quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

LEITURA ATERRORIZANTE - PAULO CASTELO BRANCO


Diário do Poder

As luzes da mesa de cabeceira da presidente Dilma devem estar acesas durante a madrugada. A presidente é leitora voraz e, segundo consta, lê tudo que lhe surge pela frente. Nesses dias de apreensão com as eleições para a Câmara e o Senado, além dos resultados que a deixaram irritada, Dilma deve ter deixado de lado os livros de temas amenos para se debruçar nos relatórios que, a cada dia, atormentam o seu viver.
A insuperável crise da Petrobrás a assusta com a possibilidade de, a qualquer hora, um delator a coloque na lista dos envolvidos diretamente com os malfeitos na empresa. A saída de Graça Foster e a dificuldade em encontrar um destemido executivo que se disponha a assumir a direção da combalida empresa e colocar a sua cabeça a prêmio, são dramas em moto contínuo que mantêm o governo sofrendo com o balanço das ondas de notícias como as ondas que atingem as plataformas em alto mar.
Desconfiada de tudo e de todos, a presidente agora está debruçada na leitura do parecer do mestre Ives Gandra que circula na imprensa e se tornou o mais lido nas redes sociais. Gandra, com a força do seu conhecimento e a credibilidade de um dos maiores nomes do Direito, elaborou parecer em que sustenta a possibilidade jurídica de proposta de “impeachment” da presidente.
O PMDB, que detém a vice-presidência da República nas mãos de Michel Temer, conceituado constitucionalista, político habilidoso e com reputação ilibada, aguarda a eventual substituição da presidente, agora com o reforço de Eduardo Cunha que, mesmo sendo da base do governo, poderá ser o algoz da aliada.
Nesta fase de crise hídrica, ainda falta muita água para passar debaixo da ponte que sustenta o governo. O desânimo das entidades representativas da sociedade civil em se manifestar duramente contra os desmandos é o ponto crucial do momento político. Na nossa traumática história de afastamento do presidente da República, no caso do ex-presidente Collor, hoje senador e aliado de Dilma, houve a união da OAB, ABI, CNBB e centenas de outras entidades que se posicionaram pelo “impeachment”, obrigando a abertura do processo político que mudou a nossa história de leniência e acobertamento de procedimentos de autoridades em detrimento do interesse público.
O senador Fernando Collor, mesmo que Dilma o mantenha afastado, poderia ser melhor conselheiro do que os seus auxiliares que, a cada opinião dada, afundam o governo e a presidente. Collor, com arrogância ou inabilidade, enfrentou a classe política, o Judiciário e desdenhou da eficiência das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal; no final, estava só e caiu.
Dilma, além de não ter o apoio dos líderes do Partido dos Trabalhadores, decidiu ser independente de Lula e segue firme para o cadafalso, de cabeça erguida como se fosse mártir de uma causa justa. Os seus admiradores na verdade não são seus, são de Lula, que criou o maior curral eleitoral da nossa história. Nunca antes neste país se viu tanta gente dependente das benesses do poder. O ex-presidente, que se comporta como candidato ao posto da sucessora, vive nas sombras, manipulando suas marionetes para desgastar Dilma que, nos últimos dias, já perdeu treze quilos mas, segundo seus nutricionistas, ainda tem muita gordura a perder.
A degola de Graça Foster não bastará para conter a sanha por cargos de ex- companheiros que serão ocupados pela base temporária que sustenta o governo. Os excluídos sairão atirando e expondo as mazelas do poder, como o faz a conceituada petista Marta Suplicy.
Se a presidente Dilma quiser fazer algo de novo para ficar no cargo, não bastará encerrar a leitura do parecer de Gandra antes do final, como se fosse um livro de histórias de terror; deverá seguir o exemplo do candidato vitorioso senador Aécio Neves: deixar a barba crescer e deixá-la de molho até a crise passar.

Califado da Testosterona - VLADY OLIVER


Da coluna do Augusto Nunes

Escrevo estas mal traçadas linhas enquanto o cheiro de piloto jordaniano queimado ainda pode ser sentido pelas redes sociais, embora o episódio tenha acontecido ainda em janeiro. É evidente que uma pergunta se repete toda vez que aquela gorilada brande suas armas e monta seu circo de matar inocentes: de onde vem a grana? Quem banca aquela farra em nome de “Deus é grande”?
É realmente díficil entender “a nova estética” da brutalidade dessa gente. Me parece que os neurônios rudes encontraram uma ligação direta entre o prazer e a submissão, entre a dor e a sublimação. “Falta bolinação naquelas terras”, garante uma entidade baiana que conheço. Deve ser. Quem lembrar de Pulp Fiction e seus detalhes sórdidos lembrará que um “escravinho” é mantido preso na loja onde serão seviciados o lutador e seu mecenas. Ele é liberado dos grilhões e das indumentárias que o flagelam apenas para servir aos seus donos.
A indigesta semelhança com a hipócrita noção de recato que essa gente defende, aquela que coloca a mulher “em seu devido lugar e papel”, é um exemplo acabado de que a evolução da espécie bateu pinos naquelas terras secas. A noção de sexo de gente assim é totalmente pervertida; pessoas saem do interior de seus casulos de roupas, com aqueles narizes enormes em riste e barbas por fazer – de ambos os “amantes” – e promovem um ritual de brutalidade e perversão, diametralmente oposto ao encontro de almas em sintonia ensejado numa relação amorosa normal.
A insistência em caricaturar o ato amoroso como um ritual de provocações e liturgias, misturando a natureza e a religiosidade num balaio esquisito, é a prova cabal do sexo a três que é imposto a esse mundo igualmente estranho. Lá é você, o outro e o Estado. Qualquer tentativa de não levar o Estado para a cama é punida com dezenas de chibatadas. Um porre. Venho reiterando que quem não brinca na infância acaba por querer brincar com brinquedos esquisitos na idade adulta.
O Estado Islâmico e a Pétrobras não se diferenciam muito no potentado que tentam erigir dos escombros dessas sociedades. O que os distingue é apenas a divulgação dos métodos de tortura e morte dos seus abusados. Enquanto no primeiro elas são uma decisão estética e individual, desenhada para chocar o mundo livre pela barbárie que ensejam, no califado dos velcros colados daqui ela se dá por um tortuoso caminho que começa no desvio de verbas públicas para manter uma macacada no poder e passa pela falta dessas mesmas verbas para as necessidades básicas da sociedade.
Quanto menos câmeras registrarem a nossa guerra por submissão, melhor será para os orangotangos de plantão. É justamente aí que as duas realidades aparentemente tão opostas se encontram. A grana para montar o califado da barbárie vem do pedágio pago pelas drogas para entrar na Europa via África. Bingo. Agora fica fácil entender o fascínio pela baioneta que ambos cultuam sobre a pobre sociedade que oprimem. Eles são irmãos, na defesa cristalizada que fazem de suas negações de infância. Faltou um degrau na evolução dessas espécies. O degrau da decência.

Por que Dilma já era sem nunca ter sido?



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

A governabilidade de Dilma Rousseff já tinha ido para o espaço antes mesmo de ela assumir o segundo mandato. Mas tudo pode ficar ainda pior. Dilma é péssima gerente de crises. Virou refém do PMDB e de Eduardo Cunha. Se não criar problemas para os aliados que a dominam, fica onde está, sem margem de manobra no poder. Caso parta para a ignorância - o risco mais alto e provável -, vai sofrer um impeachment.

Não serão escândalos de corrupção que derrubarão Dilma. O desgaste dela já vem da trágica condução econômica do primeiro mandato - que abusou nos gastos inúteis, pecou nos investimentos em infraestrutura, permitiu a subida dos juros, abriu caminho para a carestia especulativa, não segurou a inflação e, agora, tem seu gran finale no caos energético. A população está pt da vida de pagar combustíveis e energia mais caras, junto com a falta de água - culpa da imprevisão dos governos diante do previamente anunciado clima de seca nas regiões de reservatórios.

Além de todos estes problemas, Dilma não sabe o que fazer com a Petrobras. Não será fácil arrumar um milagreiro que consiga assumir a presidência da estatal com competência para resolver tantos problemas. Até o mais cotado como favorito tira o corpo fora. Em Londres desde o início desta semana para participar de reuniões do conselho da seguradora britânica Lloyd’s, Henrique Meirelles já teria avisado a amigos que não deseja assumir o posto máximo da Petrobras. A presidência que Meirelles realmente queria é a de Dilma... Mas esta não está disponível para ele, ainda...

Meirelles está numa boa, como sempre esteve, desde os tempos em que presidiu o Banco Central do Brasil. Além de participar do conselho da LLoyd’s e da Azul Linhas Aéreas Brasileiras, Meirelles preside o conselho da holding J&F, controladora de diversas empresas, entre elas o JBS, maior processadora de proteína animal do mundo, Vigor, Eldorado Celulose e Banco Original. Meirelles também é chairman da Lazard América, braço latinoamericano da tradicional consultora financeira e gerenciadora de ativos norte-americana.

Dilma é uma barata tonta do trono imperial do Palácio do Planalto. Já era. Sem nunca ter sido Presidente. Até porque sua marketagem lhe inventou o gênero de "Presidenta".

Sem graça mesmo


O Globo informou que cinco diretores não aceitaram o acordo que Graça tinha fechado com Dilma e tomaram a decisão de antecipar a entrega de seus cargos.

José Formigli (Exploração e Produção), Almir Barbassa (Finanças), Alcides Santoro (Gás e Energia), José Figueiredo (Engenharia) e José Cosenza (Abastecimento).

Apenas o diretor Corporativo, José Eduardo Dutra, que está afastado por licença médica, e o recém-empossado diretor de Governança, João Elek, aceitaram o jogo e continuarão na empresa, com a nova diretoria.

O Bem Bloqueado 
O juiz federal Flávio Roberto de Souza ordenou na noite desta quarta-feira o bloqueio de R$ 1,5 bilhão em bens do empresário Eike Batista, de seus dois filhos mais velhos, de sua ex-mulher Luma de Oliveira e da mãe de seu terceiro filho, Flávia Sampaio.

O juiz também ordenou o bloqueio de um barco e de aeronaves do empresário, fundador das empresas x, e requereu informações de suas contas bancárias.

Eike é réu em ação penal no Rio acusado pelos crimes de manipulação de mercado e uso de informação privilegiada (insider trading).

Aliás, tão querido por Dilma, Eike bem que daria um belo presidente da Petrobras...

Bancarrota


Indique o Zé Ruela



© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 5 de Fevereiro de 2015.

"Falar a verdade não faz bem a ninguém neste governo" Senador Aécio Neves sobre a saída de Graça Foster após admitir o rombo de R$ 88 bi

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO


Dilma quer Coutinho na Petrobras; Lula, o Meirelles

Atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho é o preferido de Dilma Rousseff para suceder Graça Foster na presidência da Petrobras, mas o ex-presidente Lula insiste na ideia de convidar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o cargo. Dilma, inclusive, chamou Coutinho pra conversar, ontem, para ouvir sua avaliação sobre a crise e sua visão para que a Petrobras supere as dificuldades.

Deixa estar

Lula considera desnecessário retirar Luciano Coutinho do BNDES, “onde está dando certo”, e insiste em “agregar” Meirelles ao governo.

Resistência

A presidente Dilma resiste a Meirelles por razões ideológicas. Sempre o considerou “representante dos bancos internacionais” e desenvolveu horror a ele.

Novo ministro do STF

Além de tratar da substituição de Graça Foster, Dilma apressou as consultas para definir o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal.

Nuvens negras

Dilma tem informações “apavorantes” sobre o que vem por aí na Lava Jato, dizem fontes do Planalto, daí a pressa de completar o STF.

Senadores não querem largar imóvel da Câmara

Os senadores Romário (PSB-RJ) e Wellington Fagundes (PR-MT), deputados federais até 31 de janeiro, não querem deixar apartamentos funcionais da Câmara, assim como o ex-senador e deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) adoraria continuar no apartamento do Senado onde mora há anos. Romário, inclusive, reformou o imóvel. Mas a regra é clara: todos terão de devolvê-los 30 dias após o término do mandato.

Imobiliária Câmara

Os apartamentos dos deputados federais têm 200 metros quadrados, nos quais a Câmara gastou R$ 280 milhões reformando-os.

Assunto ‘sigiloso’

Os apartamentos funcionais são públicos, mas a Quarta Secretaria da Câmara evita comentar, alegando que o assunto é “sigiloso”.

Traz a fatura

Quem abrir mão dos imóveis funcionais não ficará desamparado. O contribuinte paga R$ 3,8 mil mensais a título de auxílio-residência.

Dilma sem escudo

A assessoria de Dilma divulga que ela anda “abatida” com a saída de Graça Foster da Petrobras. Mas o que a deixa borocoxô é a perda do “anteparo” que tomava pancadas em seu lugar.

Proteção

Graça Foster prestou um grande serviço à amiga Dilma: tomou todas as pancadas, poucos se lembravam que Dilma presidia o conselho de administração da Petrobras no início e no auge do desfalque bilionário.

Boa de ouvido

Dilma e Graça Foster convivem há tempos, até fizeram ginástica juntas. Mas o melhor da ex-presidente da Petrobras, para a chefa, era seu tímpano complacente. Jamais ficou melindrada com os gritos de Dilma.

Subiu na vida

Maria das Graças da Silva Foster é mineira, mas, de família pobre, foi criada no Morro do Alemão, no Rio. Quando era jovem chegou a catar latinhas para ganhar uns trocados, o que hoje não é mais problema.

Vai com Deus

No próprio PT, o clima com a saída de Graça Foster da presidência da Petrobras é de “já foi tarde”. O partido anda às turras com a articulação política do governo Dilma. Leia-se: Aloizio Mercadante e Pepe Vargas.

Hora de desapegar

Deputados do PT estranharam a postura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) no plenário e na reunião da bancada após perder eleição na Câmara. Irritado, ele monopolizou o microfone e interrompeu a fala de colegas.

Que crise?

Apesar do caos financeiro e intenso corte de gastos, o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), nomeou, só na quinta-feira (29), mais de 4 mil novos comissionados que vão ganhar até R$ 28 mil por mês.

Cena rara

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) chamou atenção nesta quarta-feira (4) no aeroporto de Brasília: ao contrário dos colegas de Congresso, carregava a própria mala e dispensou até o carro oficial.

Pergunta no escândalo

Com a saída de Graça Foster da Presidência da Petrobras, quem servirá de colete a prova de balas de Dilma no Petrolão?


PODER SEM PUDOR

Sem explicações

Paulo Maluf perdeu a eleição para prefeito de São Paulo, em 1990, apesar do gênio criativo do marqueteiro Duda Mendonça - que fez, a rigor, seu primeiro trabalho importante na área. Duda decidiu explicar as razões da derrota e até pedir desculpas. Maluf não o permitiu:

- Meu caro Duda, nunca se explique: para os amigos, não precisa e, para os inimigos, não adianta!

Blindar a Petrobras contra o fisiologismo - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 05/02

Qualquer executivo sondado pelo governo deve exigir que a empresa fique longe do toma lá dá cá, postura que a própria Dilma deveria ter em outras estatais


A crise na Petrobras evoluiu, e a intenção do Planalto de ganhar tempo ao converter Graça Foster e os demais diretores da estatal em novos Guido Mantega — demitidos, mas preservados no cargo — teve vida curta.

Ao se reunir no Rio, na noite de terça, com a diretoria, depois de acertar em Brasília, com a presidente Dilma, este arranjo de fato insustentável, Graça não teve apoio dos diretores. Todos entregaram o cargo e ela fez o mesmo.

A escolha do novo presidente e equipe ganhou uma urgência ainda maior, diante do risco de a maior empresa brasileira ficar acéfala. Ao ser questionada formalmente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal informou que o Conselho de Administração se reunirá amanhã para eleger a nova diretoria. Missão difícil, a não ser que escalem interinos.

Não se trata mais, devido às circunstâncias, de escolher profissionais competentes, mas, tanto quanto isso, pessoas também dispostas a assumir uma empresa que se tornou prolongamento do Palácio do Planalto, do PT e legendas aliadas. E por isso mergulhou na maior crise de uma sexagenária história.

Portanto, é lógico presumir que qualquer executivo de bom senso, sondado para enfrentar o desafio, exigirá do governo a blindagem da estatal contra o fisiologismo, protegida de indicações políticas, do toma lá dá cá, a origem, enfim, de toda esta mastodôntica crise, acompanhada pelos meios econômicos e políticos no mundo inteiro.

O Planalto precisará atender esta condição. A própria Dilma, por sinal, terá de assumir nova postura em relação a todas as estatais, se deseja fazer uma governo minimamente razoável, à altura dos problemas difíceis que tem pela frente.

Chega a despertar curiosidade como funcionaria um governo em que ministérios e outras estatais estão loteados entre aliados políticos, enquanto a Petrobras se converte em um oásis de lisura e profissionalismo.

É fora de dúvida que a Petrobras com novos presidente e diretores precisa ser a oposta da que foi aparelhada a partir de 2003, na chegada de Lula ao Planalto, por segmentos lulistas do PT e respectivos braços sindicalistas.

A descoberta, nas investigações do mensalão, de que o dirigente petista Sílvio Pereira recebera um jipe de luxo de regalo de uma empreiteira contratada pela Petrobras, a GSK, no início do primeiro mandato de Lula, sinalizava algo nauseabundo. E de fato.

O escândalo do petrolão ainda terá desdobramentos políticos e judiciais importantes. Mas já ensinou ao país que a mistura de política com negócios é de alto risco, pode até quebrar empresas gigantescas. E é por isso que não se trata apenas de escolher nomes para recolocar a Petrobras nos trilhos. Trata-se de o Planalto e o PT renunciarem a práticas deletérias na administração do patrimônio público.

Assassinato de piloto jordaniano pelos terroristas do Estado Islâmico une o mundo árabe em sentimento de raiva

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015


Um sentimento uniu muitos dos clérigos, grupos étnicos e seitas conflitantes do Oriente Médio na quarta-feira (4): a repugnância gerada pela atrocidade mais recente da organização terrorista Estado Islâmico (EI), que queimou vivo um piloto jordaniano preso dentro de uma jaula. Na Síria, o governo denunciou o grupo que o vem combatendo há meses, mas os combatentes da Al-Qaeda, que se opõem tanto ao governo quanto ao Estado Islâmico, fizeram o mesmo. No Egito, a Irmandade Muçulmana e o governo finalmente concordaram em relação a uma coisa: a barbárie do grupo terrorista, pelo método usado para assassinar o piloto jordaniano, o tenente Muath al-Kaseasbeh. E no Cairo o grão-imã Ahmed al-Tayeb, líder do instituto Al-Azhar, fundado há mil anos, ficou tão enfurecido que pediu que os terroristas do Estado Islâmico sejam "mortos, ou crucificados, ou tenham suas mãos e suas pernas cortadas". A condenação feita pelo importante estudioso sunita foi ainda mais áspera que manifestações semelhantes dos líderes xiitas da região, em termos teológicos os adversários mais tradicionais do Estado Islâmico. 

De uma maneira que não tinha acontecido com as decapitações de reféns, a imolação de al-Kaseasbeh desencadeou em toda a região uma explosão de fúria e repúdio ao grupo terrorista Estado Islâmico ou, entre a maioria dos árabes, como "Daesh". Em uma região cronicamente em conflito e que deu ao mundo a expressão "o inimigo de meu inimigo é meu amigo", o Estado Islâmico de repente viu-se extremamente destituído de amigos. Com um assassinato espantosamente cruel, o Estado Islâmico uniu a maior parte da região contra ele. O sentimento de unidade contra o Daesh levou a cenas estranhas em toda a região. O rei Abdullah 2º da Jordânia, pego de surpresa em Washington quando o vídeo do assassinato foi divulgado, voltou para casa e, em vez de encontrar indignação por sua ausência, foi recebido como herói. Multidões lotaram as ruas em seu trajeto desde o aeroporto para aplaudir a decisão jordaniana de retaliar imediatamente com a execução de dois terroristas já condenados, ambos com vínculos com o Estado Islâmico.

Abdullah, que nunca foi conhecido como líder carismático, foi amplamente elogiado em casa por seu discurso intransigente em Washington, onde, em reunião com líderes do Congresso, disse que sua vingança faria as pessoas pensarem no filme "Os Imperdoáveis", de Clint Eastwood. O deputado republicano Duncan Hunter, da Califórnia, presente na ocasião, disse que o rei prometeu retaliar e "ir atrás dos vilões". O rei não perdeu tempo em concretizar sua ameaça, e antes mesmo de seu avião pousar ordenou a execução dos dois prisioneiros por enforcamento. O vídeo divulgado na terça-feira (3) da morte de al-Kaseasbeh, em que o Estados Islâmico prometeu matar outros pilotos de caças que bombardeassem posições do Estado Islâmico, teve como objetivo claro meter medo na Jordânia e levá-la a abandonar a coalizão liderada pelos Estados Unidos que combate os extremistas. Mas teve o efeito contrário entre muitos jordanianos, e o porta-voz do governo jordaniano disse que agora o reino vai aumentar sua participação no combate à organização terrorista. O pai do piloto, Safi Youssef al-Kaseasbeh, influente xeque tribal, tinha questionado antes a conveniência de a Jordânia estar combatendo o Estado Islâmico. Mas essas dúvidas desapareceram após a morte de seu filho. "Peço à comunidade internacional que dê o castigo justo aos grupos terroristas que não têm religião ou valores tradicionais", ele disse. "Acho que perdemos um piloto, mas ao mesmo tempo, de certo modo, o governo ganhou apoio coletivo, da Jordânia e de toda a região, para o combate aos extremistas", disse Adnan Abu-Odeh, ex-chefe do serviço de inteligência jordaniano. "O Daesh cometeu um grave erro. Quando você está enfraquecido, como eles estão, você tenta fazer seus apoiadores pensarem que você é forte, mostrando-se mais monstruoso. Mas desta vez eles foram longe demais". Na Síria, onde uma insurgência caótica travada há quatro anos favoreceu o surgimento do Estado Islâmico, tanto os partidários do presidente Bashar Assad quanto os que o combatem condenaram o ato, e seus defensores no exterior, também. O Irã, mais importante aliado do governo sírio e adversário da Jordânia, descreveu o assassinato do piloto como "inumano e anti-islâmico". A emissora de televisão Al Manar, pertencente a outro aliado do governo sírio, o grupo xiita libanês Hizbullah, o descreveu como "a mais sanguinária" das muitas atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico. O Qatar, que se opõe a Assad, condenou o assassinato, dizendo que "fere os princípios de tolerância" do islã. A Turquia, criticada por muitos na região por permitir que combatentes estrangeiros atravessem suas fronteiras para entrar na Síria, onde alguns deles ingressam no Estado Islâmico, uniu sua voz às críticas. O presidente Recep Tayyip Erdogan descreveu o assassinato como ato de "selvageria" que não tem lugar no islã, acrescentando: "Condeno e amaldiçoo a imolação do piloto jordaniano". Denunciando o Estado Islâmico como grupo terrorista "diabólico", o líder e grão-imã do Al Azhar, Tayeb, citou versos corânicos para mostrar que o islã proíbe a queima ou mutilação de inimigos de guerra. "Esse ato terrorista vil", ele disse em comunicado divulgado pelo Al Azhar, "exige castigo conforme o prescrito pelo Alcorão para os opressores ou destruidores na terra que combatem Deus e seu profeta: que sejam mortos, ou crucificados, ou que suas mãos e pernas sejam cortadas". Centro de estudos islâmicos, o Al Azhar se vê como paradigma de moderação e tolerância no mundo muçulmano sunita, e o comunicado não explicou a incongruência do fato de Tayeb prescrever alguns dos mesmos castigos medievais que os empregados pelos extremistas. Os principais líderes árabes reagiram à imolação de maneira categoricamente diferente de sua reação à longa sequência de decapitações de reféns que a precederam. Isso pode ter se devido em parte ao fato de que, segundo muitos comentaristas disseram na quarta-feira, queimar uma pessoa viva é proibido no islã, sendo visto como castigo que só pode ser aplicado por Deus, no inferno. Já as decapitações têm histórico longo no islamismo. Apesar de todo o ultraje, alguns na Síria e fora dela lamentaram a ausência de um nível semelhante de revolta diante das centenas de milhares de pessoas mortas na guerra civil síria. A Human Rights Watch e outras organizações que acompanham o conflito observaram que os ataques lançados pelo governo sírio contra cidades com bombas de barril matam muito mais civis que os extremistas, por mais que os métodos do grupo militante possam ser depravados e voltados a chamar a atenção.

O contrário do que é - EUGÊNIO BUCCI


O ESTADO DE S.PAULO - 05/02

Nunca tantos falaram tanto em estelionato eleitoral. Nunca de modo tão justificado e verdadeiro. Dilma Rousseff, depois de reeleita, não apenas passou a praticar o oposto do que prometera, como adotou as medidas que, segundo dizia durante a campanha, os seus adversários implementariam para fazer a alegria dos banqueiros. E isso assim, de um dia para o outro, sem nem disfarçar. Tão logo faturou as eleições, abençoou a elevação dos juros pelo Banco Central, convocou a doutrina Chicago para encabrestar o Ministério da Fazenda e começou a comer pelas bordas as tais "conquistas sociais" da tal "classe trabalhadora". Se isso não é estelionato, um pérfido estelionato ideológico, revogue-se o dicionário.

No governo estadual foi a mesma coisa. Gastando rios de dinheiro em propaganda oficial para convencer o eleitor de que a Sabesp esbanjava competência e nunca deixaria faltar água, Geraldo Alckmin reelegeu-se com um dilúvio de votos. Depois de vitorioso admitiu que o racionamento já existia. Outra vez estelionato. Estelionato hídrico.

Triste de quem acreditou numa, infeliz de quem pôs fé no outro. Foram todos engambelados. A política não é mais o reino das inverdades dissimuladas (bons tempos aqueles, em que valiam os ensinamentos de Platão sobre a mentira prudente que protegia a polis). Hoje a política dispensa a dissimulação; seus profissionais não se envergonham de bradar o perfeito contrário do que pretendem fazer. Mentir pouco é bobagem. É preciso afrontar a verdade com todas as forças da bilionária publicidade oficial (e da propaganda eleitoral, o que acaba dando no mesmo). Há que mentir, aos berros, de dedo e riste, em choque frontal com a verdade.

Uma vez consumada a lorota, chega então a hora de mentir ainda mais. Se a mentira tem pernas curtas, é preciso dotá-la de próteses artificiais. É o que faz Dilma Rousseff. Cumprindo religiosamente a cartilha do PSDB, segue dizendo o contrário. E jura que as medidas recessivas que adotou não são recessivas. "Ajustes fazem parte do dia a dia da política econômica", declarou no início da semana. "Ajustes nunca são um fim em si mesmo, são medidas necessárias para atingir objetivos de médio prazo, que em nosso caso permanece o mesmo, crescimento econômico com justiça social. Não promoveremos recessão e retrocesso."

Eis que, na cabeça presidencial, o monetarismo ortodoxo que eleva juros e corta o orçamento nada mais é que uma ferramenta para o "crescimento econômico com justiça social". Você acredita? Não? Pois há quem esteja abismado com o fato de que Dilma, pelo menos ela, dá sinais de acreditar em si mesma. Não se sabe bem se ela mente quando diz ou se mente quando acredita sinceramente no que diz. Ela acredita no monetarismo socialista.

Mais alguns dias e veremos o governo federal convocando as centrais sindicais (devidamente cooptadas) para organizarem marchas de militantes (devidamente pagos) portando faixas e cartazes com os dizeres: "Mais juros", "mais cortes" e "mais banqueiros no Banco Central". Tudo em nome do "crescimento econômico com justiça social" (que o cacófato não traia ninguém).

Do lado do governo paulista, o alongamento das pernas da mentira conta com o luxuoso auxílio dos eufemismos de ocasião. Providencialmente rebatizada de "crise hídrica", a falta d'água aparece como um fenômeno imprevisível. É como se não tivesse sido fabricada pela incompetência e pelas falhas de um sistema de dutos que deixa vazar quase quatro de cada dez litros de água tratada - isso antes que a pobre água chegue à casa dos crédulos eleitores. A "crise hídrica" entra em cena como um revés climático que simplesmente caiu do céu, o mesmo céu do qual as chuvas não caem mais.

Na escola política da mentira frontal e afrontosa (a mentira retumbante que não precisa mais dissimular coisa alguma, nem a si mesma), a expressão "crise hídrica" é um disparate que fala javanês. Com termos empolados, esconde até mesmo a noção de escassez. Em lugar de "escassez hídrica" (que seria um eufemismo igualmente ridículo, mas nem tão mentiroso assim), é mais conveniente falar em "crise". É como se ninguém tivesse culpa de nada. Crises, afinal de contas, acontecem pela combinação caótica de fatores independentes uns dos outros, que não estavam sob o controle de uma organização minimamente racional. Uma crise política resulta da confluência de tensões que desgraçadamente explodiram. A mesma coisa se pode dizer das crises financeiras. Elas não têm autores definidos, seus causadores são relativamente difusos. A expressão "crise hídrica", portanto, faz parecer que a calamidade pública não tem responsáveis.

A outra vantagem para o poder é que essa expressão, "crise hídrica", induz o crédulo eleitor a pensar que, a exemplo do que acontece nas "crises políticas" ou nas "crises financeiras", os políticos e os governantes são os artífices da solução. Nesse caso, porém, as autoridades que aí estão são justamente a causa principal do problema, mas disso se esquece. Nada mais cômodo hoje para os governantes (estaduais e federais) do que chamar de "crise hídrica" a escassez que eles mesmos fabricaram.

No fim das contas, a expressão "crise hídrica" - essa pérola da política que se especializou em dar nomes que são o oposto das coisas que nomeiam - funciona como uma anistia por antecipação. A falta d'água foi meticulosa e persistentemente construída por um misto de desmando, oportunismo e inconsequência governamental. Chamá-la agora de "crise hídrica", como algo que caiu do céu, equivale a absolver sem julgamento os (maus) gestores que a provocaram.

Se pudessem, esses mesmos gestores mudariam o título do clássico de Graciliano Ramos Vidas Secas. Se dependesse deles, o livro passaria a ser editado com o nome de Vidas Hidricamente Críticas".

Como as nossas.

E você? Tem sede de quê?

A falência e o deboche - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 05/02

Neste início de fevereiro, três ruínas combinaram de se encontrar em um país chamado Brasil


Sejamos absolutamente francos: o Brasil é uma ruína (ou, na melhor das hipóteses, está uma ruína).

Um país na iminência do racionamento de água e de energia elétrica encontra-se em estado falimentar. Mas, se fosse apenas uma crise hídrica e/ou energética, ainda dava para acreditar que Deus, tido como cidadão brasileiro, daria um jeito, mandando chuva suficiente para abastecer os reservatórios.

Acontece que a ruína é também moral/ética, econômica, social, política, de ideias, de tudo, a rigor.

Para não voltar muito ao passado, examinemos rapidamente o cenário econômico, tal como lembrado por Delfim Netto, na sua coluna desta quarta-feira (4), na Folha.

"Não é possível ignorar que em 2014, quando a única preocupação do governo foi a sua vitória numa intensa e cruel campanha eleitoral, as consequências foram muito ruins: deficit primário de 0,6% do PIB; deficit fiscal total de 6,7% do PIB; gasto com juros para o pagamento da dívida de R$ 250 bilhões, em torno de 5% do PIB, acompanhados por um aumento da relação dívida pública bruta/PIB para 63,4% do PIB, por uma taxa de inflação de 6,41% e por um surpreendente deficit em conta corrente de US$ 91 bilhões, 4,2% do PIB".

Faltou dizer que o crescimento, se for zero, será um bom resultado.

Passemos para outra ruína, a ética, e citemos outro colunista da Folha, Matias Spektor:

"Estima-se que a roubalheira envolvendo cofres públicos tenha custado até 5% do PIB só na última década. E quando Collor foi posto para fora, em 1992, o índice de confiança nos políticos era de 31%.

Treze anos depois, durante o mensalão, era de apenas 8%".

Spektor lembra que ainda está para ser contabilizado o pai de todos os escândalos, o "petrolão".

Digo o pai de todos porque é o primeiro, pelo menos até onde vai minha memória (que é de longo alcance), em que foram para a cadeia executivos de grandes empresas.

Ou seja, é uma das primeiras vezes em que são apanhados não apenas os corruptos de costume (em geral funcionários públicos ou políticos) mas também os corruptores (o lado privado da corrupção).

Nesse cenário, o que se poderia esperar da classe dirigente seriam demonstrações de preocupação, a busca urgente de respostas, providências capazes de estancar uma e outra sangria.

O que se viu, no entanto, neste domingo, foi o deboche.

Pelo excelente relato de Bruno Boghossian, na festa da vitória de Eduardo Cunha (ela, em si, já é um deboche), os dois principais articuladores políticos do governo foram ridicularizados.

Aloizio Mercadante (Casa Civil) foi chamado de Freddie Mercury, vocalista já morto do grupo Queen, pelo seu bigode, ao passo que Pepe Vargas (Relações Institucionais) virava Pepe Legal, o desastrado personagem de desenho animado.

Quando o deboche se dá entre companheiros de base governista, tem-se um retrato acabado da ruína política em que se encontra a pátria amada.

Tudo somado, o fato é que três ruínas combinaram encontro neste fevereiro.

Contra o tempo - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 05/02

A presidente Dilma perdeu um tempo precioso negando-se a demitir sua amiga Graça Foster da presidência da Petrobras e, com isso, só fez aumentar a crise e acrescentar a seus dissabores a atual busca de sucessor(a) e dirigentes da empresa num prazo tão curto que o anúncio pode frustrar quem espera uma volta por cima da estatal brasileira.

As sucessivas negativas que teriam sido dadas ao governo mostram que o que foi até recentemente considerado um dos melhores empregos do país hoje mais afugenta do que atrai. Isso porque não se sabe o que mais existe nas águas profundas da corrupção que corrói a empresa, e nenhum executivo de renome capaz de levantar a Petrobras quererá colocar em risco sua reputação e seu patrimônio pessoal em uma aventura da qual não terá o controle.

Muito dificilmente um executivo independente aceitará dirigir a Petrobras sem completo controle da empresa, o que não parece previsível com uma presidente que se considera dona da área energética do país, onde, aliás, tudo vem dando errado.

A mistura política que gerou o colapso da Petrobras já está na boca do mercado internacional, e o diagnóstico comum pode ser resumido por um comentário na revista inglesa "The Economist": a Petrobras sem política era vista como das melhores empresas petrolíferas existentes, e a débâcle no escândalo de corrupção retirou dela a capacitação técnica que a distinguia.

Retomar esse caminho virtuoso será a tarefa mais urgente da nova diretoria, e só mesmo a aflição de um momento perigoso poderá fazer com que a presidente Dilma aceite abrir mão de interferir na Petrobras. Chegou-se na empresa a mesma encruzilhada em que o país se encontra neste segundo mandato de Dilma: ou as coisas certas são feitas, ou o governo naufragará juntamente com sua mais importante empresa.

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já encontrou mais resistências pela frente do que hoje, em parte porque a própria presidente Dilma respaldou-o na primeira reunião ministerial, mas também porque a mudança de foco para a crise da Petrobras ajudou a desobstruir o caminho.

Mal entramos no segundo mês do segundo mandato da presidente Dilma, e o país está exausto e espantado com as revelações que não param de surgir das investigações da Operação Lava-Jato. Desde que, num ímpeto de sincericídio, a presidente Dilma admitiu que a refinaria de Pasadena fora um mau negócio e não deveria ter sido autorizada pelo Conselho de Administração que presidia, os problemas da Petrobras não param de assombrar os brasileiros.

No caso da economia, a presidente Dilma não titubeou para nomear um economista ortodoxo, da escola de Chicago, para fazer tudo ao contrário do que vinha sendo feito. Na Petrobras, talvez pela sua participação direta no caso, Dilma tergiversou e só se rendeu aos fatos com muito atraso. Vamos ver se ainda há tempo para recuperar o tempo perdido.

Petrobras, improviso e alvoroço - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 05/02


Dilma teve dez meses para planejar reforma da empresa; trapalhada reduz prazo a 48 horas


DILMA ROUSSEFF teve dez meses para pensar numa solução para a Petrobras. Agora, terá 48 horas. Para piorar, ainda não se sabe se a presidente compreende o problema que tem de resolver.

Faz mais de dez meses que a Operação Lava Jato deu o último sinal de alerta de que era preciso virar a empresa pelo avesso. As 48 horas entre a noite de terça e a noite de hoje são o tempo que resta a Dilma para nomear uma diretoria que comece a afastar a Petrobras da beira do abismo.

Foi na noite de terça-feira que a presidente descobriu que não teria uma diretoria tampão na petroleira até o final do mês, como imaginara ter combinado com a demissionária Graça Foster. A diretoria debandou. Foi outra trapalhada constrangedora, condizente com o improviso degradado em alvoroço que é este governo, ainda mais atarantado pelas tantas crises que criou.

Estava difícil de saber até o fim da tarde de ontem para qual solução o governo pendia, se é que estava em condição de fazer muita escolha para a nova direção da Petrobras.

Uma solução mais caseira, de gente mais próxima ou sujeitável a Dilma Rousseff, seria mais fácil, dada a emergência. Mas lança- ria descrédito sobre o futuro da empresa, que precisa de um plano de reforma.

Nomear rapidamente um nome que por si só representasse a grande mudança significaria uma rendição quase incondicional de Dilma Rousseff. Difícil, mas cada vez frequente. Apesar do apreço da presidente pelas viagens ao fim da noite, ao limite das crises, ela rendeu-se ao inevitável no Ministério da Fazenda, no tarifaço que enterra seus sonhos no setor elétrico ou no programa de concessões de infraestrutura.

Ainda que estivesse claro o grau de autonomia da nova direção da Petrobras, em especial para os próprios diretores, gente do governo e um conselheiro da Petrobras diziam na tarde de ontem não haver ainda solução para o problema do balanço da empresa e para a conta de perdas e danos. Trata-se não apenas de uma assombração que poderia perturbar o reinício da Petrobras mas de assustar os candidatos a presidente, que poderiam se enrolar juridicamente de graça, como está claro para todo o mundo, aqui e lá fora.

Os planos derradeiros de Graça Foster para a Petrobras faziam sentido: gastar menos, recuperar rentabilidade e crédito no mercado de capitais, não depender de dívida inviável de tão cara, reduzir o endividamento (ressalte-se: sem isso, o povo vai ter de bancar o rombo).

Mas espera-se muito mais da nova direção. "Espera-se" quer dizer: atuais e possíveis credores esperam. O complexo de empresas dependentes da Petrobras, em parte sob o risco de quebra, espera. O restante do mundo espera, pois, afora o problema concreto imediato do descrédito financeiro do país e de suas empresas, os múltiplos vexames do desgoverno da Petrobras degradam a imagem da economia brasileira, que começa a parecer algo com um bananal cleptocrático, o que não é.

A fim de reerguer a empresa líder de pagamentos de impostos, em volume de investimentos e de progressos tecnológicos do país, é preciso desmanchar também o plano Dilma 1 para a Petrobras.

A parte que cabe a Dilma e Lula - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O GLOBO - 05/02

Dinheiro da corrupção pode ser localizado e, em parte, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão ficar por conta do povo



Quem começou o roubo na Petrobras, os políticos ou as empreiteiras? Para quem não tem nada a ver com isso, não faz diferença. Mas para quem está no rolo, pode fazer a diferença entre uma pena maior ou menos severa. Quem sabe até uma absolvição? — a esperança é livre aqui.

A versão dos políticos — no caso, do PT, PMDB e PP, principalmente, e de gente do governo Dilma — joga a culpa principal no cartel das empreiteiras, que existiria desde muita antes de os petistas chegarem ao poder. Fazendo combinações entre si, distribuindo as obras em reuniões secretas, acertando os preços, as empreiteiras dominavam de tal modo o negócio das grandes obras no Brasil que não havia saída senão, digamos, render-se a elas. Era isso ou não tocar os empreendimentos.

Sendo assim os fatos, com as empreiteiras se refestelando com os preços superfaturados, por que não tirar algum troco para a nobre tarefa de financiar atividades políticas? E atividades de partidos que visavam à nobre causa do povo — até muito justo, não é mesmo? Se isso for crime, dizem os autores dessa teoria, pelo menos é menor do que a montagem da quadrilha, quer dizer, do esquema.

A versão das empreiteiras é o inverso. Políticos dos partidos dos governos Lula e Dilma teriam montado uma máquina de fazer dinheiro para financiar eleições, de modo que não pagar propina e não entrar no esquema significava perder todas as obras.

E se as regras do jogo eram essas, se o preço seria mesmo elevado para pagar a caixinha política, por que não superfaturar um pouquinho mais para atender aos nobres interesses dos acionistas? Este seria um crime menor do que a montagem original da quadrilha etc.

No meio desses dois poderosos lados, sempre sobrava algum para executivos das empreiteiras e da estatal. Na verdade, alguns milhões.

Digamos que haja aí boa matéria para os advogados dos dois lados, mas, para a gente — cidadãos, contribuintes, eleitores, acionistas privados da Petrobras — não tem sentido algum. O gestor da coisa pública — para ficar bem solene — tinha que simplesmente chamar a Polícia Federal tão logo soubesse do esquema. Sem contar que, para o pessoal do PT, haveria aí um ótimo tema para atacar os seus antecessores no governo federal, aqueles neoliberais.

A mesma coisa vale para os donos das empreiteiras. Sabendo da quadrilha, que chamassem a polícia. Por que uma empresa eficiente, dona de tecnologia de primeira, precisaria se sujeitar a esse tipo de esquema que favorece a picaretagem?

Tudo considerado, não importa saber qual versão é mais correta. Mesmo porque, o mais lógico é concluir que ambas estão certas, assim mesmo, uma contra a outra. Os dois lados montaram seus esquemas, uma sociedade que está caindo para todas as partes. Como me dizia um advogado de ampla experiência: quando um réu acusa o outro, vão os dois para a cadeia.

Parece que o processo vai nessa direção, apanhando de passagem alguns executivos, pelo menos no tribunal do juiz Sérgio Moro. Agora em fevereiro, vamos ver como a ação penal anda no Supremo Tribunal Federal.

Essa é a história da corrupção, para os tribunais. Há uma outra, que é a desastrosa gestão imposta à Petrobras desde o governo Lula. Difícil saber qual causou mais prejuízo à empresa e ao país. Tão difícil que Graça Foster, com todo seu empenho e dedicação, não havia conseguido fazer a contabilidade que separasse a grana da corrupção do dinheiro torrado por erros de gerência e administração.

Por exemplo: a refinaria Abreu e Lima (a de Pernambuco) talvez nem devesse ter sido feita; se feita, poderia ter saído mais barata do que o preço já descontado da roubalheira. O dinheiro da corrupção pode até ser localizado e, em parte ao menos, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão mesmo ficar por conta do povo, o verdadeiro acionista e dono, traído, da Petrobras.

Ainda não apareceram denúncias de superfaturamento nos projetos das refinarias Premium do Maranhão e do Ceará. Os projetos foram cancelados, uma das últimas decisões da diretoria de Graça Foster, depois de um gasto de R$ 2,7 bilhões. Ou, um bilhão de dólares, para nada, para uma papelada sem valor.

E tem o incrível, e maior, prejuízo imposto ao caixa da empresa, com o controle dos preços da gasolina e do diesel. Segundo cálculos feitos dentro da estatal, foram nada menos que R$ 60 bilhões ao longo dos anos que a Petrobras foi levada a vender combustível a preço menor do que pago na importação. Uma sangria no caixa, que virou endividamento.

Nesta outra história não há dúvida nenhuma. A culpa é de quem mandou na Petrobras nos governos Lula e Dilma, a começar por Lula e Dilma. Essa responsabilidade só pode ser apurada nos foros políticos. Aliás, no que sobrar dos foros políticos depois da Lava-Jato.

A agonia da encrencada Sete Brasil


Representantes dos acionistas, bancos e o UK Export Finance, banco inglês que financia exportações a outros países, estão reunidos neste momento na sede da encrencada Sete Brasil no Rio de Janeiro  para assinatura do empréstimo-socorro de 4,5 bilhões de dólares à empresa. Só que ainda não apareceu nenhum representante da Petrobras ou do BNDES – e ninguém sabe informar se e quando enviarão representantes . Por Lauro Jardim

O jornalista ultra petista Ricardo Kotscho, ex-secretário de imprensa do governo Lula, admite consternado que administração Dilma é muito ruim e está a um passo do impeachment

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015



O jornalista ultra petista Ricardo Kotscho, ex-secretário de Imprensa do governo Lula X9, homem ligadíssimo ao PT, ao qual sempre esteve filiado, escreve hoje que "pelo ranger da carruagem desgovernada, a oposição nem precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres para detonar o impeachment da presidente da República", pois "o governo Dilma-2 está se acabando sozinho num inimaginável processo de autodestruição". Ele lamenta no seu blog: "O que já está ruim sempre pode piorar. É duro e triste ter que escrever isso sobre um governo que ajudei a eleger com meu voto, mas é a realidade".