Ricardo Setti
Não sei se vocês viram no noticiário de hoje o pedido de desculpas formulado publicamente pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, ao Brasil, a seu governo e “ao povo brasileiro” pela ação de revistar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em missão oficial ao país, no final de 2011 — fato revelado esta semana e que comentei aqui.
“Peço desculpas ao povo brasileiro, a seu governo”, disse Evo — para quem não se inteirou do noticiário a respeito. “[A vistoria ao avião] não foi instrução do presidente, do vice-presidente, nem do gabinete”, garantiu, no curso de uma entrevista coletiva. O presidente lançou a responsabilidade a oficiais das Forças Armadas da Bolívia, ao dizer: “Sinto que alguns oficiais exageraram. Sob pretexto de luta contra o narcotráfico, não respeitam os aviões oficiais”.
O ex-líder dos plantadores de coca garantiu que o incidente será investigado e que os responsáveis serão punidos.
Mas começou a pisar na bola em que, esquecendo-se, aparentemente, de que a notícia sobre a vistoria de 2011 partiu do Ministério da Defesa do Brasil, afirmou:
– Sinto que, no Brasil e na Bolívia, querem nos confrontar. Alguns subalternos estão interessados em nos confrontar. Não vão conseguir nada porque existe uma confiança única, antes com Lula e agora Dilma. Esta confiança vai continuar.
Espere aí!
Quem são os “subalternos”?
O ministro da Defesa, Celso Amorim?
O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito?
Sim, porque TODA a informação sobre o episódio veio de altas autoridades do governo brasileiro.
Usando a demagogia bolivariana de sempre, o que Morales quer, mesmo, é varrer o episódio — que provocou indignação no Brasil — para baixo do tapete.
Pior foi o comentário inteiramente cretino do chanceler da Bolívia, David Choquehuanca, em entrevista agência de notícias France Presse:
– Às vezes, os agentes da Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico cometem algumas infâmias porque não sabem se é um avião VIP ou não. Houve uma reclamação (do Brasil) e esclarecemos isto.
A esdrúxula utilização de linguagem de coluna social pelo chanceler não nos deve distrair do principal: uma aeronave da Força Aérea Brasileira, com tripulação, documentos oficiais e insígnia da Força Aérea Brasileira não constitui território brasileiro, gozando, assim sendo, de extraterritorialidade — e, portanto, estando imune de ações como a revista por militares bolivianos?
O que é que vale, para a Bolívia: ser uma aeronave oficial, em situação absolutamente regular, de um país (supostamente) amigo, ou ser “VIP”?
Vamos aguardar qual será a reação brasileira a isso tudo. A julgar pelos antecedentes, começando pela ocupação militar das refinarias da Petrobras por ordem de Morales, em 2006, já sabemos a resposta: nenhuma.
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