sábado, 10 de março de 2012

Assim funciona o inútil Senado



Publicado 09/03/2012 17:43
                O Senado deu mais uma demonstração, esta semana, de sua total inutilidade e do baixo padrão de boa parte dos senadores, que estão ali não para exercer condignamente um mandato e prestar um serviço público, mas para gozar de privilégios, benesses, mordomias e, claro, reforçar seus orçamentos domésticos. O Senado, hoje, graças aos senadores que o comandam, de direito ou de fato, é um sofisticado balcão de negócios regido pelo compadrio. Se fosse extinto, o país só teria a ganhar, sob todos os aspectos. Os recursos absurdos gastos pelo Senado certamente poderiam ser mais bem aplicados e a Câmara asseguraria a existência do Poder Legislativo.
                Na semana que termina, os senadores deram mais dois bons exemplos de que são inúteis e agem com base em interesses particulares. Num dia, passaram a mão na cabeça do senador Demóstenes Torres, do DEM, apesar do claro, nítido e suspeito envolvimento dele com o conhecido Carlinhos Cachoeira. No outro, rejeitaram o indicado pela presidente da República para dirigir uma agência reguladora porque não se conformam em ter suas fontes de capital político e financeiro limitadas pelo governo e querem dominar os negócios do órgão.
O senador Demóstenes Torres, que procura cultivar uma imagem de vestal moralista e quer ser candidato a presidente pelo quase falido DEM, foi à tribuna se defender e justificar suas suspeitas relações com Cachoeira, que está preso. Fez um pronunciamento vazio e ridículo, chegando até a considerar normal que um senador seja íntimo e ganhe presentes caros de um notório contraventor e suspeito de inúmeros crimes. No final do discurso, recebeu tapinhas nos ombros e foi cumprimentado pelos colegas, que lhe manifestaram a solidariedade própria dos mafiosos que se protegem. Por comodismo, conivência, conveniência ou rabo preso, até senadores do PT silenciaram e confraternizaram com Demóstenes, que não poupa o governo federal de seus ataques.     
                E boa parte desses senadores resolveu, em votação secreta, rejeitar a indicação de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Aparentemente, os 36 senadores acataram as objeções levantadas pelo histriônico e truculento senador Roberto Requião, do PMDB, há meses em campanha contra Figueiredo. Requião, que goza de pouca ou nenhuma credibilidade entre os colegas, manipulou impunemente mentiras e relatórios do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público que se referiam a período anterior à posse dele na ANTT.
                Apenas aparentemente os senadores atenderam a Requião, claro, pois seria um feito histórico rejeitarem alguma indicação do Executivo por suspeita de prática de corrupção ou de ineficiência e desconhecimento técnico para a função. Pelo contrário: a prática do inútil Senado é fazer meras simulações de sabatinas primárias e aprovar até as indicações mais esdrúxulas, mas movidas pela politicagem e pelo fisiologismo. Houve um indicado para a ANTT, por exemplo, que disse que conhecia transporte terrestre apenas como usuário. De automóvel, claro. De trem, só se for na Europa.  
                Figueiredo foi rejeitado por uma armação articulada, especialmente, pelo que deveria ser o maior defensor do governo no Senado, o líder Romero Jucá, do PMDB, auxiliado pelo também peemedebista Renan Calheiros, pelo petebista Gim Argello e pelo deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PR. Todos vão negar de pés juntos, ajudados pela votação secreta e pela omertá em vigor naquele território perigoso ao norte da Praça dos Três Poderes.
                Essa turma queria duas coisas. A primeira, como eles mesmos dizem, era dar um “recado” à presidente de que a famosa base aliada está insatisfeita, pois não tem emendas liberadas, nomeações concretizadas e ministérios concedidos, entre outros agrados que sempre esperam do governo para ficar ao seu lado nas votações. Dane-se o mérito das questões submetidas a eles, o que importa é demonstrar força e chantagear. Esse é o método da turma.
A segunda coisa que Jucá e companhia queriam era controlar a ANTT, tirando de lá um técnico competente e ligado diretamente à presidente Dilma. Sem Figueiredo para atrapalhar os outros dois diretores (um indicado por Renan, outro por Gim) e o que ainda não foi aprovado pelo Senado, indicado por Valdemar, o caminho para a atuação da turma estaria livre.
Com o apoio de uma oposição que continua perdida e incompetente, e que ingênua e bobamente achou que estava confrontando Jucá e Renan, e não apenas Dilma, a turma conseguiu derrotar o governo e impedir a continuidade de Figueiredo. Mas não ganhou tudo. Deram o recado, e como o governo precisa do Senado, a chantagem pode ser relativamente bem-sucedida. Mas não vão conseguir controlar a ANTT, pois a presidente já busca outra indicação de sua confiança, vai trabalhar duro por ela e talvez retire a indicação do apadrinhado de Valdemar -- e assim os protegidos de Renan e de Gim não vão tomar o controle da agência. E para Bernardo Figueiredo, Dilma tem outro lugar no governo.
E Requião, o acusador inclemente? Ora, qual a importância de Requião?  

Fonte: Blog do Hélio Doyle

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