quinta-feira, 14 de setembro de 2017

“Nobel da Vergonha” (Guga Chacra, O Globo)


Uma Nobel da Paz, celebrada por líderes como Barack Obama pela defesa dos direitos humanos, é conivente com crimes contra a Humanidade em Mianmar. Aung San Suu Kyi, líder de fato do país, não fez nada para encerrar o regime de apartheid no qual os rohingyas não têm direito à cidadania e agora fecha os olhos para a limpeza étnica implementada pelas Forças Armadas. Apenas nas últimas semanas, com a intensificação do processo de limpeza étnica, ao menos 379 mil rohingyas foram expulsos de Mianmar para Bangladesh, uma das nações mais pobres do planeta, onde eles são abrigados em ilhas alagadas. Segundo o próprio Exército do país, 40% das vilas habitadas pelos rohingyas foram esvaziadas. Imagens mostram que estão destruídas. Muitas foram queimadas. Basicamente, um caso clássico de limpeza étnica levada adiante pelos militares de Mianmar. A perseguição aos rohingyas não é nova. Existe desde antes de 1948, ano da independência da Birmânia, como era chamada Mianmar até 1989. Uma das primeiras leis do país, que determinou quais seriam as etnias oficiais, não incluiu os rohingyas. Estes não tinham direito à cidadania a não ser que provassem estar no país por ao menos duas gerações. Embora muitos fossem de famílias estabelecidas há séculos na região, era difícil ter documentos aceitos pelas autoridades. Apesar destes obstáculos, alguns inicialmente conseguiram a cidadania. Com a chegada dos militares ao poder em 1962, os rohingyas passaram a ser registrados apenas como estrangeiros. Em 1982, foi retirada a cidadania de todos os rohingyas e eles se tornaram vítimas de um regime de apartheid. O governo de Mianmar argumenta que os rohingyas são bengaleses. O argumento é de que eles não seriam originalmente da região. Mas sabe-se que muçulmanos viviam no que hoje é Mianmar desde o século XII. Quando os britânicos ocuparam o território, entre 1824 até a independência, mais muçulmanos da Índia (incluindo Bangladesh e Paquistão) foram levados pelo Reino Unido para a então Birmânia para trabalhar. Esta seria a justificativa para o apartheid e, agora, a limpeza étnica. Isto é, Mianmar tenta encontrar uma justificativa numa polêmica narrativa histórica para cometer um crime contra a Humanidade.

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