Blog do Noblat
Umas das coisas mais esquisitas que ouvi foi a expressão “my personal space”, que pode ser traduzido livremente como “meu espaço”
Os latinos, e os brasileiros especialmente, sempre foram conhecidos por serem calorosos no trato com as pessoas. É comum encontrar estrangeiros que vão para o Brasil e se apaixonam pelo jeito amigável e próximo do povo brasileiro. Essas características ficam ainda mais evidentes quando se tem um contato mais frequente com os americanos, bastante conhecidos pela frieza no trato com o outro.
Quando cheguei aqui em Washington, já sabia que teria que me acostumar com essa diferença no convívio entre as pessoas. Mas no dia a dia esse traço gelado do americano parece ainda mais estranho para um estrangeiro que, como eu, veio de um país tropical onde o tratamento com as pessoas é tão quente quanto a temperatura dos dias.
Umas das coisas mais esquisitas que ouvi foi a expressão “my personal space”, que pode ser traduzido livremente como “meu espaço”. Os americanos usam muito essa expressão para falar do espaço físico ao redor do seu corpo, que não deve ser invadido, algo impensável para um brasileiro que adora um beijo e um abraço.
Eu descobri essa expressão e esse conceito a duras penas. Certa vez, comecei a fazer um curso de inglês e, toda manhã, ao chegar, dava dois beijinhos no rosto do professor e ainda completava com um forte abraço, nunca correspondido. No momento que eu o abraçava, ele se mantinha absolutamente imóvel, como se fosse uma estátua de mármore.
Durante um tempo, achei que o meu professor fosse apenas uma pessoa tímida. Mas um certo dia, ele se encheu de coragem e, no momento que fui cumprimentá-lo, me disse: Daniele, acho você uma pessoa ótima, mas não gosto que você me beije e me abrace. E, fazendo o tradicional gesto ao redor do seu corpo, fechou a frase dizendo: este é “my personal space”.
Confesso que, num primeiro momento, fiquei chocada e até um pouco ofendida. Mas depois percebi que aquela reação não era nada pessoal comigo ou contra os meus dois beijinhos e o abraço. Simplesmente ele não estava acostumado com tanto contato físico e, portanto, isso não o agradava. Temos apenas uma diferença cultural e que precisa ser respeitada, principalmente por mim, que estou no país dele, com as regras ditadas por ele.
Uma outra vez, eu estava no metrô, totalmente perdida, sem saber para onde ir. Então me aproximei de um senhor e pedi uma informação. Ao perceber que ele não tinha me ouvido, coloquei a mão no braço dele, na intenção de que me visse. O senhor não teve dúvida, deu um pulo para trás e gritou: “não me toque!”
Conversando com alguns americanos sobre essa ojeriza ao contato físico, eles me disseram que, além do traço cultural, as pessoas se tornaram mais desconfiadas e ainda mais ariscas depois do atentado às torres gêmeas, em 2001. Cultural ou não, temos que respeitar. Mas tenho certeza que eles seriam bem mais felizes com alguns beijos e abraços adicionais à sua rotina.
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