sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um zumbi na Casa do Espanto


NELSON MOTTA


"Não acredito", bradou aos céus o deputado Natan Donadon, caindo de joelhos em patética pantomima, quando viu no placar da Câmara 131 votos a favor, 41 abstenções e 108 bem-vindas ausências, que mantinham o seu mandato e o consagravam como o primeiro deputado-presidiário da nossa história. Que ronco das ruas que nada, eles não ouvem e não têm medo, e mais uma vez votaram, ou fugiram, em causa própria, porque também acumulam processos na Justiça e podem ser o Donadon de amanhã. 

"Não a-cre-di-to" digo eu, dizemos nós, diante da cena inacreditável, mas quando se trata dos 300 picaretas que Luiz Inácio falou deve-se acreditar em tudo, porque de tudo eles são capazes. Nunca na história deste país houve um deputado-detento, mas Lula agora diz que fica puto quando falam mal de políticos. 

Zoologicamente é fácil identificá-los: andam em bandos, têm pelagem acaju, negro graúna ou raposa prateada, alimentam-se de verbas públicas e são pacíficos e afáveis, condição necessária para seus golpes e tramoias, mas quando ameaçados podem se tornar hostis e violentos em defesa dos privilégios e impunidades do bando. Seu habitat natural é a Câmara dos Deputados. 

Donadon é o símbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que existe para dar voz e poder aos representantes dos eleitores, mas, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado pelo STF, que teve amplo direito de defesa e usou todos os recursos e chicanas para retardar o processo. 

Aprendi com meu pai que é covardia tripudiar sobre os caídos, que a compaixão beneficia mais quem se compadece do que ao compadecido, que perdoar é mais leve do que carregar o saco do rancor e do ressentimento. Mas no caso desse picareta foram ele e seus colegas de trabalho que tripudiaram sobre todos os cidadãos honestos e as instituições democráticas. 

E também sobre os presidiários. Reclamando da comida, da falta de água, das algemas, do camburão "escuro como um caixão", viveu a realidade diária dos presos brasileiros, a maioria por crimes menores que os dele, que prejudicaram toda a sociedade.
"Donadon é o símbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado".
Publicado no Globo de hoje.


charge de Amarildo

 

Cartas de Seattle: Brasilidade expatriada, por Melissa de Andrade


Quando me diziam que os americanos eram preconceituosos com quem não nasceu nos Estados Unidos, que me tratariam como “menor” por eu ser latina e que eu não conseguiria me integrar por ser estrangeira, eu respondia com desdém e me preparava para não começar a nova vida no exterior carregada com os estereótipos da cabeça de outras pessoas.
Sabe para que eu não estava preparada? Para descobrir que muitos brasileiros é que são preconceituosos com outros brasileiros que resolveram morar no exterior. Que uns me chamariam de deslumbrada quando eu elogiasse algo do país novo, me acusariam de ter virado americanizada e me mandariam “honrar minhas raízes”. E que outros me chamariam de ingrata quando eu achasse alguma coisa ruim, me repreenderiam por criticar “o país que fez o favor de me acolher” e me mandariam ir embora se não estou gostando.
Uns e outros partem de princípios equivocados. Elogiar outro país não é necessariamente uma crítica implícita ao Brasil. Gostar de outro país não exclui gostar do Brasil. Escolher outro país para morar não significa aprovar 100% do que existe lá.
E, talvez mais importante, o sentimento de pertencer a um lugar não é determinado pela certidão de nascimento. Nem pela etnia. Nem pelo sotaque. Nem pelos anos fincados naquele lugar.

Foto: Roger Ward @CC

Numa cidade internacional como Seattle, que atrai gente de tantos países, tenho encontrado pessoas que dividiram a vida em cidades bem diferentes das cidades onde nasceram. Ou então pularam de cidade em cidade – não raro de país em país – por necessidade, aventura, estudo, trabalho, genealogia, ansiedade, sede de viver. Cada uma delas tem uma história de adaptação e de ajustamento. Cada uma delas se sentiu mais ou menos parte do lugar onde estava vivendo, dependendo de um monte de variáveis que inclui a fase da vida de cada um.
Pertencer tem a ver com integração. Com cultura, trabalho, referências, contexto, relacionamentos. Olhar ao redor e se sentir familiarizado. Confortável. Inteiro. Pertencemos aonde escolhemos viver a partir do momento em que nos sentimos inseridos no contexto.
Não sei se isso é papo de deslumbrada ou de ingrata, mas sei que a conversa vai longe. Ainda bem que esta é só a Carta de Seattle de número 100.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

Novo salário mínimo não prejudicará a criação de empregos, diz ministro




O ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, disse ontem (29) que o aumento do salário mínimo não prejudicará a geração de empregos e o esforço fiscal do governo previsto para 2014. O novo mínimo, previsto no Orçamento (R$ 722,90), deverá entrar em vigor em 1º de janeiro de 2014.
“Não vai impactar [o esforço fiscal]. O governo tem o controle das contas, tem superávit para administrar, também, a questão do dólar. O governo tem o controle de todos os setores para não incorrermos em qualquer perigo de insucesso”, disse em entrevista antes de evento no Centro de Integração Empresa-Escola, na capital paulista.
A meta de superávit primário (economia para pagar os juros da dívida pública) no próximo ano poderá ficar acima de 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB), estipulados na proposta de Orçamento Geral da União de 2014. Segundo o Ministério da Fazenda, o percentual anunciado pelo governo representa o limite mínimo de esforço fiscal. O projeto enviado hoje ao Congresso Nacional estabelece esforço fiscal de R$ 109,4 bilhões (2,1% do PIB), menor que a meta de R$ 111 bilhões (2,3% do PIB) definida para este ano.
De acordo com o ministro do Trabalho, o novo salário mínimo não afetará negativamente a geração de empregos, porque o país está recebendo grandes investimentos. “Não vai ter [impacto na geração de empregos] porque os investimentos que o Brasil está tendo são enormes. Cada dia mais nós temos os estádios para a Copa, agora estamos fazendo os aeroportos, fazendo a obras de mobilidade urbana. Estamos leiloando os portos, temos várias construções da Petrobras. Há uma circulação muito grande de investimentos e esse investimento exige mão de obra”, disse Dias.
O novo valor do salário mínimo deverá ser R$ 722,90. A proposta de Orçamento, apresentada hoje, deve ser votada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado até o fim do ano. O reajuste passa a valer em 1º de janeiro de 2014. O valor atual do mínimo é R$ 678.
Informações Agência Brasil

Voltar às ruas adianta? Parece que não

www.ericovalduga.com.br
 
  DESTAQUE
30.08.2013
Política


Continua a impunidade, apesar dos protestos populares: espírito de corpo parlamentar segue protegendo ladrões de papel passado; vai acabar mal
OS DEPUTADOS FEDERAIS DESMORALIZARAM mais um pouco o poder Legislativo, com a cumplicidade da maioria dos juízes do Supremo Tribunal Federal, que lhes deu a última palavra para decidir sobre a perda de mandato de parlamentar condenado pela Justiça em decisão final. Sentenciado a 13 anos de prisão por formação de quadrilha e desvio de R$ 8 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia, o peemedebista Natan Donadon não foi cassado nesta quarta-feira por ter recebido 233 votos em favor de sua punição, 24 a menos do que a maioria necessária (257, metade, mais um) dos 513 colegas. 

DO TOTAL, 104 SEQUER compareceram à votação – 14 deles do Rio Grande do Sul. Votação secreta, claro, que esconde o corporativismo e a covardia. Mas, para que a fraude ao eleitor e à ética da representação ficasse menos escandalosa, o vício prestou à virtude o tributo da hipocrisia: o ladrão foi suspenso do mandato logo após a apuração dos votos, pelo presidente da Mesa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

UMA IMORALIDADE DA ESPÉCIE, prezados leitores, não ocorre por acaso. Tem todo o jeito de ter sido cuidadosamente tramada pela direção da Casa e pelos líderes das principais bancadas, com apoio do comando dos seus partidos. E é bem possível que tenha sido um teste para avaliar como os cidadãos brasileiros receberiam a repetição do engodo no caso dos deputados condenados no Mensalão, João Paulo Cunha e José Genoíno (ambos do PT), Pedro Henry (PP) e Valdemar Costa Neto (PR). 

SEJA COMO FOR, constata-se outra vez a imperiosa necessidade de alteração no processo eleitoral, para dar ao eleitor melhores condições de avaliar os concorrentes nas campanhas eleitorais, e permitir-lhe cobrar deles comportamentos dignos se eleitos. Isto nada tem a ver, observe-se, com o safado financiamento público ou as ineptas listas de candidatos. A propósito, existisse aqui o mecanismo do recall, os mandatários pensariam duas vezes antes de prejudicar a política, a insubstituível arte de governar. 

Os 11 prédios mais altos do Brasil


size_590_Centro_de_SP
O prédio mais alto do mundo fica em Dubai, nos Emirados Árabes, e é um dos principais pontos turísticos da região: o Burj Khalifa, com impressionantes 828 metros de altura e 163 andares.
No Brasil, a construção mais alta não chega nem perto: são 170 metros e 51 andares no Mirante do Vale, em São Paulo. Não foram consideradas construções ainda em andamento ou em processo de finalização.
Diferentemente do que acontece em outras partes do mundo, por aqui a lista dos maiores prédios é ocupada principalmente por edifícios comerciais. Na lista global, os primeiros lugares são, na sua maioria, ocupados por prédios de residencias ou hotéis.
Entre os cem primeiros listados pelo Conselho de Prédios Altos e Habitação Urbana (CTBUH, na sigla em inglês), não há nenhum representante brasileiro. No ranking da América Latina, o Mirante do Vale aparece em 15º.


1. Mirante do Vale (Palácio W. Zarzur), São Paulo
Altura
:170m
Andares: 50
Conclusão: 1967
Uso: escritórios
Posição no ranking da América Latina: 15º lugar
size_590_mirante-do-vale2. Edifício Itália, São Paulo
Altura
: 165m
Andares: 46
Conclusão: 1956
Uso: escritórios
Posição no ranking da América Latina: 17º lugar
size_590_edificio-italia3. Villa Serena Torre B, Balneário Camboriú
Altura: 164m
Andares: 49
Conclusão: 2012
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 18º lugar
size_590_villa-serena3. Villa Serena, Torre A, Balneário Camboriú
Altura
: 164m
Andares: 49
Conclusão: 2012
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 18º lugar
size_590_villa5. Rio Sul Center, Rio de Janeiro
Altura: 163,1m
Andares: 48
Conclusão: 1982
Uso: escritórios
Posição no ranking da América Latina: 20º lugar
size_590_rio-sul6. Torre do Banespa (edifício Altino Arantes), São Paulo
Altura: 161m
Andares: 36
Conclusão: 1947
Uso: escritórios
Posição no ranking da América Latina: 23º lugar
size_590_Prédio_do_Banespa_no_centro_de_São_Paulo7. Torre Norte (CENU), São Paulo
Altura: 158m
Andares: 38
Conclusão: 1999
Uso: escritórios
Posição no ranking da América Latina: 28º lugar
size_590_cenu8. Jabuticabeiras, Magnólias, Begônias e Reseda (Cidade Jardim), São Paulo
Altura: 157,9m
Andares: 41
Conclusão: 2008
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 29º lugar
size_590_Parque_Cidade_Jardim9. Ipês e Zineas (Cidade Jardim), São Paulo
Altura: 157,9m
Andares: 41
Conclusão: 2008
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 29º andar
size_590_jhsf_cidadejardim_torres_5910. Limantos (Cidade Jardim), São Paulo
Altura: 157,9m
Andares: 41
Conclusão: 2008
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 29º lugar
size_590_Shopping_Cidade_Jardim11. Mansão Margarida Costa Pinto, Salvador
Altura: 154,5m
Andares: 43
Conclusão: 2008
Uso: residencial
Posição no ranking da América Latina: 39º lugar
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Fonte: Exames

CHrARGE DO AMORIM


Esta charge do Amorim foi feita originalmente para o

Elio Gaspari: A diplomacia de Lula e Dilma está avacalhando uma linda tradição — o direito de asilo


O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo (Foto: AP)
O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo (Foto: AP)
Artigo de Elio Gaspari, publicado na seção Opinião do jornal O Globo
UMA DIPLOMACIA ESTUDANTIL
A doutora Dilma tem dois chanceleres, um no Planalto e outro no Itamaraty. Apesar disso, restou ao Brasil uma diplomacia trapalhona, cenográfica e inepta. A desova do senador Roger Pinto no território brasileiro transformou uma conduta inamistosa do governo da Bolívia numa estudantada brasileira.
Custou o lugar ao chanceler Antonio Patriota. Ele vai para Nova York, mas o comissário Luis Inácio Adams continua advogado-geral da União. O doutor sustentou que, caso um médico cubano peça asilo territorial no Brasil, será devolvido a Cuba. Agradando o aparelho dos irmãos Castro, ofendeu a História do país e o Direito.
No ano passado o Brasil meteu-se noutra estudantada, expulsou o Paraguai do Mercosul e agora corteja seu governo. É uma diplomacia de palavrório e negócios. Patriota foi um detalhe.
A ideia segundo a qual o encarregado de negócios do Brasil em La Paz contrabandeou o senador até a fronteira com o Brasil porque apiedou-se de seu estado emocional é pueril. Se os embaixadores começassem a ser orientados pelos seus sentimentos, seria melhor fechar a Casa. A boa norma determina que um governo dê o salvo-conduto a um asilado em algumas semanas. No exagero, alguns meses.
O presidente Evo Morales não quis fazer isso. Direito dele. O ex-presidente peruano Haya de la Torre ralou cinco anos numa sala da embaixada da Colômbia em Lima. O cardeal Jozef Mindszenty, outros quinze na embaixada dos Estados Unidos (que não são signatários das convenções de asilo diplomático) na Hungria.
Se alguém pensou que combinou a fuga com Evo Morales, fez papel de bobo e transformou o algoz em vítima. Transferiu o vexame para o diplomata Eduardo Sabóia, deixando-o numa posição de franco-atirador. Coisa parecida, fez no mundo dos negócios, quando transferiu para o embaixador do Brasil em Cingapura uma transação meio girafa que favorecia os interesses do empresário Eike Batista.
A maneira como a diplomacia de Lula e da doutora lidou com o instituto do asilo revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de brasileiros perseguidos por motivos políticos.
Ele ampara gregos e troianos.
Em 1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana.
Anos depois oficiais golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias.
Carlos Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas estrangeiras.
Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras.
Contudo, nem mesmo Médici deportou estrangeiros para países onde poderiam ser constrangidos.
Isso ocorreu durante a gestão do comissário Tarso Genro no Ministério da Justiça, com dois boxeadores cubanos que, posteriormente, voltaram a fugir da Ilha.
O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo.