Posted: 23 Jun 2014 06:19 AM PDT
Enquanto seus companheiros do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), estes sim, de armas na mão, morriam nas ruas de São Paulo e no Brasil central, José Dirceu ficou enfurnado em Cruzeiro do Oeste até o final da luta armada
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja
No seu discurso no retorno à Câmara dos Deputados, você disse que “lutou com armas na mão e na clandestinidade". Fala sério, kamarada Daniel! Na clandestinidade, sim. De armas na mão, não, pois você jamais participou de uma ação armada. Enquanto seus companheiros do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO) que, como você, receberam treinamento de guerrilha em Cuba, estes sim, de armas na mão, morriam nas ruas de São Paulo e no Brasil Central, você ficou enfurnado em Cruzeiro do Oeste até o final da luta armada.
Anteriormente, ao passar o cargo de Ministro da Casa Civil a Dilma Roussef, você dirigiu-se à nova ministra tratando-a como “companheira de armas”. Que armas, kamarada Daniel? Somente em Cuba você pegou em armas. Depois, quando você deveria fazer a hora, fazer acontecer, desertou.
Você também falou que “tem as mãos limpas e que nunca respondeu a um processo”. Fala sério, kamarada Daniel! Você foi preso quando do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em outubro de 1968, em Ibiúna-São Paulo, foi indiciado em um inquérito e só foi libertado em setembro de 1969, quando foi incluído na relação dos terroristas trocados pela liberdade do embaixador Charles Elbrick dos EUA no Brasil.
Na página 110 do livro “Abaixo a Ditadura”, escrito por você e por Vladimir Palmeira, você escreve: “participei da luta armada, achava que era necessária...”. Fala sério, kamarada Daniel! Você não participou de luta armada nenhuma! A única “luta armada” que você participou foi a do “treinamento militar em Havana, que era um teatrinho, um vestibular para o cemitério”, como você declarou ao Jornal do Brasil em 27 de dezembro de 1998.
Em um seminário do Partido dos Trabalhadores, realizado dias 15 e 16 de abril de 1989, você, talvez já vislumbrando, erradamente, uma vitória do Lula na eleição presidencial daquele ano, declarou que “em vez de comandar uma coluna guerrilheira, o grande sonho de minha vida, vou ter que comandar uma coluna de carros oficiais em Brasília”. Fala sério, kamarada Daniel! Você não comandou uma coluna guerrilheira porque desertou da luta, ficando enfurnado em Cruzeiro do Oeste, enquanto seus companheiros, que confiavam em você, que em Cuba recebeu o grau de “Comandante”, eram dizimados graças a um informante que havia no meio de vocês, no meio do MOLIPO.
O responsável pela atual política do Partido dos Trabalhadores, de aliança com tudo e com todos, hoje rejeitada pela maioria dos militantes do partido, foi você, kamarada Daniel, que em 1995, quando foi eleito presidente do partido por apenas 28 votos de diferença num universo de 550 delegados, minimizou as disputas internas – que sempre existiram e continuam existindo –, e defendeu a reforma dos Estatutos do partido, bem como uma “política de alianças”. Foram esses os eixos que o levaram à presidência do PT, kamarada Daniel.
Você, kamarada Daniel, que integra o aparato dirigente do partido desde que ele existe (você foi Secretário Nacional de Formação Política de 1981 a 1983; Secretário-Geral do Diretório Regional de São Paulo de 1983 a 1987; Secretário-Geral do Diretório Regional de São Paulo de 1987 a 1993, depois Secretário-Geral Nacional e, finalmente, a partir de 1995, presidente do partido). Você, portanto, não pode eludir sua responsabilidade na transformação do partido nisso que aí está.
Foi você, kamarada Daniel, que ao assumir a presidência do partido, passou a defini-lo como “social-democrata” (que no jargão do partido tem o peso de um palavrão) “e de esquerda”. Com isso, você disse que o partido é um pleonasmo e, com isso, o partido deixou de ser “diferente”, como sempre proclamou. Fala sério, kamarada Daniel!
Em meados de agosto de 1998 você, como presidente do partido, em entrevista à imprensa, ameaçou não aceitar o resultado da eleição presidencial que já se configurava favorável ao candidato do PSDB, deixando no ar uma ameaça: “Se a campanha eleitoral continuar assim, a eleição perde a legitimidade e não vamos responder pelo que vai acontecer no país (...) pois a disputa está sendo fraudada e o processo eleitoral corrompido”. E mencionou, como exemplo da fraude, “o apoio unânime da grande mídia a Fernando Henrique Cardoso”. Essa não foi uma afirmação de um bêbado na mesa de um bar mas sim, do presidente de um partido, cujo maior patrimônio – dizia-se – era a ética. Fala sério, kamarada Daniel! Você não se cansa de dizer e repetir que é um democrata, que sempre “lutou para instaurar a democracia no país”.
Foi no II Congresso do partido, em novembro de 1999, uma sessão coletiva de psicanálise partidária, quando você, por uma maioria escassa (55,8% dos votos dos 928 delegados) foi reeleito presidente do partido, relegou a bandeira do socialismo – aquele socialismo que você havia definido anteriormente – a uma “possibilidade histórica”, deixando de considerá-lo uma “inevitabilidade”, conforme proclama a “doutrina científica”. Nesse Congresso, kamarada Daniel, José Genoíno – kamarada Geraldo – que depois você apoiaria para lhe suceder na presidência, admitiu que o socialismo não era mais um modelo, mas sim “um conjunto de valores” (cada um entenda como quiser...)..
No entanto, kamarada Daniel, você, na revista “Teoria e Debate” de agosto/setembro/outubro de 1999 (revista destinada aos militantes, já que é uma publicação da Fundação Perseu Abramo) você praticamente desmentiu que o partido tenha se tornado “light”. Nessa revista você escreveu que “o grande desafio da sociedade brasileira, nos próximos anos, será a superação dessa crise por meio de uma ruptura histórica que liberte o país da atual dependência e realize as tarefas da revolução democrática que o Brasil não viveu... Essa revolução terá que ser não apenas a ruptura com a dependência, mas a refundação da República... Trata-se de uma revolução nacional, popular, social e democrática”. Ou seja, marxismo-leninismo em estado puro. Fala sério, kamarada Daniel! Por que em dois anos de poder o PT não realizou essa tal “revolução nacional, popular, social e democrática”? Ao contrário, afastou-se mais dela ao inundar o país com todo o tipo de cartões.
Você também escreveu nesse mesmo artigo que “numa Nova Ordem, o Brasil deverá romper a atual relação de subordinação com o FMI e revisar todos os acordos da dívida externa... que as privatizações serão revistas por meio de auditorias e comissões parlamentares de inquérito... e que ‘os movimentos sociais’ são as bases permanentes que podem viabilizar uma mudança duradoura na correlação de forças na sociedade”. Enfim, você conclui: “trata-se de fazer uma revolução”. Fala sério, kamarada Daniel! Isso que você escreveu – para dentro do partido – foi apenas pirotecnia!
Hoje, tudo mudou. Você não mais comandará uma frota de carros-oficiais em Brasília. Hoje você está na Papuda, mas ainda não explicou as suas relações estreitas com o seu assessor Waldemiro Diniz, um corrupto, bem como a corrupção dos deputados da tal “base aliada” através do “mensalão” e outras mutretas que ainda surgirão. Essa sim, é a grande revolução. A revolução dos costumes.
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
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