sábado, 12 de julho de 2014

Cartas de Seattle: Vende-se maconha, por Melissa de Andrade


 Agora é de verdade. É possível comprar maconha legalmente no estado de Washington, onde fica Seattle. Depois de um ano e meio desde a aprovação em plebiscito, começou a comercialização ao consumidor final. Devagar, mas começou.
Não que falte demanda. Uma multidão cercou as lojas que abriram na terça-feira. Uma senhorinha aposentada de 65 anos passou a noite em claro para garantir sua vaga. Saiu orgulhosa, levantando os dois saquinhos opacos, para delírio da fila imensa que esperava do lado de fora. Como eu sei? Ela saiu em todos os jornais, telejornais, blogs e que tais. A primeira pessoa de Seattle a comprar maconha legalizada. É fato histórico.
A venda começou devagar porque somente uma loja de Seattle está funcionando. No estado inteiro, são apenas cinco. Falta produto. Como as licenças para os plantadores demorou a sair, e nem todas as licenças foram distribuídas, não tem muito produto no mercado. Pelo menos não legalmente. Aí muita loja nem abriu. Para quem conseguiu garantir o estoque, a freguesia é certa. E os preços, altos, como manda a lei da oferta e da procura.
Não demorou a surgir toda a sorte de história sobre os clientes que ganharam notoriedade na mídia. O rapaz que saiu no jornal comprando maconha e que garante que foi sumariamente demitido depois de uma repentina solicitação de exame toxicológico (a empresa diz que não foi bem assim). O policial que foi entrevistado enquanto estava na fila e que poderá ser investigado por desvio de conduta.
Exagero ou não, o fato é que não basta virar lei para ganhar aceitação da sociedade. A polêmica não termina na aprovação do plebiscito. O debate, aliás, está apenas começando. 

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

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