Carlos Chagas
Mantido o rito preconizado pelo ministro Joaquim Barbosa, o deputado João Paulo Cunha e o publicitário Marcos Valério serão os primeiros a ser arcabuzados no julgamento dos réus do mensalão, mas a peça principal do processo chama-se José Dirceu. Chamado de chefe da quadrilha pelo ex-procurador-geral Antônio Fernando de Souza, expressão repetida pelo atual, Roberto Gurgel, o antigo chefe da Casa Civil deve ser o terceiro na lista dos acusados a ser submetido ao voto dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal.
Como prova contra ele, não há atos de ofício, ou seja, nenhum documento com sua assinatura. Existem provas testemunhais e, acima delas, evidências de que tamanha máquina de corrupção não se movimentaria sem sua aquiescência, no mínimo, ou seu comando, no máximo.
A conclusão surge clara: se Dirceu for condenado, muitos outros mensaleiros também serão, ficando demonstrada sua liderança e participação no escândalo. Absolvido, porém, a decisão da mais alta corte nacional de justiça evidenciará que o mensalão não existiu. Terá sido, se tanto, manobra do caixa dois de campanhas eleitorais.
Contra Dirceu pesa o comentário inicial do então presidente Lula, de que foi traído por seus companheiros. Contra o Lula, a afirmação de Dirceu de que nada se passava no palácio do Planalto sem que o presidente soubesse. E sabendo, acrescenta a lógica, autorizava.
Dos onze ministros do Supremo, oito foram indicados por Lula ou por Dilma, e a pergunta que se faz é se deverão sentir-se gratos àqueles que os indicaram. Nesse caso, até onde vai a gratidão?
Ricardo Lewandowski emite sinais desse seu sentimento estender-se bastante, a ponto de ter emitido longa peroração em favor do desdobramento do processo, hipótese que geraria a devolução à primeira instância do julgamento de Dirceu e de outros 35 réus. Ficariam no Supremo apenas os três com mandato parlamentar. Para os demais, um recomeço capaz de levar dez anos, entre novas inquirições e recursos. O resultado seria a prescrição dos crimes de que são acusados.
Por maioria, o plenário do Supremo rejeitou a proposta, levantada pelo ex-ministro da Justiça do Lula, Márcio Thomaz Bastos. Causou espécie, porém, o fato de minutos depois da intervenção do advogado, em questão de ordem, Lewandowski haver apresentado minucioso e datilografado voto a favor, evidência de que estava preparado para apoiar o desdobramento, aliás já seis vezes rejeitado pelo tribunal.
Em suma, certeza não há do resultado do julgamento, nem mesmo se os julgadores serão onze ou dez, dada a aposentadoria próxima do ministro César Peluso. Uma coisa, no entanto, é certa: a pedra de toque, o tijolo de sustentação do processo, situa-se na pessoa de José Dirceu. Como sempre, um líder.
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OS VENTOS QUE VEM DA FRANÇA
OS VENTOS QUE VEM DA FRANÇA
Nenhum jornalão dispôs-se a noticiar as primeiras iniciativas do novo presidente da França, François Hollande, que em poucas semanas cortou mordomias de altos funcionários e de deputados, adotou medidas de contenção no serviço público, estabeleceu impostos para a especulação financeira, taxou altos salários e grandes rendas e, com os recursos apurados, vem criando empregos, implantando centros técnicos de estudo, creches e estabelecimentos de ensino para os menos favorecidos.
O socialista posto no telhado do mundo demonstra que é possível oferecer alternativas às privatizações, ao aumento de impostos, à redução horizontal de salários e aos cortes nos investimentos sociais – fórmulas que a Alemanha recomenda e até impõe às economias européias em crise.
Uma prova de que o mundo ainda tem jeito, se houver menos egoísmo…
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RENAN EM DOIS TEMPOS
RENAN EM DOIS TEMPOS
Existem poucas dúvidas de que Renan Calheiros sucederá José Sarney na presidência do Senado. Se havia má vontade no palácio do Planalto diante de sua indicação, não há mais. Tudo indica que o representante de Alagoas não completará o biênio 2013-14 na função, porque é candidato certo ao governo de seu estado.
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