quarta-feira, 6 de março de 2013

O bom consumidor recicla, por Ateneia Feijó



Ateneia Feijó
Lembro-me de ouvir esquerdistas radicais se insurgindo contra as novas tecnologias. Apregoavam que elas multiplicariam o número de excluídos, aprofundariam o abismo das desigualdades.
Não foi exatamente o que aconteceu. Políticas sociais, curiosidade, crédito fácil e um baita incentivo ao consumo serviram para a inclusão de uma classe emergente na sociedade que adora comprar eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Ou seja, haja novos produtos porque não faltam consumidores.
Um capitalismo “amigo” como querem quase todos os cidadãos de classe média e particularmente o governo petista.
Mas faltam planejamento e certos cuidados. Se o consumidor adquirir, por exemplo, um bom tablet e se der por satisfeito, restringirá seus gastos e pronto. Porém, o status social e a mensagem governista pressionam para ele continuar adquirindo as últimas novidades. O estímulo ao crédito está aí para isso. Ora, pois.
E tudo bem se as pessoas quiserem se atualizar sem inadimplência e exageros viciosos.


O risco é cair na irracionalidade semelhante a que levou o mesmo governo a querer acelerar o desenvolvimento de indústrias e de agronegócio sem a infraestrutura adequada de estradas, ferrovias, portos e aeroportos para o escoamento da produção.
Como assim? Explico. Apesar de liderar nas pesquisas mundiais de consumo de celulares, TVs de alta definição, câmeras digitais e netbooks, este país não está preparado para o descarte dos equipamentos.
Ao contrário de países realmente desenvolvidos, o Brasil não tem logística para os milhões de eletroeletrônicos e eletrodomésticos que são descartados. O material consumido acaba sendo jogado em qualquer lugar e atirado em aterros sanitários.
Absurdamente insustentável. Perigoso. Esse material se compõe de grande quantidade de metais pesados, como chumbo e mercúrio, nocivos à saúde.
Segundo a reportagem de Eliane Oliveira, “500 milhões de eletrônicos à procura de um lixo” (O Globo, 3/3/2013), governo, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes desses equipamentos pretendem amenizar essa ineficiência do setor. Como? Por meio de um acordo que colocará em prática o descarte correto nos próximos cinco anos.
Bastante atrasado. O projeto de lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, incluindo a logística reversa, foi encaminhado por Marina Silva ao então presidente Lula, em 2007. Na época, ela era ministra do Meio Ambiente. O projeto só foi sancionado em agosto de 2010. Por motivos políticos.

Ateneia Feijó é jornalista

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