sexta-feira, 4 de julho de 2014

Lula: desfigurando a verdade, segundo Jabor



AS BRANCAS ELITES

Arnaldo Jabor (O Globo)

O termo é propositadamente impreciso, serve para todos os opositores

Eu sou da elite branca. Infelizmente, nasci com olho azul, herança de sangue alemão temperando meu lado sírio libanês, o que talvez me faça ser da “elite árabe” ou suspeitosamente palestino e portanto antissemita e “jihadista”?

Ou serei nazista? De parte de mãe, meu sobrenome é Hess. Serei parente do Rudolph Hess — um dos carrascos do Terceiro Reich? Quer dizer: será que eu sou um daqueles que “estimulam setores reacionários a maldizer os pobres e sua presença nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes”, como afirmam petistas graduados? Será que eu desejo mesmo que os pobres morram de fome, como disse Dilma, porque “a elite branca não suporta ver mulheres e crianças melhorando de vida”?

Por que sou tão malvado? Preciso fazer um exame de consciência. Mas antes vamos continuar a analisar esse termo vago: elite branca. Evoca doenças antigas, como “flores brancas, peste branca”.

Um comunista clássico diria “classe dominante”, mas Lula é um simplificador de categorias.

Lula inventou o termo, obedientemente repetido por Gilberto Carvalho. Esse termo é propositadamente impreciso, de modo que sirva de carapuça para todos os opositores. Lula sabe fazer bem um sarapatel de conceitos “marxistas” para o povão entender. Discorda? Elite branca.

E “elite”? Essa palavra sempre foi muito usada por Lula, para engrandecer sua ignorância pessoal, para desovar sua inveja de gente que teve a sorte de estudar (Ex: FHC, sua obsessão).

E “branca”? Há um claro racismo nisso aí. Brancos não são classe, são raça. Será que existe uma elite afrodescendente? Ou uma elite caucasiana? Não haverá cotas raciais para as elites? Afinal, e as elites pardas, onde ficam? E a elite amarela, elite índia? Não há elite preta, claro, pois Lula decretou que os pretos são pobres e bons. Branco é ruim? E os brancos que ajudam o PT como aliados? Sarney, Renan serão da elite branca e portanto malvados? Não; para Lula, eles são agentes duplos da elite branca e usados pelo PT para combatê-la. E são puros e bons os que roubaram e foram presos pelo Joaquim do STF? Claro, bons “revolucionários” injustiçados. Ele obviamente deve ser chefe de alguma elite negra secreta e pode ser “merecidamente” ameaçado de morte. Como seria essa malévola elite negra?

Digamos que o termo “elite branca” tivesse sido usado pelo ministro Joaquim; ele seria trucidado por racismo, sem dúvida. E se o Gilbertinho ou o Lula fossem pretos, eles usariam o termo? Não. Seria inconveniente politicamente. É muito melhor que eles sejam brancos e assim possam atacar brancos porque, apesar de o serem, estão do lado dos negros que “sofrem no país todo”. Ou seja, são brancos mas são bons, são brancos que não temem condenar os maus brancos. Por exemplo, “não havia pretos pobres nas arenas porque a terrível elite branca é que concordou com os preços da Fifa.” Ou foi o Lula, que topou tudo desde 2008?

Lula é um mestre em inventar termos úteis para desfigurar a verdade. Ele não tem o menor pudor disso, porque sabe que os pobres não sabem nada e engolem tudo que ele diz. “Pobre pensa que dossiê é doce de batata!” — ele falou com desdém no escândalo do dossiê dos aloprados, lembram? Havia negros entre os aloprados? Não, mas eles não eram brancos da elite — talvez fossem aloprados (militantes esforçados, mas, trapalhões... coitados) da “ralé branca”.

Outro dia, o Lula bradou: “A elite brasileira está conseguindo fazer o que nunca conseguimos: despertar o ódio de classes”. Este “ato falho” de Lula é sensacional. Tradução: sempre quisemos despertar o ódio de classes, mas nunca conseguimos. Mas, eis que vem a elite branca e consegue!

Ou seja, a elite branca é “capitalista-leninista”, quer a luta de classes contra o pobre PT, com seus militantes desvalidos, proletários oprimidos. Lula, que culpou os “brancos de olhos azuis” pela crise econômica mundial, só pensa em dividir os brasileiros entre “nós” e “eles”. É uma paranoia programada: a técnica de vitimização que funciona bem para ditadores que se dizem sempre “defensores do povo” — suas vítimas.

Todo mundo é responsável pelos anos de governo do PT, menos o PT.

Fascina-me a caradura com que condenam o passado, se eles são o passado. Estão aí há 12 anos e só conseguiram o caos. Mas a culpa não é deles, claro. Nunca. Através de mentiras “revolucionárias” vão aos poucos “fulanizando” os escândalos, como, por exemplo, na Petrobras. Segundo Gabrielli e seus colegas, “houve erros passageiros, como Pasadena e Abreu e Lima, que ficaram um pouco caras...” (só US$ 20 bilhões)... Graças a CPIs fajutas, ninguém jamais saberá como era o esquema entre os políticos de apoio e a Petrobras.

E os milhões desviados desde o mensalão, que foram um troco, comparados com os bilhões ainda lá fora, tirados dos fundos de pensão “revolucionários”? E a inflação? Quando haverá correção monetária para o Bolsa Família?

Mas o perigo máximo é o programa ideológico que traçaram para o país. Não querem governar. Querem mudar o Estado. Se conseguirem, seremos jogados num bolivarianismo abrasileirado que acabará desmanchando nossas instituições já abaladas. Isso é o óbvio, mas tem de ser repetido! Pena que o povo não entenda porra nenhuma.

Se não, vejamos:

Em 1985 o PT foi contra a eleição de Tancredo Neves e expulsou deputados que votaram nele. Em 1988, votou contra a Constituição. Em 1994, votou contra o Plano Real, dizendo que era eleitoreiro. Em 1996, votou contra a reeleição, que hoje defende. Depois, em 1998, foi contra a privatização da telefonia, hoje com 200 milhões de linhas. Depois, foi contra a adoção de metas para a inflação. Em 2000, luta ferozmente contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga os governantes a gastarem apenas o que arrecadam. O Proer, que nos salvou, impedindo a quebradeira dos bancos em 2008, foi demonizado. Quando FHC criou o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o Vale Gás, o PT foi contra, dizendo que eram esmolas eleitoreiras. Ou seja, o PT se acha uma elite vermelha, mas não passa de uma reles elite branca.

(http://oglobo.globo.com/cultura/arnaldo-jabor/as-brancas-elites-13086739)

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