Cartas de Buenos Aires: Gabriela Antunes
“Quero dizer a todos os argentinos que esta Presidenta não vai assinar nada que comprometa o futuro das próximas gerações argentinas, como fizeram alguns que assinaram qualquer coisa”, desabafou Cristina Kirchner em seu facebook nesta quinta-feira.
Cristina tenta acalmar os ânimos, diante de um possível default de uma dívida adquirida nos anos que seguiram a bancarrota do país em 2001. A Argentina vem tentando desesperadamente recuperar sua credibilidade internacional desde então, mas o “devo, não nego, pago quando puder” pode não ser suficiente para salvar o país de um novo calote, um termo que o Governo evita usar.
O caso dos chamados “fundos abutres” é complexo. Pertencem a instituições que compraram títulos da dívida argentina após a bancarrota de 2001 e que rejeitaram as ofertas de reestruturação feitas em 2005 e em 2010. Agora, pressionam o país em tribunais internacionais.
Os meandros do que tramita no Supremo americano são difíceis de explicar. As idas e vindas da causa dariam um livro. O importante neste momento é o que o Governo tenta de todas as maneiras evitar uma onda de penalidades que poderiam chegar a US$ 100 bilhões. Trata-se de uma quantia absurda para um país que tem pouco mais de US$ 28 bilhões em reservas internacionais.
Tic tac tic tac...
O Governo tem até o dia trinta de julho para pagar cerca de US$ 1,3 bilhão já acordados referentes aos bônus renegociados. Se não conseguir, tecnicamente entraria em default novamente. As autoridades, no entanto, sustentam que o país não precisa dos investimentos internacionais que poderiam vir se o país não continuasse a ser um terreno pantanoso para o crédito internacional.
“Querem nos assustar dizendo que, se não fazemos o que os fundos abutres querem, não chegarão capitais internacionais e nem teremos acesso a financiamento. O que eu digo é: desde o ano de 2003 até hoje, quando foi que tivemos acesso a financiamento internacional?”, escreveu Cristina nas redes sociais, mantendo o argumento de que a Argentina vem sofrendo um ataque do mercado especulativo.
Os economistas são quase unânimes em afirmar que a Argentina não está perto de uma crise tão grave quanto a de 2001. Mas o temor da estagnação da economia, uma inflação que o Governo não consegue controlar e o medo do desemprego voltam a alarmar os argentinos.
O ex-ministro da economia Roberto Lavagna chegou a dizer que a Argentina está “entre um tufão e um tsunami”, referindo-se à situação de escolha entre o mal e o mal menor.
No meio disso tudo estão milhões de argentinos que ainda têm pesadelos com a crise de 2001.
No meio disso tudo estão milhões de argentinos que ainda têm pesadelos com a crise de 2001.
A Argentina sofre com os "abutres" do sistema financeiro
Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín.Escreve aqui todos os sábados.
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