quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O risco permanece



Carlos Chagas
Enquanto fica calado a respeito de sua candidatura a presidente da República em 2014, o Lula continua dando lições sobre como governar e que rumos o país deve adotar em política externa e em muitos setores da política interna. Além de confirmar o início de viagens por todo território nacional, certamente que não para caçar borboletas. Em vez dele, seus ex-ministros Paulo Okamotto, PauloVanuchi e Luiz Dulci acabam de declarar, ainda que sem muita ênfase, que o ex-presidente apóia a reeleição de Dilma Rousseff.
Pode ser, mas não deixa de se registrar no palácio do Planalto um certo receio de o antecessor atropelar a sucessora. É de mestre-escola o comportamento do Lula diante de Dilma, na medida em que permanece avançando palpites variados sobre funções que não exerce mais.
No fundo situam-se algumas variáveis. Primeiro, de que setores consideráveis do PT estimulam a volta do ex-presidente nas próximas eleições, frustrados que estão por Dilma não ter dividido o poder com eles, em condomínio. Depois, porque em dois anos a popularidade da presidente pode cair, caso a economia não se recupere. As forças que dão respaldo ao governo também poderão surpreender, exigindo mais espaços. Sempre em aberto estarão os inusitados.
Por tudo isso, o Lula mantém aberta a janela de sua candidatura, mobilizando seu “ministério das sombras” para dizer o que ele não diz. Está previsto para sexta-feira, em São Paulo, mais um encontro entre o criador e a criatura.
UM TERRORISMO SINGULAR
Há quem suponha mais do que a ação de bandidos comuns nos assaltos aos caixas eletrônicos de bancos, em todo o território nacional, bem como pode ser imaginada alguma motivação específica por trás da fúria popular que tem levado à queima de ônibus nas grandes cidades.
Não haverá que voltar ao passado dos diversos grupos dedicados à luta armada contra a ditadura. Saiu pelo ralo o sonho da implantação de repúblicas proletárias e socialistas.
No entanto, os métodos praticados pelos assaltantes de caixas eletrônicos, mais de 600 em todo o país, ano passado, assemelham-se às anteriores ações promovidas pelos subversivos. O uso do dinamite não parece característica do ladrão isolado. O dinheiro conseguido vai para o bolso dos meliantes, é claro, mas pode estar indo também para organizações empenhadas em adquirir armas, traficar tóxicos e aumentar sua influência nas comunidades pobres. Tenta-se criar um poder paralelo às instituições vigentes, com que objetivo?
É o terrorismo em nova fase, menos ideológica mas igualmente transcendendo o imediatismo da bandidagem rotineira.
Junte-se as frequentes queimas de ônibus, na maior parte promovidas por agentes das quadrilhas organizadas e se terá algo mais do que um simples episódio da eterna luta entre polícia e ladrão. Até mesmo quando exploram a indignação popular diante da inoperância dos serviços públicos ou da sucessão de vítimas do descaso da autoridade constituída, pode-se identificar um fator específico. Por que há uma técnica para queimar ônibus, pouco acessível ao cidadão normal.
Trata-se de outra faceta do terrorismo, que conduz a uma indagação inconclusa: se não são religiosas nem ideológicas as causas dessa expansão do terror em nova fase, serão quê?

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