Mino Pedrosa ter divulgado que um enviado de Cachoeira entregara um pacote com R$ 500 mil a Perillo no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. “É uma denúncia irresponsável, leviana, inverídica e despropositada”, diz Perillo. Outro governador investigado por envolvimento com Cachoeira é Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
As gravações revelam que Demóstenes e Cachoeira trocavam impressões sobre vinhos caros 
Em paralelo à CPI, Demóstenes enfrentará um processo no Conselho de Ética do Senado. Sua cassação é dada como certa. O relator da matéria, o senador Humberto Costa (PT-PE), diz que não usará as gravações da PF. Costa quer blindar seu relatório das investidas dos advogados de Demóstenes, que tentam anular, na Justiça, a validade das gravações da PF. Se elas forem a base da acusação do Conselho, Demóstenes pode escapar. Os senadores planejam cassar Demóstenes por quebra de decoro parlamentar. Em seu discurso na tribuna do Senado, ele disse que era apenas amigo de Cachoeira. A realidade mostra o contrário.
Na semana passada, Demóstenes passou rapidamente pelo plenário do Senado. Como acontece desde o início do escândalo, foram momentos constrangedores. Apesar das disputas políticas inflamadas, o plenário é, em geral, um ambiente de camaradagem entre iguais. Os senadores se cumprimentam, se abraçam e conversam animadamente. Quando algum é fulminado por um escândalo, e não conta com apoio político forte, cai num limbo. No tempo que Demóstenes passou no plenário, poucos o cumprimentaram. Alguns evitaram fazer isso, com receio dos olhares indiscretos das câmeras. O prestígio e a imagem respeitável que Demóstenes Torres desfrutava esvaneceram-se.
Ouça os áudios das conversas entre Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres  
3 de março de 2011 - “Já falei com a turma para dar o parecer favorável”
Carlinhos Cachoeira e Demóstenes combinam providências para transferir PMs de Goiás, acusados de participação em grupo de extermínio, da penitenciária federal de Mato Grosso do Sul para um presídio em Goiás.
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16 de agosto de 2011 - “Conseguimos puxar aqui para o Supremo uma ação da Celg”
Demóstenes e Cachoeira comemoram a decisão do ministro do STF Gilmar Mendes de transferir da Justiça Federal de Goiás para o Supremo uma ação de litígio entre a Celg – estatal de energia de Goiás – e o governo federal, um processo que envolve valores bilionários.