sexta-feira, 30 de março de 2012

Briga no divã (filme sobre Jung X Freud)


Filme desvenda as neuroses dos psicanalistas Freud e Jung e mostra por que os dois romperam no advento da psicanálise

Laura Daudén
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DISCÍPULO E MESTRE
Jung (Michael Fassbender) e Freud (Viggo Mortensen): parceria conflituosa
Sempre polêmico, o diretor canadense David Cronenberg dá uma pausa na sequência de filmes sobre a moral dos dias de hoje e mergulha numa trama de época voltada para um momento emblemático da cultura: o rompimento entre Sigmund Freud e Carl Jung, tidos como dois pilares da fundação da Escola Psicanalítica. No drama “Um Método Perigoso” (em cartaz na sexta-feira 30), Freud e Jung (interpretados por Michael Fassbender e Viggo Mortensen) tornam-se rivais em decorrência do entendimento de cada um deles sobre o inconsciente, conceito-chave da psicanálise que buscava ser reconhecida como a “ciência da alma” (psique) humana. 

A briga entre os dois psicanalistas não se deu apenas no plano das ideias. O pivô da separação foi uma paciente vítima da violência do pai e emparedada emocionalmente pelo prazer que o espancamento lhe provocava. Seu nome era Sabina Spielrein (Keira Knightley) e seu tratamento ficou a cargo de Jung, à época longe da influência de Freud. No decorrer da terapia, na Suíça, ela se revela uma mulher de excepcional inteligência. Do ponto de vista do médico, no entanto, funcionou como uma Lilith disposta a desestabilizar as certezas de sua vida burguesa. Apesar de sucumbir em sua tentativa de autocontrole sexual, Jung desafiou os princípios da emergente psicanálise que condena as relações entre analistas e pacientes: se envolveu amorosamente com ela.

Na outra ponta do triângulo está Freud, apresentado como um homem inseguro e preconceituoso. Atormentado por fantasmas, ele vê em Jung um continuador de seu legado, tarefa que se mostra impossível dadas as discordâncias teóricas entre os dois. A ruptura ocorre quando Sabina deixa a Suíça para integrar o movimento psicanalítico de Freud em Viena, Áustria. O discípulo vive, então, o que o mestre definiu como “complexo de Édipo”, em referência à tragédia grega. E passa a renegá-lo. Adaptado de uma peça teatral, o filme desvenda, assim, as neuroses de dois influentes pensadores do século XX, cujas ideias moldaram o próprio cinema de David Cronenberg.
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