domingo, 16 de dezembro de 2012

RESULTADO




Magu
Esse estado de coisas que o glorioso partido™ implantou no país tem um custo altíssimo. À exceção de uma minoria absoluta (e bota minoria nisso), como os redatores deste jornal, seus leitores, e mais alguns gatos pingados por aí, a cultura do furto e roubo está solidamente implantada no povo mais simples, porque passa a ser normal se os representantes(?) do povo e demais incomuns do executivo, participantes do desgoverno, podem fazer grandes operações de subtração e ainda se justificam na mídia e contam-se nos dedos os que são punidos. Como o exemplo vem de cima, não é de estranhar o que verão no vídeo juntado a este artigo, é expressão da realidade do povo. E notem com que sinceridade o ladrão se expressa para o repórter.
Maurício Ferro “Bagulhinho”.
Maurício Ferro “Bagulhinho”.

Grande obra de educação o Partido das Trevas fez com o Brasil…
Mesmo se for um programa de tv montado, não deixa de exibir uma realidade. E essa, é muito pior do que foi mostrado. O humor é a melhor forma de expor as mazelas. E Sponholz é mestre nisso, como vêem amiúde em nosso jornal…

Erros gerenciais, por Miriam Leitão



Miriam Leitão, O Globo
O país terminará o ano com um crescimento medíocre, praticamente estagnado, e o responsável é o governo. A situação internacional não está fácil, mas isso explica apenas parte da frustração do crescimento. Grande parte do baixo desempenho é fruto das decisões erradas. A presidente Dilma, em dois anos, terá um crescimento médio de 1,9% com 6% de inflação.
A incapacidade gerencial é a principal falha do governo da presidente que fez a campanha apresentada pelo marketing como boa gerente. Até 11 de dezembro, o governo tinha conseguido investir apenas R$ 40 bilhões dos R$ 90 bilhões previstos no Orçamento Geral da União, segundo o site Contas Abertas.
No final do ano, a tradicional corrida para as liberações deve melhorar o desempenho, mas dificilmente superará os 60% do orçado. O investimento público no Orçamento já é pequeno. E nem isso o governo consegue fazer.
Há temas que ficam empilhados à espera de uma decisão governamental. Não apenas em investimentos. Até decisões sobre nomeação de diplomatas para postos que nada têm de delicados ou complexos dormem por meses na mesa presidencial.
O governo é errático. Um exemplo disso é o que aconteceu com os aeroportos. Um modelo de privatização foi testado em Guarulhos, Brasília e Viracopos e mostrou falha ao afastar os melhores competidores. O Brasil precisa da capacidade operacional dos grandes aeroportos do mundo. Isso vale mais do que o ágio a ser pago.
O governo, no entanto, queria mostrar que privatizava melhor do que os outros e por isso incentivou a corrida pelo preço. Isso afastou os maiores grupos que conhecem os riscos e a rentabilidade do negócio. Ganharam os grupos mais fracos e que foram garantidos pela presença de 49% da Infraero e dos fundos de pensão de estatais. Como o ágio ficou alto e a Infraero ficou com metade da dívida, o governo terá que capitalizar a estatal.
Logo após, o governo quis provar que não estava privatizando. Por isso, com Galeão e Confins apresentou a proposta de a Infraero continuar no controle e atrair um grande operador internacional como sócio minoritário.
Mandou uma missão correr mundo atrás dos grandes operadores de aeroportos com a proposta. A missão voltou com as mãos abanando. Ninguém quis.
Agora, fala de novo em voltar ao modelo usado em Brasília, de vender para a iniciativa privada o controle dos aeroportos. Nisso se perdeu um ano e o aeroporto do Rio ficou ainda mais deteriorado e os eventos internacionais ficaram mais próximos.
Em Paris, nos últimos dias, a presidente anunciou nada menos que 800 aeroportos regionais. Não consegue decolar o Galeão, mesmo assim anuncia 800 pequenos. Seria bom se em algum momento o governo tivesse um plano de voo, em aeroportos ou qualquer outra área estratégica.
Na intervenção no setor elétrico, o governo primeiro anunciou o modelo criado pelos burocratas, depois enfrentou a realidade. A Eletrobras perdeu R$ 10 bilhões de valor de mercado em apenas três meses.
Reduzir o custo da energia é uma importante batalha no esforço para aumentar a competitividade brasileira, mas na economia o voluntarismo não é o melhor caminho. 

Empresas privadas ou públicas deveriam ter sido chamadas a negociar a compensação dos investimentos não amortizados, porque, afinal, é uma alteração do contrato. Vários deles vencem apenas em 2015.
O fim de alguns encargos, como a Reserva Global de Reversão, é mais do que desejável. A taxa foi prorrogada no último dia do governo Lula.
Da maneira atabalhoada, como tem sido, a redução do preço da energia descapitaliza as empresas e suspende investimentos.

O Clima Político Está Ruim e Pode Piorar, por Marcos Coimbra



O ano termina e o clima político anda ruim. Piorou nos últimos meses e nada indica que vá melhorar nos próximos.
O que provoca esse anuviamento não são as tensões naturais que existem entre oposição e governo. Nada há de extraordinário nelas. Estranho seria se vivessem de acordo.
Está em curso um duplo processo de desmoralização. O primeiro foi concebido para atingir o PT e sua principal liderança, o ex-presidente Lula. O segundo decorre do anterior e afeta o sistema político como um todo.
Alguns diriam que esse é que é grave. Que a campanha anti-PT é circunscrita e tem impacto limitado. Que seria, portanto, menos preocupante.
Pensar assim é, no entanto, um equívoco, pois um leva ao outro.
Em democracias imaturas como a brasileira, todo o sistema partidário sofre quando uma parte é atacada. Mais ainda, se for expressiva.
O PT não é apenas um partido grande. É, de longe, o maior. Sozinho, tem quase o dobro de simpatizantes que todos os demais somados.
Só um ingênuo imaginaria possível um ataque tão bem calibrado que nem um respingo atingisse os vizinhos. Na guerra moderna, talvez existam mísseis de precisão cirúrgica, capazes de liquidar um único individuo. Na política, porém, isso é fantasia.
A oposição institucional o reconhece e não foi ela a começar a demonização do PT. Até enxergou no processo uma oportunidade para ganhar alguma coisa. Mas suas lideranças mais equilibradas sempre perceberam os riscos implícitos.
Como vemos nas pesquisas, a população desconfia dos políticos de todos os partidos. Acha que, na política, não existem santos e todos são pecadores. Quando os avalia, não contrapõe “mocinhos” e “bandidos”.
Com seus telhados de vidro e conscientes de que processos desse tipo podem se tornar perigosos, os partidos de oposição nunca se entusiasmaram com a estratégia.
Foi a oposição extra-partidária quem pisou e continua a pisar no acelerador, supondo que é seu dever fazer aquilo de que se abstiveram os partidos.
Pôs sua parafernália em campo - jornais, redes de televisão, revistas e portais de internet - para fragilizar a imagem do PT. A escandalização do julgamento do mensalão foi o caminho.
Como argumento para esconder a parcialidade, fingem dar importância à ética que sistematicamente ignoraram e que, por conveniência, sacam da algibeira quando entendem ser útil.
Quem duvidar, que pesquise de que lado tradicionalmente estiveram as corporações da indústria de mídia ao longo de nossa história.
Os resultados da eleição municipal deste ano e os prognósticos para a sucessão presidencial em 2014 mostram que a escalada contra o PT não foi, até agora, eficaz.
Sempre existiu um sentimento anti-democrático no pensamento conservador brasileiro. Desde a República Velha, uma parte da elite se pergunta se nosso povo está “preparado para a democracia”. E responde que não.
Que ele precisa de tutores, “pessoas de bem” que o protejam dos “demagogos”. É uma cantilena que já dura mais de cem anos, mas que até hoje possui defensores.
A frustração da oposição, especialmente de seus segmentos mais reacionários, a aproxima cada vez mais da aversão à democracia. Só não vê quem não quer como estão se disseminando os argumentos autoritários.
Embora acuados, cabe aos políticos reagir. É a ideia de representação e o conjunto do sistema partidário que estão sendo alvejados e não somente o PT.
Para concluir com uma nota de otimismo: são positivos alguns sinais que vieram do Congresso esta semana. Embora mantenham, para consumo externo, um discurso cautelosamente radical, as principais lideranças do governo e da oposição trabalham para evitar confrontações desnecessárias.
Forma-se uma vasta maioria no Parlamento em defesa do Poder Legislativo, ameaçado de perder prerrogativas essenciais à democracia. Quem decide a respeito dos representantes do povo são os representantes do povo, como está na Constituição.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

HUMOR A Charge do Amarildo




Será que os militantes do PT vão obedecer ao presidente do partido e sair às ruas para defender Lula?



Carlos Newton
Já está ficando monótono. Primeiro, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, pediu que a militância saísse às ruas para protestar contra a condenação do deputado federal João Paulo Cunha. Depois, repetiu a dose quando o Supremo anunciou a pena do ex-ministro José Dirceu. Agora, novamente conclama a militância petista a sair em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a manifestar indignação com as acusações de Marcos Valério, operador do mensalão.
 “Será que alguém vai me ouvir?”
Como aconteceu nas duas oportunidades anteriores, desta vez também não vai acontecer nada. A militância petista, que não mexeu uma palha por Cunha ou por Dirceu, também vai desprezar solenemente o próprio Lula, podem apostar. As coisas mudam, tudo na vida é dinâmico e se transforma, conforme Lavoisier já nos provou.
Por exemplo, antes do julgamento no Supremo, o presidente do PT cansou de defenderMarcos Valério, vivia dizendo que não houve mensalão nem irregularidades com as agências de publicidade do empresário mineiro, era tudo “Caixa 2″. Agora, Rui Falcão muda o discurso e alega que Valério é uma pessoa que está “condenada” e não tem “nenhuma credibilidade”.
Com mania de perseguição, o dirigente petista voltou a atacar o Ministério Público por ter vazado o depoimento para a imprensa e afirmou que eles querem colaborar com uma “campanha terrível” para tentar incriminar o PT.
O presidente do PT alegou que a divulgação do depoimento de Marcos Valério reflete uma “tentativa desesperada” de reduzir a sua pena no julgamento do mensalão. Para ele, o Ministério Público “teria a responsabilidade legal” de resguardar as declarações, sem permitir que elas vazassem para a imprensa. Segundo Rui Falcão, o PT, que é “alvo constante” de setores da sociedade que “perderam privilégios”, não terá seu trabalho no governo federal manchado.
Com seu apelo, Falcão deixa no ar uma pergunta: por que Lula não pode se defender sozinho e precisa da militância nas ruas?

Um autorretrato de Cecilia Meireles



A poeta, professora, pintora e jornalista carioca Cecília Meireles (1901-1964) no poema faz um “Retrato” de si própria através do seu “eu” lírico, constatando as mudanças, as transformações psicológicas e físicas pelas quais foi passando ao longo da vida.
Para isso, o eu-poético utiliza-se de alguns termos para caracterizar as partes do corpo desse eu, como: rosto (calmo, triste e magro), mãos (paradas, frias e mortas), olhos (vazios), lábio (amargo) e mudança (simples, certa e fácil), explica a professora Keila Pinheiro.
Segundo a professora, Cecília Meireles tem como temas mais constantes em suas obras: a precariedade da existência humana e da vida, a fugacidade dos bens materiais e do tempo, a falta de sentido da vida, a solidão a que o indivíduo está condenado, a vida como sonho, a distância, a perda, a falta. Seu tom melancólico é sereno, jamais toca o desespero.
“Sua poesia parece ansiar por atingir um mundo atemporal e imaterial, em que a relatividade não existe e tudo é absoluto; daí o desprezo pela matéria como algo que impede a perfeição e a ascese espiritual, ou seja, a plenitude da alma”, informa Keila Pinheiro.
Para a professora, “Cecília Meireles, por ter seguido um caminho muito pessoal, não pode ser enquadrada em um movimento ou uma estética determinados. Seus versos geralmente curtos, de conteúdo lírico tradicional e bastante pessoais, têm raízes simbolistas e caracterizam-se pela musicalidade, descritivismo e imagens sensoriais.”
RETRATO
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— em que espelho ficou perdida
a minha face
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)

Reflexões sobre Jânio Quadros e Lula



Nélio Jacob
O que Carlos Chagas escreveu aqui no Blog da Tribuna é a pura verdade. Lula enganou o trabalhador e o povo ignorante, que representam 90 por cento da população brasileira, enquanto Jânio Quadros enganou as elites que o elegeram, adotando uma política que ia contra os interesses delas, basta verificar as medidas tomadas em poucos meses de seu governo.
 Na foto de Erno Schneider, qual é o rumo?
Quanto à renúncia de Jãnio, se foi uma tentativa de golpe ou ele foi forçado, é outra história. Na época votei no General Henrique Lott. E agora, no Lula, em sua primeira eleição.
O engraçado é que o PT e Lula se denominam esquerda e tudo que é contra eles, chamam de elite. Quanta desfaçatez. Dois provérbios que cabem para o PT (Lula): Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza: O pior capataz é aquele que já foi escravo.

A vida bandida de Tião da Rocinha


Um ano depois da ocupação, como vai a vida do primata que, acredita-se, vivia com traficantes da comunidade



Mudança de habito. O animal num centro de estudos em Guapimirim: suspeita-se que era o mesmo que antes andava de moto com bandidos
Foto: Custódio Coimbra / Foto: Custódio Coimbra
Mudança de habito. O animal num centro de estudos em Guapimirim: suspeita-se que era o mesmo que antes andava de moto com bandidos Custódio Coimbra / Foto: Custódio Coimbra
RIO - Se esse “cara” de olhar perdido bocejando no fundo da jaula for o Tião, Tião da Rocinha — e tudo indica que é mesmo —, ele é o dono de uma vida de cinema. Vida louca: mistura de “Cidade de Deus” com “King Kong”, “Tropa de elite” com “Os doze macacos”. Tratado a pão de ló (ou melhor, a doces e bananas), o primata era visto na garupa ou no tanque de uma motocicleta, de carona com um piloto que levava um fuzil atravessado nas costas, pistolas na cintura. E o Tião lá, só curtindo a brisa no rosto, “Easy Rider” pelas ruas da maior comunidade da América Latina.
Na Rocinha, o pessoal dizia que ele era um filhote de gorila. Tinha mesmo toda pinta: parrudo, retinto, bonitão. Tirava onda de gorila. Mesmo assim, acabou ganhando nome de chipanzé (como o Macaco Tião, finada estrela do zoológico do Rio). Mas não era nenhum dos dois, o Tião da Rocinha era um bugio, da espécie Alouatta caraya.
De acordo com a primatóloga Cristiane Rangel, do Jardim Botânico, trata-se de um macaco da região central do país, mais comum no Pantanal. Lá, eles vivem em bandos, e os machos têm haréns de fêmeas. Como são animais silvestres, não podem ser mantidos em cativeiro sem uma autorização do Ibama.
Não se sabe como, quando e com que idade Tião chegou à comunidade.
— Há dois anos, nós sabíamos da existência desse bugio com os traficantes da Rocinha. Moradores contaram que ele andaria com o próprio Nem — diz Cristiane, referindo-se ao ex-chefe do tráfico no local, Antônio Bonfim Lopes, preso em novembro de 2011 e atualmente na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Em outubro do ano passado, às vésperas da ocupação da Rocinha, Cristiane fez um apelo a diversos policiais civis e militares. Caso encontrassem Tião, um macaco diferente, deveriam contatá-la imediatamente. Cristiane é a única primatóloga em atividade no Rio e temia pela saúde do animal silvestre.
Mas haveria uma reviravolta na trama. No sábado, dia 5 de novembro de 2011, exatos oito dias antes da ocupação, o Corpo de Bombeiros da Taquara resgatou um animal que invadiu uma casa na Floresta da Tijuca. O intruso não era um macaco prego, um mico-estrela ou um sagui-amazônico, os três tipos que habitam a cidade. Era um tal macaco diferente, que podia passar facilmente por filhote de gorila. Cristiane não tem dúvidas de que o bicho capturado era ele mesmo, o Tião:
— A descrição que tínhamos do macaco da Rocinha batia exatamente com o que foi encontrado. O dono deve ter mandado soltá-lo na floresta, pois, provavelmente, não poderia levá-lo na fuga. Que eu saiba, nunca havia aparecido um Alouatta caraya por aqui.
Tião (ou seu sósia) foi entregue pelos bombeiros ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Estácio de Sá (CRAS), em Vargem Pequena. Lá, o veterinário Jeferson Pires e um grupo de voluntários tratam de animais feridos e/ou apreendidos. Neste ano, foram quase 500 gambás, 300 pinguins e quatro falcões peregrinos. Nenhum bugio do pantanal havia passado pelo CRAS. Confusos, os estagiários que receberam o bicho acreditaram que se tratasse de um “macaco prego diferente”, como disseram.

Em Alto Paraíso, no estado de Goiás, o fim do mundo é o máximo



  • Cidade, que segundo místicos escapará da catástrofe prevista pelos maias, se prepara para receber multidões


Construção em forma de disco voador e um boneco ET na entrada da cidade de Alto Paraíso de Goiás
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Construção em forma de disco voador e um boneco ET na entrada da cidade de Alto Paraíso de Goiás Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Alto Paraíso, GO - O fim do mundo virou conversa de bar em Alto Paraíso. Às vésperas do dia 21 de dezembro, data que, de acordo com o calendário maia, encerra um ciclo de 5.125 anos e marca o fim do planeta, a cidade do interior goiano, encravada na Chapada dos Veadeiros, só pensa nisso. Não é à toa. Cético ou crédulo, difícil é encontrar algum morador alheio ao assunto. A crença de que a localização da cidade pode protegê-la do apocalipse fez a venda de terrenos explodir este ano.
As reservas nas pousadas para a próxima sexta-feira estão esgotadas. Com medo de desabastecimento, a prefeitura orientou a população a estocar comida. Até os que não dão bola para a previsão temem que, pelo menos em Alto Paraíso, o mundo acabe de verdade.
Cortada pelo paralelo14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, Alto Paraíso fica sobre uma placa de quartzo de quatro mil metros quadrados cercada por rochas e paredões. Os místicos acreditam que a força dos cristais protege a cidade de qualquer Armagedom. A dúvida é o quanto poderá protegê-la da horda de turistas. A prefeitura estima dez mil, numa cidade com sete mil habitantes.
O trauma da virada de 1999 para 2000 ainda está fresco na memória local. Naquele ano, uma conjunção inédita de astros também profetizava o fim dos tempos. O resultado foi uma crise de abastecimento nos supermercados e um apagão pela sobrecarga elétrica devido aos três mil turistas.
— Algumas pousadas estão contratando gerador de energia — explica o corretor imobiliário Nilton Kalunga, que se prepara para o seu segundo fim do mundo.
Outra medida é o estoque de comida, incentivado pela prefeitura. O arquiteto alemão Alexander Potratz, que desde 1976 adota o nome Satya, tem um balde de feijão no porão:
— Se o mundo não acabar, eu revendo e ganho em cima. Só não quero ser pego desprevenido — brinca Potratz.
A secretária de Turismo de Alto Paraíso, Fernanda Inês Montes, de 23 anos e piercing no nariz, diz que ruas serão interditadas para impedir o grande fluxo de carros. Hospitais próximos foram avisados para reforçar o plantão. O batalhão de polícia deverá aumentar o efetivo. Na dúvida, a secretária aconselha:
— Eu mesma tenho comprado velas para o caso de faltar energia elétrica. E, embora não acredite no fim do mundo, minha família, de Minas, vem passar aqui perto de mim.
Em parte devido à crença de que só Alto Paraíso vai se salvar, em parte devido à procura de europeus, o preço dos imóveis na cidade disparou: o metro quadrado de terreno dobrou, em média, de R$ 30 para R$ 60, diz o corretor Nilton Kalunga, dono da principal imobiliária da cidade:
— Nos últimos 40 dias, as vendas cessaram. Efeito do fim do mundo.
Entre as centenas de místicos e religiosos da cidade, poucos creem no fim do mundo no dia 21. Mas acham que não vai demorar.
Juiz aposentado e ufólogo, João Tadeu Severo de Almeida comprou o maior hotel da cidade, reformou os 26 quartos e decorou o espaço com bonecos de extraterrestres e luzes estroboscópicas verdes, pertinentes para quem diz ter avistado ETs em duas ocasiões só este ano. Para sexta-feira, preparou uma programação especial: contratou o show de um cover de Raul Seixas para o baile “O dia em que a Terra parou” e comprou um estoque de uísque e cerveja.
— Não acredito no fim do mundo para agora, mas acho que está próximo — sentencia.
A cidade terá uma programação de shows. O convidado especial será Paulinho Moska, autor de “O último dia” (Meu amor/ O que você faria se só te restasse esse dia?/ Se o mundo fosse acabar...). Artistas locais devem se apresentar. Cigarrilha de palha na mão, cabelos encaracolados compridos, o cantor Júnior Tana, estudioso das profecias maias há oito anos, diz que não será no dia 21 o tão temido momento. Tanto que marcou seu show para o dia 22.
Precavido com o primeiro apocalipse frustrado, o corretor Kalunga promete que, para além das grandes catástrofes ou pequenas confusões, uma ida a Alto Paraíso pode virar a cabeça de uma pessoa:
— Se você tiver tendência de ser doido, endoida. Se tiver tendência a virar a mão, vira baitola. Se chega macho, fica feroz. Solteiro, casa. Casado, separa. É tudo devido à energia do cristal.

Gilberto Miranda, um profissional do submundo da política


Ex-professor de natação, ex-senador fez amigos poderosos, ficou milionário e, agora, deve explicações à Justiça


SÃO PAULO - Um carro antigo sobre o piso de mármore chama a atenção de qualquer visitante. Nas paredes, obras de arte disputam espaço com a decoração espalhafatosa. Era nessa mansão de 1.422 metros quadrados, no bairro dos Jardins, em São Paulo, que Paulo Vieira, apontado como chefe da quadrilha desbaratada na Operação Porto Seguro, fazia reuniões para negociar a venda de pareceres jurídicos em órgãos federais. A casa, segundo a Polícia Federal, pertence ao ex-senador Gilberto Miranda, filho de família pobre de São José dos Campos, ex-professor de natação, que se tornou figura influente no mundo político. Afastado do Congresso Nacional desde 2005, teve o nome envolvido em uma série de escândalos, mas jamais perdeu o poder de influenciar decisões em Brasília.

A mansão de festas dos Jardins também é usada para hospedar convidados do ex-senador de passagem por São Paulo. A Polícia Federal flagrou dormindo no local, no dia 23 de novembro, quando deflagrou a Operação Porto Seguro, o então diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Tiago Pereira Lima. O flagrante foi fundamental para que Lima fosse denunciado à Justiça pelo crime de corrupção passiva pelo Ministério Público Federal, na última sexta-feira.O que se sabia até então sobre a casa das negociatas do grupo de Paulo Vieira era que o local servia de palco para as badaladas festas oferecidas por Miranda a seus amigos. Foi na casa de festas, por exemplo, que o publicitário e apresentador de TV Roberto Justus comemorou os seus 55 anos, em maio de 2010. Miranda e a mulher vivem em outra mansão, também nos Jardins.
O imóvel havia sido negociado em 2006 por R$ 10,8 milhões. Está registrado hoje em nome da Brasil Empreendimentos e Participações Ltda (Braemp), que tem como principal proprietária uma empresa com sede na Holanda. A empresa tem capital social de R$ 103,9 milhões e seu objeto social é a participação em outras empresas.


Denúncias de Valério provocam briga explosiva com alto risco político


Petistas defendem a todo custo ex-presidente Lula depois de acusações feitas por operador do mensalão



    
Marcos Valério, condenado pelo STF, despertou reações de petistas em defesa de Lula
Foto: Marcelo Prates/Hoje em Dia
    Marcos Valério, condenado pelo STF, despertou reações de petistas em defesa de Lula Marcelo Prates/Hoje em Dia
    BRASÍLIA e SÃO PAULO - A briga entre o PT e o operador do mensalão, Marcos Valério, promete ser explosiva, com risco político ainda não mensurado a partir da decisão do partido de sair em defesa inconteste do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o teor do depoimento de Valério veio à tona na última semana, o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), chamou Marcos Valério de delinquente e disse que ele deveria estar mais preocupado com as condições dos presídios do que em atacar Lula. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, se disse indignado ao ver Lula ser “atacado por uma pessoa que está condenada, não tem nenhuma credibilidade”.
    Orientados pela cúpula, os petistas dizem que a decisão é mesmo essa: reagir de maneira contundente para intimidar Marcos Valério e evitar que ele envolva outros personagens na história, sem apresentar provas.Ao defender o ex-presidente e desqualificar Marcos Valério, o PT sabe que pode estar incriminando, indiretamente, os companheiros petistas já condenados pelo Supremo no julgamento do mensalão. Não há outra saída a não ser defender Lula, dizem os petistas, sobre o patrimônio maior do partido.
    O deputado Paulo Teixeira (SP) afirma que, diante do que considera mentiras do empresário, é preciso reagir. Lembra que “as entranhas do partido já foram expostas durante a CPI dos Correios”, e que não há nada que Valério possa acrescentar de novo. O que ele quer, diz o petista, é a redução da pena:
    — Ele mais ouviu falar sobre o funcionamento do partido do que o conheceu de fato. Ele se aproximou de pessoas do PT, ouviu comentários sobre vários assuntos e acabou reproduzindo. Foi vítima de sua própria curiosidade e achou que ficaria impune. O problema dele agora é saber como vai ser na cadeia, que tipo de comida vão servir lá. É um delinquente, não tem a mínima credibilidade mais.
    Já o secretário nacional de Comunicação do PT, André Vargas, afirma que o partido está mais preocupado em atacar as condições em que o depoimento foi prestado do que com a credibilidade de Valério.
    — Ele era um homem desesperado à procura de diminuir sua pena. Em princípio, o depoimento, puro e simplesmente, não deveria ser levado a sério. Ao dar credibilidade a uma pessoa que procura a delação premiada, presumindo a culpa dos acusados e não a inocência, a imprensa erra.
    Vargas faz críticas à imprensa:
    —Não foi assim quando o Fernando Henrique (Cardoso) foi flagrado em um grampo telefônico favorecendo um grupo na privatização das teles, e só se discutiu se o grampo era criminoso ou não. Não faço crítica ao Marcos Valério, acho excessiva a pena dele e as dos outros réus. Mas o Lula é muito maltratado comparativamente. Este é o centro da minha fala e eu acho até que você não vai publicar — afirmou ele à reportagem do GLOBO.
    Do lado da oposição, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) aposta que essa contraofensiva lulista vai trazer novas denúncias. Ele diz que o acordo de proteção recíproca celebrado entre Valério e o PT na época da CPI dos Correios agora foi quebrado. Considera que Marcos Valério, ao ser condenado a mais de 40 anos, ficou muito angustiado e seu estado de espírito é de alguém que não teve compromissos cumpridos.
    O tucano acredita que, quanto mais Valério se sentir acossado pela cúpula petista, mais lenha poderá colocar na fogueira:
    — Significa que pode haver exacerbação dos dois lados e, com Valério fustigado, podem surgir mais acusações.
    Para cientista político, “PT está agindo na névoa da guerra”
    O cientista político da Universidade de Brasília Paulo Calmon tem uma análise mais cautelosa a respeito do episódio. Para ele, a reação do PT ao depoimento de Valério é natural, já que o patrimônio político do partido está diretamente associado à imagem do ex-presidente, e precisa ser defendido.
    Mas, para o professor, ainda é cedo para medir as consequências, já que a credibilidade dos fatos relatados por Valério ainda não foi comprovada:
    — O PT está agindo na névoa da guerra, sem ter todas as informações e sem ter a clareza do que está acontecendo. Diante dos ataques, o partido tenta se preservar da melhor maneira que pode. Mas ainda é difícil estimar as consequências.
    Para o cientista político do Insper/SP Humberto Dantas é uma incoerência do partido criticar Marcos Valério pelo fato dele ter sido considerado um criminoso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
    — O que o José Dirceu tem de diferente do Marcos Valério em relação ao crime (que cometeram)? Foram julgados rigorosamente no mesmo processo e incriminados de maneira muito semelhante. Por que a sociedade tem que achar que o José Dirceu foi um injustiçado e que o Valério é um criminoso? Os dois participaram das mesmas aberrações — defende o cientista político, que cobra de Marcos Valério a apresentação de provas do que diz, não porque está na situação de criminoso, “mas porque assim a Justiça exige”.
    — O PT está utilizando um tipo de discurso usado na política há anos, e mostra que não tem absolutamente nada de diferente em relação aos outros partidos — completa Dantas.
    Já o cientista político Antônio Lavareda acredita ser relevante lembrar da condição de Valério ao fazer suas denúncias e diz ver consistência nos argumentos tanto da oposição quanto da situação:
    — Se um ex-presidente da República é acusado de cometer ações criminosas, o Ministério Público deve apurar esse comportamento e as denúncias. De outro lado, se as denúncias são feitas por alguém sabidamente desqualificado e que as faz porque está em busca do prêmio da delação premiada, é preciso considerá-las com certa cautela. As duas premissas são verdadeiras. Cabe ao Ministério Público pesar as duas coisas na balança. É uma das raras ocasiões em que os dois lados, oposição e situação, têm razão — diz o cientista político.
    Autor de um recém-lançado livro com uma análise sobre o mensalão, o historiador Marco Antônio Villa, da UFSCar, diz acreditar que o PT não “joga seus condenados ao mar” quando critica Valério.
    — Houve um recuo estratégico, mas nada demais. Este ataque a Valério não prejudica os réus (do PT) — diz o historiador, para quem o partido sempre defenderá suas lideranças, a qualquer custo, se não institucionalmente, pelo menos por meio de outros braços do partido, como movimentos sociais e entidades usadas como “correias de transmissão”. Através delas, atacarão sempre a independência do Judiciário e da imprensa propondo um revisionismo do processo do mensalão, acredita ele. (Colaborou Thiago Herdy)

    Dilma prepara discurso otimista e PT 'acalma' revoltados para preservar Lula


    Planalto comanda defesa do ex-presidente, após avaliação de que oposição quer desconstruir sua imagem para enfraquecer campanha à reeleição; ao mesmo tempo, partido tenta conter insatisfeitos que podem trazer a público novas denúncias

    15 de dezembro de 2012 | 16h 20
    Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

    BRASÍLIA - Na tentativa de conter o desgaste na seara política, a presidente Dilma Rousseff usará o pronunciamento de fim de ano para fazer um balanço otimista da primeira metade de seu mandato, apesar do fiasco na economia, e destacar que o País criou alicerces para o crescimento. Dilma avalia que a oposição só está empenhada em desconstruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para enfraquecê-la na disputa pela reeleição, em 2014, e quer mostrar que o Brasil vive hoje uma “nova fase”.

    O pronunciamento de Dilma,em rede nacional de rádio e TV, ocorrerá perto do Natal, como de praxe, e será gravado nesta semana. No momento em que a economia tem desempenho pífio, o PT é alvejado pelo julgamento do mensalão e Lula fica na berlinda, denunciado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o marqueteiro João Santana alertou o governo sobre a necessidade de jogar os holofotes sobre as conquistas da gestão Dilma.

    Ao mesmo tempo, emissários do PT tentam acalmar petistas revoltados, como Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência, em São Paulo, Freud Godoy, ex-assessor de Lula, e Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Todos foram flagrados em escândalos, perderam os seus cargos e fazem ameaças veladas de envolver integrantes do governo nas operações irregulares.

    A estratégia do Palácio do Planalto para conter o que o PT define como tentativa da oposição de “matar” Lula para atingir Dilma tem várias frentes. Uma delas é a defesa do legado lulista. A outra consiste em tirar projetos parados do papel e criar uma agenda para mostrar que o terceiro ano de governo é sempre melhor. A tática prevê, ainda, o apoio à criação de uma CPI para investigar a “privataria tucana”, em 2013.

    O objetivo declarado da CPI,ainda não aprovada, é vasculhar o processo de privatização de estatais no governo Fernando Henrique (1995-2002). Na prática, porém, o PT está dando o troco à ofensiva liderada pelo PSDB, DEM e PPS, que pedem investigação contra Lula na Procuradoria-Geral da República. A representação foi feita depois que Marcos Valério, operador do mensalão, disse ao Ministério Público, em depoimento divulgado pelo Estado,que o esquema da compra de votos parlamentares ajudou a bancar despesas de Lula.

    Bandejão.“Parece que ele (Marcos Valério) pegou uma série de fatos e fez um bandejão para ver se colava, mas não há prova de nada”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Trata-se de uma tentativa desesperada de alguém condenado a 40 anos de prisão, no julgamento do Supremo Tribunal Federal, para conseguir pena menor.”

    Em viagem internacional, Dilma enviou recado pedindo a ministros, parlamentares e governadores do PT que saíssem em apoio a Lula, como ela própria fez, ao considerar “lamentáveis” as tentativas de desgastar o ex-presidente. No Planalto, auxiliares da presidente afirmam que Lula “é como um gato, que tem sete vidas” e não será acuado por um réu “sem credibilidade”.

    O ambiente hostil entre governo e oposição antecipa a briga pela Presidência, daqui a dois anos. “Vamos deixar que o Brasil julgue e avalie se Marcos Valério tem ou não credibilidade”, provocou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à cadeira de Dilma. “O que eu vejo é que esse empresário assusta, e assusta muito, grande parte do PT, que manteve com ele relações muito íntima.”

    Enquanto petistas passaram os últimos dias apontando o dedo para o “mensalão tucano”, com origem em Minas, o PSDB explorou os escândalos que chegaram até o escritório da Presidência, em São Paulo. Nomeada por Lula, Rosemary foi demitida por Dilma, mas a máfia dos pareceres fraudulentos desvendada pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, pode ter ramificações que vão além das agências reguladoras e da Advocacia-Geral da União.

    “É preciso um freio de arrumação na política do País e do governo”, afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC). “Com tanta coisa que temos para fazer, consumir o tempo com esse enfrentamento estéril não leva a nada.”

    Para Viana, Dilma deve aproveitar sua popularidade e andar mais pelo País, em 2013, assim como Lula, que pretende reeditar as “caravanas” feitas nas campanhas.“Ela precisa adotar uma posição firme e dizer a todos que virem essa página do confronto político, para a gente poder trabalhar”, insistiu o senador, que é ex-governador do Acre e tem bom relacionamento com o PSDB. 

    Nesta semana, porém, uma nova batalha entrará em campo no Congresso, quando a oposição tentará, mais uma vez, pôr o PT na defensiva e aprovar as convocações de Marcos Valério, de Rosemary e do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.

    “Estamos numa guerra onde quem bate, leva”, admitiu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). Futuro secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo,Tatto foi criticado até no PT pela iniciativa de propor a convocação de Fernando Henrique, que acabou aprovada. “Eu confesso que a capacidade do PT de produzir uma agenda negativa é maior do que nossa capacidade de enfrentá-la”, ironizou Aécio. 

    O STF deve se lembrar de Adauto Lúcio Cardoso, por Elio Gaspari



    Elio Gaspari, O Globo
    Se não prevalecerem as almas de bom-senso, o Supremo Tribunal Federal irá para um conflito de poderes com o Congresso por causa dos mensaleiros condenados pela Corte. Por quatro votos contra quatro, está empatada a votação que poderá determinar a cassação dos mandatos de parlamentares delinquentes. O desempate virá do ministro Celso de Mello.
    Os juízes do Supremo são os guardiães da Constituição e suas decisões projetam-se sobre o funcionamento das instituições. Se a votação está empatada, é porque a Corte dividiu-se quanto ao nó da questão: o mandato dos mensaleiros é deles ou encarna a vontade de seus eleitores?
    Se é deles, uma vez condenados pelo Judiciário, é razoável que o percam, como perderia o emprego um motorista. Se o mandato é dos eleitores, paciência, a decisão é do Legislativo. Essa posição foi serenamente exposta pela ministra Rosa Weber.
    Uma trapaça da História jogou em cima do ministro Celso de Mello a questão maior. Seu voto decidirá se o Judiciário pode cassar mandatos a partir de condenações criminais.
    Interpretando a legislação da ditadura, o STF mandou para a cadeia o deputado Francisco Pinto por ter chamado o general Augusto Pinochet de ditador. Apequenou-se. Já o Congresso foi fechado em duas ocasiões porque defendeu a sua prerrogativa de julgar parlamentares. Engrandeceu-se.
    Hoje, o Supremo está na gloriosa situação que Luiz de Camões chamou de “outro valor mais alto (que) se alevanta”. Fez o que muita gente gostaria que se fizesse e esperava por isso há tempo.
    Mesmo assim, a poética camoniana pode ser tóxica para as instituições. Os três Poderes da República são independentes. O Judiciário condena, mas quem cassa é o Congresso. Se o Supremo decidir que os mensaleiros devem perder o mandato, cria-se um desequilíbrio entre os Poderes da República que só tem a ver com as delinquências dos mensaleiros num aspecto pontual.
    Estabelece-se uma norma: 11 magistrados escolhidos monocraticamente pelo presidente da República podem cassar mandatos de parlamentares eleitos pelo povo. Essa responsabilidade é temerária e excessiva.
    Hoje, se um larápio continua na Câmara ou no Senado, a responsabilidade é do Legislativo. Amanhã, outro Supremo poderá encarcerar outro Chico Pinto.
    Ressalvada a diferença entre o regime democrático de hoje e a ditadura envergonhada do governo do marechal Castello Branco, vale relembrar um episódio no qual havia um poder mais alto alevantado.
    Em 1966, mesmo tendo garantido que não cassaria mandatos de parlamentares, o Executivo passou a faca em seis deputados. O presidente da Câmara, Adauto Lúcio Cardoso, recusou-se a aceitar a decisão. Ele não era maluco, era apenas um liberal valente. Enfrentara a esquerda no governo João Goulart e apanhara da polícia de Carlos Lacerda defendendo-a. O marechal chamou a tropa e Adauto teve o seguinte diálogo com o coronel Meira Mattos, que comandou o sítio:
    “Estou admirado de vê-lo aqui, coronel, não para cumprir um decreto, para o cerco ao Congresso”.
    “E eu, admirado por sua atitude antirrevolucionária”, respondeu Meira Mattos.
    “Eu sou, antes de mais nada, um servidor do poder civil”.
    “E eu, deputado, um servidor do poder militar”.
    Mais tarde, Castello nomeou Adauto para o Supremo Tribunal e lá ele abandonou a Corte quando seus pares legitimaram a censura à imprensa.
    O Poder Judiciário de hoje nada tem a ver com o poder revolucionário do coronel. Sua tropa é a da opinião pública. Hoje, como em 1966, o que está em questão é a independência do Congresso, em cuja defesa Adauto foi a um extremo simbólico. Ele sabia que os seis deputados estavam fritos.
    Se a decisão de cassar os mensaleiros ficar com a Câmara, é quase certo que eles perderão os mandatos.
    Admita-se, contudo, que isso não aconteça. Dois ministros levantaram essa hipótese. Gilmar Mendes expôs o absurdo que seria a situação de um deputado ter mandato com hora para se apresentar na cadeia.
    Joaquim Barbosa foi a um paralelo: “Na vida política dos Estados Unidos, essa discussão sequer chega a ocorrer. Um parlamentar envolvido em crimes tão graves como esses renuncia imediatamente, não permanece na Câmara à espera de uma proteção”.
    Barbosa acertou quanto aos costumes, mas a Constituição americana não dá ao Judiciário o poder de cassar mandatos. É comum que os mensaleiros americanos renunciem para não serem expelidos pelas Casas legislativas.
    Contudo, indo-se ao cenário extremo do caso brasileiro, nos Estados Unidos ocorre o contrário. Três deputados condenados mantiveram-se nos mandatos. Dois foram reeleitos enquanto estavam na cadeia. O terceiro, Jay Kim, em 1998, foi condenado a um ano de prisão domiciliar por ter embolsado US$ 250 mil pelo caixa dois. Como era deputado, o juiz colocou-lhe uma pulseira eletrônica no tornozelo e ele só podia sair de casa para ir ao Congresso. Foi cassado pelos eleitores, nas prévias de seu partido.