sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Verdade encardida, por Maria Helena RR de Sousa



Sou do tempo em que ser juiz do Supremo Tribunal Federal era uma honra tão grande que as crianças de suas famílias falavam baixinho quando eles estavam em casa. Nada de algazarra. Por mais bondoso e camarada que fosse o avô, o pai, o tio, respeito é ótimo e era exercido.
Eu não guardava a mesma deferência, mas assim mesmo, logo que o julgamento do mensalão começou, fiz questão de demonstrar minha fé nos juízes do STF em artigos que escrevo para este blog.
Julgar o STF? Claro que não. Mas avaliá-lo? Claro que sim, foi um deles. Nessa avaliação estou tendo grandes alegrias: a volta da esperança de um Brasil melhor e o sentimento de orgulho ao ver que temos, em nossa Corte Suprema, oito juízes do mais alto plano moral e intelectual, pessoas para quem o importante são os valores éticos.
Foi semana rica em lições. Começo com a de ontem: a ministra Rosa Weber estava visivelmente angustiada ao votar. E não fez questão de esconder. Do que fez questão absoluta foi de mostrar que tem caráter e que é uma mulher para quem a honra e a dignidade são muito mais importantes que os sentimentos pessoais que possa ter.
Segunda-feira, na 30ª sessão plenária, a grande lição veio do ministro Celso de Mello. Quem teve a oportunidade de ouvi-lo não esquecerá tão cedo o que ele disse e como disse. Aqui no blog temos arquivados fragmentos de seu voto, o que nos será de grande valia: são palavras para ler e reler muitas vezes.
Na mesma sessão, o presidente do Supremo, ministro Ayres Britto, encerrou os trabalhos do dia com uma frase magistral. Não me surpreendeu, aprendi a admirá-lo nestes dias de julgamento. Mas sinto que a maioria das pessoas não a compreendeu bem. Talvez pelo verbo antiquado, talvez pelo fim da roupa lavada à mão, talvez pelo fim da mãe de família que se orgulhava da roupa branca de sua casa brilhar...
A frase: "Ao contrário da roupa no tanque ou nas pedras dos rios, quanto mais se torce a verdade, mais ela encarde!"
Pois foi exatamente o que aconteceu com a verdade do Lewandowski. Foi tão torcida, apanhou tanto, foi tão esfregada nas pedras que encardiu a ponto de ficar imprestável para usos futuros. Nem tudo, portanto, tem sido alegria.
Como pode esse senhor querer que se acredite que José Dirceu abandonou a política para dedicar-se à Casa-Civil da Presidência da República para... o que é mesmo que faz quem ocupa esse cargo? Ou que sua ex-mulher foi beneficiada por outros réus a pedido de Silvinho Pereira e não a seu pedido?
Ou que José Genoíno dava avais para o tesoureiro do partido sem nem sequer perguntar: ei, pra que tantos milhões?
Que só Delúbio Soares sabia de onde vinha e para onde ia o dinheiro que inundou as burras do PT?
Imagino que José Dirceu, que de parvo não tem nada, deva estar uma fera. A peroração de Lewandowski ontem foi a pá de cal em sua esperança. A primeira a sucumbir foi a verdade, o segundo foi o núcleo político do PT. RIP.

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