Um ano e meio depois da façanha de eleger o prefeito de São Paulo, com 55,5% dos votos, o ex-presidente Lula assiste à queda livre de Fernando Haddad, rejeitado por 47% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha.
Com repetitivos ataques à imprensa, Lula tenta escorar o seu mal fincado poste para evitar que ele caia sobre o poste seguinte, Alexandre Padilha, estacionado em 4% das intenções de voto para o governo paulista.
Apagão cada vez mais difícil de impedir, com efeito danoso à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, ela também poste precisando de esteio.
São Paulo sempre foi duríssimo para o PT, partido concebido, gerado e parido em solo paulista. Em eleições presidenciais, só venceu uma vez na capital, em 2002, ainda assim por 127 mil em quase 6 milhões de votos. Quatro anos depois, Lula perderia para Geraldo Alckmin na cidade – 53,6% a 46,4% - e no Estado, com mais de 2 milhões de votos pró-tucano. O mesmo ocorreu com Dilma, derrotada no primeiro e segundo turnos no maior colégio eleitoral do País, diferença que ela compensou em Minas Gerais e no Nordeste.
Lula e Alexandre Padilha, praça da Sé
Na sexta-feira, em ato pró-Padilha na Praça da Sé, Lula escancarou sua tática para, pelo menos, perder menos em São Paulo. Antecipar-se às críticas ao prefeito, atribuindo todos os males à mídia: “você liga a televisão e todo o dia você apanha às 8h, às 3h da tarde, às 7h da noite. Às 6h da manhã já está apanhando”.
Seu discurso vai além: transforma obrigações de governo em benesses que deveriam ser agradecidas.
Como o ministro Gilberto Carvalho, que confessou perplexidade após as manifestações de junho do ano passado – “fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós” -, Lula reclamou aplausos dos que andam de ônibus. "Eu às vezes estou de carro, fico vendo a faixa vazia e xingo ele [Haddad]. Mas quem está no ônibus ganhando 40 minutos não está defendendo ele.”
Não aprenderam nada. Assim como os protestos de 2013 não se limitavam aos R$ 0,20, será preciso muito mais do que minutos a menos - e que não chegam aos 40 mentidos por Lula – para que se reconheça algo de bom no transporte e nos serviços públicos em geral, a maior parte deles para lá de precário.
Na ânsia de salvar Haddad/Padilha/Dilma e arrumar culpados pelos fracassos de seus postes, Lula, absoluto no palanque da Sé, ensinou: “Aquilo que a gente faz a gente mostra; aquilo que a gente não faz, os adversários mostram”.
Quase acertou em cheio. Faltou só somar o que se faz de errado. Uma parte da equação que Lula diz querer discutir, mas da qual sempre escapole, preferindo a escuridão, onde não se identificam os gatos. Nem os ratos.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília, e na Agência Estado (SP). Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com
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