domingo, 8 de junho de 2014

Protecionismo descabido - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR


GAZETA DO POVO - PR - 07/06

O projeto de lei que proíbe a compra de publicações estrangeiras por órgãos públicos atrasaria o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país; felizmente seu arquivamento já foi solicitado



O líder do PT da Câmara Federal, deputado Vicentinho, apresentou no fim de março deste ano um projeto que impediria a compra de livros e outras publicações estrangeiras por órgãos públicos brasileiros. Pela proposta, universidades e institutos de pesquisa públicos, que sabidamente usam uma vasta produção acadêmica estrangeira, teriam seu trabalho, em grande parte, inviabilizado.

O projeto polêmico veio a público dias atrás, quando especialistas passaram a discutir a conveniência e a oportunidade da proposta, fato que foi levantado pela Gazeta do Povo em reportagem do dia 1.º de junho. O projeto estava apenas em estágio inicial de tramitação – em discussão na Comissão de Serviço Público (CSP). Mas a repercussão negativa foi tão grande que o próprio Vicentinho tomou a iniciativa, na quinta-feira, de solicitar o arquivamento de seu projeto antes mesmo de ele ser votado na CSP.

Embora tivesse sido procurado pela reportagem da Gazeta quando da reportagem sobre o projeto, Vicentinho preferiu não se pronunciar. A assessoria da liderança do PT na Câmara dos Deputados alegou que tinha havido um “mal-entendido” e que o deputado pretendia era proibir a compra de publicações produzidas no Brasil, mas impressas em outros países, como a China, por questões de redução de custo. A proposta, então, serviria como uma forma de proteção e fomento da indústria gráfica nacional. De acordo com a justificativa do projeto, “Objetivando minimizar a constante evasão de divisas, este projeto vem contribuir para que haja o compromisso do poder público para com a economia nacional. Necessitamos de adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas comumente adquiridas”.

Ainda segundo a assessoria, o projeto jamais impossibilitaria a assinatura de periódicos acadêmicos. Esse argumento, contudo, não aparecia na justificativa da proposta, nem no texto do projeto de lei. Na verdade, o art. 1.º do PL 7.299 era muito claro: “É vedada aos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública”.

Da forma como estava escrito, havia diversas razões para considerar o projeto absurdo. A primeira delas é que universidades, autarquias, fundações e institutos de pesquisa teriam de cancelar assinaturas de periódicos e bases de dados imprescindíveis para o desenvolvimento tecnológico e científico brasileiro. A segunda é que se tratava meramente de proteção de uma parcela do mercado, em detrimento de todo o resto da economia nacional. Em vez de proteger a economia nacional a única contribuição do projeto seria atrasar o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país.

Menos mal que Vicentinho tenha desistido da proposta; lamentável é que esse recuo tenha sido motivado exclusivamente pela repercussão negativa, e que projetos dessa natureza ainda sejam propostos em pleno século 21, em que a troca, o compartilhamento e a construção de conhecimento ocorrem na velocidade da luz, trafegando por fibras ópticas e cruzando fronteiras nacionais a todo momento. O que o Brasil precisa é de estímulos para ampliar o intercâmbio intelectual e científico, de iniciativas que abram o Estado para a inovação. Não de iniciativas anacrônicas completamente sem qualidades para levar o país a uma condição de país desenvolvido.

Infidelidade partidária degrada a democracia - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 07/06

A pulverização de legendas com voz no Congresso estimula a prática do fisiologismo e do patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano


À medida que o calendário eleitoral avança, os casos de infidelidade ficam mais evidentes. Desta vez, eles se multiplicam, porque, ao contrário de 2006, quando Lula tentava o segundo mandato consecutivo, Dilma busca o mesmo, mas sem uma certeza de vitória, embora continue favorita.

Como a política oscila em função da perspectiva de poder, uma candidatura de risco, e numa conjuntura de problemas econômicos sem possibilidade de alívio próximo, estimula a traição eleitoral. Neste sentido, o evento promovido na quinta-feira, no Rio, pelo presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, de apoio à dobradinha “Aezão”, Aécio Neves (PSDB) para presidente da República e Luiz Fernando Pezão (PMDB) para governador fluminense, disse tudo.

Picciani conseguiu atrair para uma churrascaria na Zona Oeste 1.600 lideranças, com representantes de 17 partidos, vários da base parlamentar de Dilma. A começar pelo próprio PMDB, sinal estridente de infidelidade.

Entre a diversificada sopa de letras das siglas partidárias presentes, havia até o PCdoB, formalmente aliado, na disputa fluminense, à candidatura de Lindbergh Farias, do PT, adversário de Pezão em outubro.

O bailado político no Rio de Janeiro beira à desfaçatez: Sérgio Cabral e Pezão fazem juras de fidelidade a Dilma, enquanto o presidente regional do partido e outras lideranças aliadas, agastados pela tentativa do PT de passar um rolo compressor no candidato do PMDB ao Palácio Guanabara, trabalham às claras para o arquiadversário dos petistas, o tucano Aécio.

Não é uma exclusividade fluminense. Em São Paulo, Gilberto Kassab (PSD) ensaia mais uma de suas piruetas políticas ao namorar regionalmente a candidatura à reeleição do tucano Geraldo Alckmin enquanto alardeia o apoio a Dilma. Cópia da coreografia do PMDB fluminense.

Estas alianças exóticas em estados vêm de outras eleições. Na reeleição de Lula, por exemplo, em 2006, o PSDB mineiro, a fim de reeleger Aécio Neves governador, produziu nos laboratórios da campanha o voto “Lulécio”: Lula para o Planalto e Aécio para mais um mandato no Palácio da Liberdade. Os dois venceram.

Toda esta confusão não faz bem à democracia, para a qual são necessários partidos fortes e de fato representativos. Mas isto não acontecerá enquanto houver grande pulverização de legendas com assento no Congresso.

Este estilhaçamento partidário estimula, entre outros desvios, o fisiologismo e o patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano. Enquanto, por meio de cláusulas de barreira e/ou extinção das coligações em pleitos proporcionais — deputados, vereadores —, não for reduzido o número de partidos com voz ativa nas Casas legislativas, cenas como as que transcorrem nesta fase de aquecimento de campanha se repetirão. Em prejuízo da imagem do Congresso, dos políticos e da própria democracia.

Desconhecimento ou má-fé? - KÁTIA ABREU


FOLHA DE SP - 07/05

Dizem que o agronegócio usa água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas


No começo desta semana, em seminário promovido pela Folha, tive a oportunidade de ouvir, ao vivo, um dirigente de uma ONG ambiental que foi o segundo na hierarquia do Ministério do Meio Ambiente quando Marina Silva era ministra do governo Lula. Ele expôs sua visão --que é também a de seu grupo de fiéis-- sobre os males do agronegócio para o nosso país.

Embora todas as pessoas livres para pensar reconheçam que o agronegócio é o maior feito da nossa economia nos últimos 50 anos, experimentei, por alguns segundos, a sensação de que a moderna agropecuária brasileira foi um erro.

Felizmente, essa sensação durou pouco. Quando ele passou a desenvolver seus argumentos, percebi logo o tamanho de seus equívo- cos e, mais uma vez, perguntei- me, sem ainda encontrar a resposta, por que essas pessoas nos repudiam tanto.

Da longa lista de acusações, só tenho espaço para contradizer algumas. A primeira delas é que a agricultura brasileira é a maior consumidora de agroquímicos do mundo. Dito assim, parece grave. Mas vamos aos fatos.

O Brasil é o terceiro maior produtor agrícola do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Mas ocorre que a agricultura americana e grande parte da chinesa situam-se nas latitudes temperadas, e a nossa é a maior agricultura tropical do planeta.

Qualquer leigo percebe que, nos trópicos, o calor, a umidade e a menor diferenciação das estações são muito mais propícias aos in- setos e aos diversos agentes pa- togênicos do que as zonas tem- peradas.

Assim, se quisermos produzir aqui, temos que conviver com pragas e doenças, combatendo-as com os agentes criados pela tecnologia e certificados pelos órgãos sanitários do mundo e do Brasil.

O caminho mais eficiente para a redução do uso de defensivos químicos é a utilização de sementes geneticamente modificadas que repelem os agentes patogênicos e dispensam os agroquímicos.

Mas o avanço da transgenia entre nós quase foi paralisado na gestão desse dirigente no Ministério do Meio Ambiente. Para ele, o único caminho parece ser não produzir e importar da Europa, matriz dessa espécie de ambientalismo.

A acusação seguinte é a de que a produção rural brasileira é responsável por 62% das emissões dos gases de efeito estufa em nosso país.

Se isso fosse verdade, a solução seria simples. Bastaria reconverter os campos de milho, soja, arroz e feijão, bem como as pastagens, novamente em cerrado ou mato. E, mais uma vez, importar alimentos do resto do mundo. Era o que fazíamos nas décadas de 1940 a 1970, e a experiência não foi boa.

Quanto às verdadeiras emissões, as provenientes do uso dominante de combustíveis fósseis em nossa matriz energética, nenhuma palavra. Todos os males vêm do agronegócio. Mas não é o que pensa o mundo atualmente.

O sumário para formulação de políticas públicas do IPCC --o painel científico intergovernamental da ONU sobre mudanças climáticas-- diz com todas as letras que, no caminho para mitigação de longo prazo do aquecimento do clima, a alternativa mais eficaz é a descarbonização da energia ou a redução da intensidade de carbono em cada megawatt-hora gerado.

O relatório dos cientistas escla- rece que 80% das emissões de gases-estufa provêm da produção de energia, tornando claro que as emissões derivadas da agricultura e da pecuária não têm relevância objetiva. E é nessa direção que vão caminhar os governos, inclusive o brasileiro.

Eu poderia me estender longamente, mas o espaço é breve. Para essas pessoas, tudo o que fazemos está errado. Dizem que usamos fertilizantes demais, esquecendo-se de que, se não adubamos nossos solos pobres do cerrado, não vamos produzir quase nada.

Usamos água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas, pois apenas 8% da produção brasileira é irrigada com sistemas artificiais.

Isso tudo pode parecer uma mera discussão política. Mas é mais do que isso porque, durante um certo tempo, essas pessoas estiveram no poder. E provocaram todas as formas de insegurança jurídica e prejuízos à imagem da agropecuária brasileira.

Um mau momento - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 07/06

BRASÍLIA - Durante meses em 1989 ouvi de marqueteiros de Ulysses Guimarães que sua candidatura a presidente decolaria após o horário eleitoral. Ele era honesto. Havia comandado a elaboração da nova Constituição. Seu apelido, "senhor Diretas". Tudo verdade. Sem contar o principal: Ulysses teria o maior tempo de TV disponível.

O resto é história. Ulysses amargou o sexto lugar na eleição presidencial de 1989. Teve meros 4,7% dos votos válidos. Não empolgou os brasileiros. O PMDB o abandonou. Havia um desejo de mudança no ar. Dois novatos foram ao segundo turno --Fernando Collor e Lula.

Dilma Rousseff não é Ulysses Guimarães. O Brasil de 2014 não é o de 1989. O PT não é o PMDB. Mas o fato é que as coisas começam a andar mal para a petista. As análises ouvidas são as de sempre: ela é honesta, o país melhorou e após o horário eleitoral vai deslanchar.

Na política vale a mesma explicação usada sobre tragédias aeronáuticas. Um avião nunca cai apenas por um motivo isolado, mas por causa de um conjunto de erros. O desastre decorre de uma sucessão de equívocos, desídia e falta de atenção.

É assim numa campanha eleitoral. A presidente da República negligenciou durante seus três primeiros anos de mandato certos protocolos básicos. Não recebeu políticos de maneira regular e orgânica. Evitou o quanto pode entrevistas nas quais poderia ter sido submetida ao contraditório. Há inúmeros exemplos. A pesquisa Datafolha de ontem é a consequência disso tudo. Dilma recuou para 34% das intenções de voto.

Em junho de 2002, Lula tinha 40% no Datafolha. Em 2006, tinha 46% nesta época. Dilma, em 2010, registrava 38%. Além dos percentuais, qual é a diferença da eleição atual em relação a esses três pleitos anteriores? Nas últimas vezes, a curva petista era nitidamente ascendente. Agora, está embicando para baixo. É um mau momento para o governo.

Supercorporativismo - DEMÉTRIO MAGNOLI


FOLHA DE SP - 07/06

Por decreto, o lulopetismo pretende subordinar os cidadãos ao império das corporações estatizadas


No septuagésimo aniversário da proclamação do Estado Novo, em 2007, Lula celebrou a Consolidação das Leis do Trabalho e, num português claudicante, definiu Getúlio Vargas como o presidente "que tirou toda uma nação de um estágio de semiescravidão para tornar os cidadãos com direito a terem um emprego com carteira assinada". Vargas usinou o Estado brasileiro no torno mecânico do corporativismo. Por meio do Decreto 8.243, o lulopetismo pretende reinventá-lo no torno do supercorporativismo. Como no Estado Novo, a meta é degradar a democracia representativa, subordinando os cidadãos ao império das corporações estatizadas.

O varguismo fez da carteira de trabalho a prova da cidadania, e dos sindicatos, a representação da sociedade. Depois de reiterar o corporativismo tradicional, incorporando as centrais sindicais às estruturas do Estado, o lulismo dá um passo adiante, criando uma segunda prova de cidadania, que é a militância organizada num "movimento social". No fundo, o supercorporativismo cinde a sociedade em duas categorias de cidadãos, conferindo uma cidadania de segunda classe aos indivíduos que não militam em "movimentos sociais".

O Estado Novo organizava-se num Conselho da Economia Nacional, dividido em seções da indústria, da agricultura, do comércio, dos transportes e do crédito, formadas pelo governo e pelos sindicatos patronais e de trabalhadores. O supercorporativismo projeta erguer um Estado Novíssimo constituído por "conselhos de políticas públicas" formados pelo governo e pelos "movimentos sociais". Segundo o Decreto, os "conselhos" setoriais têm a prerrogativa de participar da gestão das políticas públicas. No Estado Novo, Parlamento e partidos foram abolidos. No Estado Novíssimo do lulismo, eles seguem existindo, mas apenas como registros fósseis da democracia representativa.

O Decreto que institui o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) tem como alvo verdadeiro a pluralidade política. Na democracia representativa, o foro institucional de debate político é o Congresso, constituído por representantes eleitos pelos cidadãos. Na "democracia participativa" inaugurada pelo SNPS, o povo passa a ser "representado" por líderes de "movimentos sociais" selecionados pelo governo. Os "conselhos" resultantes serão majoritariamente integrados por militantes que gravitam na órbita do PT. A natureza consultiva dos "conselhos" é quase um detalhe, pois sua característica forte é a permanência: a nova "representação" da "sociedade civil" não está sujeita ao crivo das eleições.

A ordem corporativa varguista repousava, diretamente, sobre o princípio da harmonia social. Arquitetado na moldura democrática, o supercorporativismo lulista almeja produzir a harmonia por meio da administração partidária do conflito. O Decreto institui "mesas de diálogo" destinadas a "prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais". De um lado, as tais "mesas" procuram abolir a negociação direta, sem mediação governamental, entre atores sociais. De outro, concluem o processo de estatização dos "movimentos sociais" aliados ao PT, que já são financiados pelo poder público.

O SNPS não pode ser comparado às audiências públicas eventuais convocadas pelos governos ou pelo Congresso. Nos termos do Decreto, ele se configura como uma vasta estrutura burocrática, de "conselhos", "mesas", "fóruns interconselhos" e "conferências", comandada por um "secretário-geral". Em termos práticos, isso significa que Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e imagem holográfica de Lula, converte-se no Lorde Protetor da "democracia participativa".

Vargas precisou de um golpe de Estado para instituir o Estado Novo. O lulopetismo instituiu o Estado Novíssimo por um mero decreto, na expectativa de que um Congresso desmoralizado curve-se à vontade soberana do Executivo.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO


Não pretendemos que este tema se sobreponha aos demais”
Pré-candidato a presidente do Partido Verde, Eduardo Jorge, sobre a “natureza”


GOVERNO PAGOU (SEM SABER)PROTESTO DOS ÍNDIOS

A manifestação de um grupo de índios, em 27 de maio, que ficou conhecida pelas flechas atiradas contra policiais e motoristas, foi bancada com recursos federais. E sem que o governo soubesse. Acionada para investigar o caso, a Polícia Federal identificou servidores e antropólogos ligados ao governo federal ou financiados com recursos públicos, por trás do protesto.

COMO GADO

Recursos também foram usados pelos antropólogos ligados à Funai e Funasa, ilegalmente, para levar índios a Brasília como gado.

CAUSA PRÓPRIA

ONGs fizeram os índios protestar contra o projeto de transferir a demarcação de terras ao Congresso – retirando poder das ONGs.

BUCHA DE CANHÃO

Exibindo cocares que lembravam filmes de faroeste americano, índios foram conduzidos à passeata que acabou em pancadaria e flechadas.

HESITAÇÃO

O Planalto avalia a oportunidade de a PF indiciar e entregar à Justiça servidores e antropólogos que estavam por trás da baderna indígena.

MAUS-TRATOS DE DILMA NA TV

A oposição trabalha para levar à TV, na campanha, testemunhos de funcionários dos palácios do Planalto e da Alvorada supostamente ofendidos pela presidente Dilma. Como o caso da camareira que teria tomado uma bordoada, após pegar um colar diferente do solicitado pela patroa. Ou os médicos e militares, ajudantes de ordem, que, maltratados, passaram a enfrentar até problemas emocionais.

INSUPORTÁVEL

Entre as histórias marcantes de bullying de Dilma: levou uma oficial da Marinha, indignada, a abandonar sua ajudância de ordens.

EU AVISEI...

Ex-ministro muito ligado a Dilma, hoje em campanha no seu Estado, chegou a adverti-la para possível denúncia de serviçais maltratados.

EXCESSOS

Impaciente e intolerante a falhas, Dilma dá broncas consideradas desproporcionais sem olhar a quem, de ministros a camareiras.

BOCA MALDITA

Nelson Bocaranda, o blogueiro do jornal El Universal (Venezuela), que primeiro anunciou o câncer de Hugo Chávez, diz que a doença de Lula voltou, obrigando visitas de madrugada ao hospital Sírio Libanês.

TEMER FAZ OFENSIVA

Às vésperas da convenção do PMDB, nesta terça (10), o vice Michel Temer passa o fim de semana em Brasília ao telefone, em busca de votos favoráveis à reedição da aliança com Dilma.

VIÉS DE BAIXA

Eduardo Campos (PSB) perdeu 4 pontos percentuais e Dilma (PT) 3, na disputa presidencial, segundo o Datafolha. Ambos fora da margem de erro. Aécio Neves (PSDB), mais estável, oscilou apenas 1%.

NOVA SENSAÇÃO

O presidenciável Pastor Everaldo (PSC) caminha para se transformar na sensação da campanha. Sua ligação a Marcos Feliciano (PSC-RJ), terror do mundo gay, não parece atrapalhar seu desempenho.

PP DE VOLTA

Filho do senador Benedito de Lyra (PP-AL) e enrolado com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, o deputado Arthur Lira apareceu na última reunião do blocão, que se rebelou contra o Dilma.

SANSÃO

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), neo-cabeludo após implante, tenta descobrir quem o apelidou de “Sansão”, após a valentia contra servidores. A brincadeira é dos amigos da “governança” do Senado.

AREIA MOVEDIÇA

O PT-SC, que lançou Cláudio Vignatti ao governo, está uma arara com a presidente Dilma, que rasgou seda na última sexta ao governador Raimundo Colombo, do PSD, que está longe de apoiá-la no Estado.

CIRCULANDO

De nada resolveu a carteirada de Marcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo Horizonte, na tentativa de receber a seleção chilena no aeroporto. Foi barrado por militares da Aeronáutica para não “atrasar o desembarque”.

PENSANDO BEM...

...teremos Copa com faturamento Fifa, estádios padrão Lula, transportes estilo Cuba e preços nível Noruega.



PODER SEM PUDOR

BISTURI RÁPIDO

Após uma homenagem ao Dia da Mulher, na Assembleia Legislativa da Paraíba, uma loura estonteante de "magníficos e exuberantes seios", como relatou Hélder Moura no Correio da Paraíba, passou pelo médico e deputado Antônio Ivo. Boquiaberto, cutucou o deputado Inaldo Leitão:

- Eu em cima de uns peitos desses...

Só então Ivo notou que sua própria mulher ouvira o gracejo. E o desafiou:

- O que é que você fazia, Antônio Ivo?!...

Ele, em cima da bucha:

- ...eu pegava o meu bisturi e fazia uma plástica de torar!

Expansão do crime organizado pressiona o Estado - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 08/06

Quadrilha paulista estende seus tentáculos a grande parte do território e alia-se a grupos de outros países para ampliar o tráfico a níveis internacionais


Impressiona a radiografia da maior facção do crime organizado do país, exposta em recente série de reportagens do “Extra” sobre a rede, chamada pelo jornal de “Narcosul”, que grandes quadrilhas de Brasil, Bolívia, Peru e Paraguai montaram para explorar o tráfico de drogas em escala internacional a partir daquela região. A estrutura e as conexões desse condomínio, por si só, merecem a atenção das autoridades brasileiras, por suas óbvias implicações no comércio criminoso interno de entorpecentes. Mas, para além disso, fica evidente que o paulista Primeiro Comando da Capital, PCC, deixou de ser um bando regional para se transformar em organização com ramificações em praticamente todo o território nacional.

Esse novo e muito preocupante patamar do crime organizado remete a algo como a criação de uma máfia verde e amarelo. Seus números são superlativos, seu alcance, abrangente, e seus métodos, intimidadores. Na última década, o PCC deixou para trás os rivais cariocas — em especial o até então criminoso mais poderoso do país, Fernandinho Beira-Mar —, com uma estrutura tentacular que, segundo estimativas do MP de São Paulo, reúne quase 12 mil integrantes. Com procedimentos mafiosos, o grupo implantou regras como a cobrança de mensalidades e arregimenta presos em cadeias de diversos estados.

A relação do PCC com o sistema penitenciário, por sinal, vai muito além do mero recolhimento à prisão de bandidos ligados ao grupo. Ela se processa de uma forma que transgride a própria finalidade das cadeias — por definição, espaços de punição e, em tese, de correição de criminosos. Foi num presídio paulista, em Taubaté, que surgiu a primeira célula da organização e é de dentro de uma cela que seu chefão, o bandido Marcola, comanda as ações criminosas da quadrilha.

Essas duas características — a nacionalização das ações do PCC e a transformação de presídios em escritórios do crime organizado —, que dão a dimensão dos seus tentáculos, são o aspecto mais preocupante do crescimento do bando para fora das fronteiras de São Paulo (e agora também, sob a “bandeira” do “Narcosul”, do próprio país). A estrutura ramificada, a diversificação de atividades, a multiplicação de mercados (tanto para o abastecimento da quadrilha como para a venda de drogas) aumentam as já significativas dificuldades para combater a organização.

Se esses aspectos já são suficientemente preocupantes, renitentes demandas no âmbito da estrutura institucional de combate ao crime tornam ainda mais sombrio o problema da nacionalização do crime organizado. Caso, por exemplo, da falida política penitenciária do país (com déficit de vagas nas prisões), de falhas na execução penal (por exemplo, os altos índices de presos que cumprem pena sem terem sido formalmente condenados pela Justiça) etc. A questão é grave e precisa ser enfrentada com ações à altura do desafio e um envolvimento firme do Executivo federal.

Triângulo das Bermudas - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 08/06

BRASÍLIA - Dilma cai nas pesquisas, Lula sobe nos palanques e o PT e a campanha quebram a cabeça -- ou batem cabeça?-- buscando caminhos para garantir a vitória.

Enquanto isso, Aécio Neves, apesar de ter oscilado de 20% para 19%, vai se afirmando como virtual adversário no segundo turno e avança pelos três maiores colégios eleitorais: Rio, São Paulo e Minas, que reúnem em torno de 40% dos votos.

Um dos principais fatos políticos da semana passada, além das greves paulistanas e do Datafolha, foi a demonstração de força de Aécio no Rio, onde a chapa "Aezão" (Aécio para presidente, e o pemedebista Pezão para o governo) pegou.

Ele estrelou um evento organizado pela cúpula do PMDB estadual, com 1.600 lideranças e gente de 17 partidos. Demonstra tanto o potencial da campanha tucana quanto as incertezas da candidatura petista.

Em São Paulo, surpreende a capacidade de resistência do governador Alckmin, que sobrevive a greves, manifestações, violência e até falta de água (?!), com 44 % das intenções de votos. Talvez por isso --e pela baixa aprovação do prefeito Fernando Haddad (PT)-- Aécio já esteja empatado com Dilma na capital. Os dois mineiros têm ali os mesmos 21%.

Os intrincados arranjos de Alckmin com o PSB de Campos e com o PSD de Kassab podem descolar Aécio de Dilma e levá-lo à liderança no Estado. Especialmente, claro, se uma chapa Alckmin-Kassab esgarçar o já frágil apoio do PSD a Dilma.

Em Minas? Aécio deixou o governo com alta aprovação e esta é a grande chance de um mineiro "de verdade" (Dilma é meio gaúcha) subir a rampa depois de Itamar, que chegou pela porta lateral e era baiano. Dificilmente Aécio perderá em Minas.

Um fator relevante é que todos esses arranjos ocorrem num momento em que Dilma não convence, Aécio precisa crescer e todos disputam um eleitor irascível e forte: o sr. Voto Nulo Branco Indeciso da Silva.

Ah! E o Pastor Everaldo vem aí.

Pacto da impunidade - SUELY CALDAS


O ESTADO DE S. PAULO - 08/06

Um pacto entre parlamentares da base governista e da oposição para livrar grandes empresas das investigações da CPI mista da Petrobrás foi revelado em reportagem de Débora Álvares, publicada domingo passado neste jornal. Não é a primeira vez que isso acontece nem será a última. A blindagem de proteção a essas empresas é garantida por parlamentares que delas recebem expressivas doações de dinheiro para financiar suas campanhas eleitorais. Aconteceu no passado em outras CPIs e nesta, às vésperas de uma eleição, os doadores podem ficar ainda mais tranquilos: PMDB, PT, PSDB, PSB, DEM, PP, PDT, etc., vão se esmerar para mantê-los bem longe da CPMI. E na disputa por doações levam vantagem PMDB e PT, que detêm a presidência e a relatoria.

A Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento de fiscalização a que os partidos minoritários recorrem para investigar suspeitas de crimes, fraudes e outras irregularidades praticadas por agentes do poder público, sobretudo quando envolvem desvios de dinheiro. É um recurso absolutamente necessário para a democracia, quando levado a sério, investiga, produz resultados e os acusados são levados à Justiça e punidos. Mas no Brasil, com raras exceções, elas têm servido muito mais de palco, palanque para os políticos - da base governista e da oposição. Depois da ditadura militar as CPIs foram banalizadas e multiplicadas com o crescimento da corrupção. Só no governo Lula foram instaladas nada menos que 24. Acordos entre parlamentares que delas participam, como este da CPMI da Petrobrás, levam à frustração em resultados e engrossam a desilusão, frustração e descrença da população no Poder Legislativo.

Poucas delas produziram desdobramentos que chegassem à Justiça. As mais conhecidas foram a CPI do ex-presidente Fernando Collor, que resultou em impeachment e suspensão de seus direitos políticos por oito anos; e a CPI dos Correios, que investigou a prática do mensalão e condenou 24 réus, entre eles um ex-ministro de Lula, parlamentares do PT e banqueiros. Em compensação a CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que ficou conhecida como a "CPI do fim do mundo", pela pretensão de investigar um número expressivo de políticos, produziu tão somente a cassação do mandato do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e a breve prisão de nove meses de Cachoeira.

Já nem lembrança resta, mas em 2009 o Senado instalou uma CPI relâmpago da Petrobrás, que realizou apenas 13 sessões e seu relator, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), fez apaixonada defesa da empresa e inocentou todos os envolvidos. A oposição produziu um relatório paralelo apontando 18 irregularidades, entre elas a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima (também investigada agora) e a venda de uma refinaria à Bolívia por preço inferior ao do mercado, exatamente o inverso do caso da Refinaria de Pasadena, que a Petrobrás teria comprado a preço acima do mercado. Parece até reprise de um filme - aliás, o presidente da CPI de 2009, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), é o mesmo desta CPMI que mal começou e já produziu um pacto de impunidade.

Se já não havia esperanças com uma CPMI no meio da Copa do Mundo, do recesso parlamentar e da campanha eleitoral e dominada por partidos aliados do governo, a desesperança é reforçada com esta farsa montada com a ajuda da oposição, que busca apontar corruptos, mas esconde corruptores.

Se real fosse a disposição de apurar, a investigação poderia começar por auditoria concluída pela própria Petrobrás, que encontrou ágio de até 1.654% em preços praticados pelo Grupo Odebrecht na execução de um contrato de prestação de serviços de segurança e meio ambiente em dez países. Na Argentina, por exemplo, a construtora teria pago R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas fotocopiadoras e R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio da Petrobrás. E ainda requisitar da Polícia Federal investigações que apuraram a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima, de parte do consórcio liderado pela Construtora Camargo Correa. Mas para que investigar doadores de campanha?


O que caracteriza o futebol? - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 08/06

A facilidade para a prática e a flexibilidade devem ter facilitado a difusão do futebol pelo mundo


Com o início da Copa do Mundo na próxima semana, teremos uma boa oportunidade para tentar refletir sobre o que faz do futebol o futebol.

Podem-se imaginar duas narrativas para explicar por que, entre tantos esportes, o futebol acabou prevalecendo como o mais popular por larga margem.

A primeira narrativa enfatiza os fundamentos. Há algo de intrinsecamente melhor no futebol que justifique o fato de o esporte ter caído no gosto popular. A segunda assevera que pode simplesmente ter ocorrido uma sucessão de acasos que fez que várias pessoas gostassem do futebol. Uma vez tendo sido criada uma vantagem inicial, ela se realimenta automaticamente.

No primeiro caso, temos um único equilíbrio de longo prazo, e qualquer processo evolutivo teria "descoberto" algo com formato muito próximo ao do futebol. No segun- do, há múltiplas (quiçá infinitas) possibilidades e o processo histó- rico específico teria selecionado o esporte. A escolha teria sido quase por acaso.

Não tenho condição de responder à questão anterior, mas certamente a facilidade do esporte --demandar poucos recursos para sua prática-- e a flexibilidade --poder ser jogado em diversos locais com grupos diversos de pessoas-- devem ter facilitado a difusão.

Além da praticidade e da flexibilidade, parece-me que o espor- te apresenta seis características únicas que talvez sejam, de alguma forma, os fundamentos da sua superioridade.

A primeira é que se trata de um esporte com um erro de design. O pé é muito menos habilidoso do que as mãos. É perfeitamente natural que houvesse pressão para per- mitir o uso das mãos. Ela de fato existiu e gerou o rúgbi como variação do futebol.

A segunda é que é um esporte no qual não há um tipo físico óbvio. Há jogadores altos e baixos, mais ou menos robustos, rápidos e mais lentos etc. O jogo tem tal complexidade de movimentos e possibilidades de funções que acomoda grande diversidade de tipos físicos.

Evidentemente há que ser talentoso. E nesse aspecto é possível que seja tão injusto como qualquer outro esporte. Friso somente que o talento no futebol não se vincula a um tipo físico.

A terceira é que é um esporte de placar baixo, no qual o empate é um resultado perfeitamente natural. Para os aficionados do futebol, uma vitória de 100 a 102 do basquete não faz sentido. O problema é que placares muito elevados tornam muitas vezes a distância entre vitória, empate e derrota muito pequena.

A quarta característica é que é muito difícil descrever a situação do jogo por meio de estatísticas. Com alguma frequência ocorre de um time jogar melhor do que outro, todos que assistem ao jogo reconhecem este fato, mas qualquer estatística --tempo de domínio de bola, chutes ao gol, escanteios conquistados, desarmes etc.-- sugere o contrário. Teria que haver um critério relativamente transparente de caracterizar jogada perigosa, o que é possível, mas nada fácil.

A quinta característica é que às vezes --bem menos do que se imagina-- os fundamentos não prevalecem e o time que está jogando pior vence. Trata-se de uma consequência de ser jogo de placar baixo.

Finalmente, por ser um esporte de contato jogado com o pouco habilidoso pé, a falta é natural do jogo. Se houver vedação muito estrita à falta, o jogo ficará muito chato. A maneira de solucionar esse dilema foi adotar regras de punição não muito lineares. Há uma dimensão temporal e outra espacial na não linearidade.

Ao reincidir nas faltas, o jogador constrói (ou melhor, destrói) sua reputação. Da conversa e do cartão amarelo para o vermelho há for- te descontinuidade na punição. Essa é dimensão temporal da não linearidade.

Por ser praticado com o pé, a defesa tem vantagem sobre o ataque. É difícil construir e fácil destruir. Se o time conseguiu construir uma jogada e levar a bola até a área adversária, já fez demais. Prati- camente marcou um gol. A falta na área é punida com o pênalti. Essa é a dimensão espacial da não linearidade.

Parece-me que somente o fute- bol tem esse conjunto singular de características. É possível que a popularidade seja fruto dos fundamentos.

Os campos da Copa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 08/06

A copa econômica se ganha em vários campos, e estamos perdendo. Ela deveria aumentar o ritmo de crescimento e elevar o ânimo. Ocorre o oposto. Não estamos eliminados ainda, mas há pouca chance de se aproveitar o momento para retocar a imagem de país do improviso. A bola começará a rolar esta semana e estaremos diante dos olhos do mundo. Ainda há esperança.

Ficar no foco do planeta não serve apenas para aparecer bonito na foto. A hora é de atrair capitais e turistas para além do tempo dos jogos. Os aeroportos não estão terminados, ainda batem o martelo no estádio da estreia, a rede de comunicação celular no país parece perto do colapso, os provedores de wi-fi não entregam o que prometem e a mobilidade urbana travou. Imagina a amplificação da mensagem adversa sobre o país que pode ser enviada pelos formadores de opinião?

O desconforto nos aeroportos pode ser reduzido com boa informação aos visitantes, a mobilidade urbana tem chance de melhorar com os feriados, a última martelada pode ser dada no Itaquerão minutos antes da cerimônia de abertura. Mas se os visitantes não conseguirem se comunicar por falhas na tecnologia de informação será um desastre. Não há hoje em dia um atestado de subdesenvolvimento maior do que não ter uma boa estrutura de comunicação.

Na economia interna, os tempos de Copa não garantiram o aumento do ritmo de atividade econômica que sempre houve. Pelo contrário, o risco maior é de ter um segundo trimestre de encolhimento do Produto Interno Bruto. A confiança do empresário e do consumidor caiu nos últimos meses. O consumidor restringiu suas compras ao essencial e só a produção de televisores aumentou. O empresário engavetou os planos de investimento. O que neutralizou o efeito copa foi a crise avassaladora na área energética. Ninguém investe se não souber responder à pergunta: quanto vai
custar a energia? Essa falta de resposta azedou o clima nas empresas, mais do que qualquer outro problema.

Consultadas pela Fundação Getúlio Vargas, apenas 1,9% das empresas de serviços e 3%, da área do comércio, disseram que vão aumentar as contratações para a Copa. E 10,6% e 7,8%, nos dois setores, falaram em contratar trabalhadores temporários. Emprego não é nosso maior problema, mas se esperava maior dinamismo.

Em qualquer democracia há manifestações e greves. Isso costuma demonstrar a solidez das instituições democráticas. Melhor do que trancafiar os dissidentes como fazem os governos totalitários nas vésperas de eventos internacionais. A China fez isso, mas não conseguiu afastar o fantasma da poluição do ar que apagou o céu e sufocou os visitantes das Olimpíadas de Pequim. O problema dos protestos no Brasil é que eles estão tumultuando a vida de milhões de brasileiros. Esqueça-se a Copa, o Brasil tem que usar os metrôs, ônibus e trens para exercer o direito de ir e vir. É esse direito fundamental dos brasileiros que está sendo atingido nas greves seriais que paralisam as maiores cidades.

O grande legado de qualquer evento internacional é a mudança permanente que fica para a sua população. Exemplo disso foi a esperança de que as Olimpíadas de 2016 ajudassem no caminho do sonho de ser feita uma limpeza na Baía de Guanabara. Chegamos a pensar que ocorreria aqui o que houve em Sidney. Dois anos antes, os cariocas, em particular, e os brasileiros, em geral, já arquivaram esse sonho dourado que existia antes de o país ser escolhido e continuará conosco após 2016. Nas visitas precursoras, estamos passando vergonha diante dos velejadores. Mas eles depois irão para outras águas. Nós ficaremos aqui, e a limpeza era principalmente para os brasileiros. As Olimpíadas eram o pretexto para fazer a coisa certa.

Na Copa, havia também o sonho de que pelo menos alguns dos problemas das cidades-sede iriam ser resolvidos e as soluções ficariam conosco como legado. Já demos um grande abatimento nessa esperança. Agora estamos concentrados em evitar o pior.

Alguns bancos montaram modelos com variáveis e antecedentes do futebol. Avaliaram a qualidade do time, a tradição do país e o fato de jogar em casa. Rodado o modelo, antes de a bola rolar no gramado, ficou constatado que a seleção com maiores chances é a do Brasil. Se os economistas e suas contas estiverem certos, restará essa chance de alegria..

Pacto da impunidade - SUELY CALDAS


O ESTADO DE S. PAULO - 08/06

Um pacto entre parlamentares da base governista e da oposição para livrar grandes empresas das investigações da CPI mista da Petrobrás foi revelado em reportagem de Débora Álvares, publicada domingo passado neste jornal. Não é a primeira vez que isso acontece nem será a última. A blindagem de proteção a essas empresas é garantida por parlamentares que delas recebem expressivas doações de dinheiro para financiar suas campanhas eleitorais. Aconteceu no passado em outras CPIs e nesta, às vésperas de uma eleição, os doadores podem ficar ainda mais tranquilos: PMDB, PT, PSDB, PSB, DEM, PP, PDT, etc., vão se esmerar para mantê-los bem longe da CPMI. E na disputa por doações levam vantagem PMDB e PT, que detêm a presidência e a relatoria.

A Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento de fiscalização a que os partidos minoritários recorrem para investigar suspeitas de crimes, fraudes e outras irregularidades praticadas por agentes do poder público, sobretudo quando envolvem desvios de dinheiro. É um recurso absolutamente necessário para a democracia, quando levado a sério, investiga, produz resultados e os acusados são levados à Justiça e punidos. Mas no Brasil, com raras exceções, elas têm servido muito mais de palco, palanque para os políticos - da base governista e da oposição. Depois da ditadura militar as CPIs foram banalizadas e multiplicadas com o crescimento da corrupção. Só no governo Lula foram instaladas nada menos que 24. Acordos entre parlamentares que delas participam, como este da CPMI da Petrobrás, levam à frustração em resultados e engrossam a desilusão, frustração e descrença da população no Poder Legislativo.

Poucas delas produziram desdobramentos que chegassem à Justiça. As mais conhecidas foram a CPI do ex-presidente Fernando Collor, que resultou em impeachment e suspensão de seus direitos políticos por oito anos; e a CPI dos Correios, que investigou a prática do mensalão e condenou 24 réus, entre eles um ex-ministro de Lula, parlamentares do PT e banqueiros. Em compensação a CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que ficou conhecida como a "CPI do fim do mundo", pela pretensão de investigar um número expressivo de políticos, produziu tão somente a cassação do mandato do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e a breve prisão de nove meses de Cachoeira.

Já nem lembrança resta, mas em 2009 o Senado instalou uma CPI relâmpago da Petrobrás, que realizou apenas 13 sessões e seu relator, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), fez apaixonada defesa da empresa e inocentou todos os envolvidos. A oposição produziu um relatório paralelo apontando 18 irregularidades, entre elas a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima (também investigada agora) e a venda de uma refinaria à Bolívia por preço inferior ao do mercado, exatamente o inverso do caso da Refinaria de Pasadena, que a Petrobrás teria comprado a preço acima do mercado. Parece até reprise de um filme - aliás, o presidente da CPI de 2009, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), é o mesmo desta CPMI que mal começou e já produziu um pacto de impunidade.

Se já não havia esperanças com uma CPMI no meio da Copa do Mundo, do recesso parlamentar e da campanha eleitoral e dominada por partidos aliados do governo, a desesperança é reforçada com esta farsa montada com a ajuda da oposição, que busca apontar corruptos, mas esconde corruptores.

Se real fosse a disposição de apurar, a investigação poderia começar por auditoria concluída pela própria Petrobrás, que encontrou ágio de até 1.654% em preços praticados pelo Grupo Odebrecht na execução de um contrato de prestação de serviços de segurança e meio ambiente em dez países. Na Argentina, por exemplo, a construtora teria pago R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas fotocopiadoras e R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio da Petrobrás. E ainda requisitar da Polícia Federal investigações que apuraram a prática de superfaturamento na Refinaria Abreu e Lima, de parte do consórcio liderado pela Construtora Camargo Correa. Mas para que investigar doadores de campanha?

O fantasma de Dilma em 2015 - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 08/06


País deve evitar crise, mas quase-estagnação vai causar problema político no próximo governo


NOS ANOS DILMA, a economia terá crescido pouco menos de 2% ao ano, sob uma inflação anualizada de 6%, em média, e uma taxa de desemprego decrescente, a menor em décadas. Trata-se de uma espécie exótica de estagflação moderada.

Quanto tempo pode durar essa discrepância entre baixa produção e baixo desemprego? Quais as consequências políticas dessa quase-estagnação no próximo governo?

Note-se ainda que, sob Dilma, o deficit público cresceu. O investimento do governo como proporção do PIB quase não se moveu. A massa do consumo das famílias terá crescido a mais do que o dobro do ritmo da alta do investimento "na produção". O deficit externo, nosso excesso de consumo bancado pelo exterior, aumentou bem.

Como diz o o clichê da hora, não obstante correto, é um quadro de excesso de consumo, manifesto na inflação relativamente alta e no deficit externo crescente e incômodo. Em outras eras, situação semelhante daria logo em crise. Agora, o Brasil é um país de fato mais resistente.

Tem reservas internacionais bastantes para evitar ou atenuar especulações sobre nosso deficit externo grande, sobre nossa capacidade de pagamentos externa. Apesar da piora das contas do governo, a dívida pública está sob controle, mesmo levando em conta maquiagens e esqueletos fora do armário tais quais as dívidas feitas para bancar a expansão do crédito na banca estatal. Restou certa ordem fiscal, herdada dos anos 2000-2007.

Não é de desprezar também o fato de termos um mercado doméstico de consumo grande e ampliado recentemente, além de protegido da concorrência, o que atrai uma quantidade ainda razoável, embora cadente, de investimento estrangeiro "na produção".

No entanto, o sonho da desrazão de tal "modelo" vai produzir monstros. Há inflação adicional incubada: 1) Preços represados de combustíveis, eletricidade, transportes públicos; 2) A derivada da desvalorização do real que virá em algum momento (pela mudança dos juros nos EUA, pelo nosso próprio excesso de deficit e inflação); 3) A derivada dos salários ainda crescentes, dado o desemprego baixíssimo.

Mesmo na hipótese "gradualista" do controle de tais danos (em termos de juros e corte de gastos públicos), não é possível imaginar aceleração do crescimento em 2015, a não ser na hipótese de colapso ainda em 2014. A alta do desemprego seria modesta, mas a quantidade de empregos cresceria cada vez mais devagar, assim como a renda, tendência desde a metade de 2013.

A alta anêmica do PIB deixará o governo sem caixa para aumento significativo de despesas sociais; vai conter por mais um tempo os aumentos do salário mínimo e dos benefícios previdenciários (vinculados à variação do PIB).

Na ausência de tumulto no exterior (EUA), talvez seja possível administrar a quase-estagnação por mais uns dois anos, supondo-se que não houvesse deterioração ainda pior da confiança econômica.

Mas como fica o humor "social", político? A redução do ritmo das melhorias sociais e de renda já não pegou bem, vê-se, dadas as expectativas aumentadas, dadas as melhoras da década recente. Como lidar com a frustração dessas expectativas no novo governo? Como atenuar as dores da mudança e criar uma conversa que a legitime?

A pilhagem do patrimônio público - SACHA CALMON


CORREIO BRAZILIENSE - 08/06

O governo faz tudo para impedir que as comissões parlamentares de inquérito não averiguem os ataques ao dinheiro público. As comissões são instrumentos de atuação parlamentar das minorias, aqui e alhures, onde regimes democráticos imperam sobranceiros e não menosprezados, amesquinhados, avacalhados por comissões chapa-branca, como ocorre entre nós. Tornou-se um mantra do PT - os primeiros a dizê-lo foram Lula e José Dirceu - que tudo dito pela imprensa ou falado pela oposição é da "luta política". Nunca há irregularidades. São invencionices discursos malévolos, impulsionados pela "luta política". O mensalão, por exemplo, "jamais existiu" (20% jurídico, 80% político).

Os roubos perpetrados na Petrobras e na Petros, sob os governos do PT, também inexistem! Até a prisão dos mensaleiros inexiste, foi só um pesadelo. Saindo Joaquim, estarão nas ruas. Tudo não passou de um mal-entendido.

Mas a mídia não nos dá trégua; se não, vejamos. O conselho de administração da Refinaria Abreu e Lima aprovou, em apenas 14 dias, dois contratos que somam quase R$ 250 milhões, sem passar por licitação ou mesmo pelo atalho dos "convites", que costuma ser trilhado pela Petrobras em suas contratações. As transações ocorreram às vésperas de o conselho ser encerrado pela estatal, no fim de 2013, conforme apurou o Valor. Apenas duas semanas depois, o conselho já sacramentava os contratos. Àquela altura, faltava menos de um mês para que o conselho da refinaria deixasse de existir, já que Abreu e Lima seria totalmente absorvida pela estatal.

Não basta saquear a Petrobras. "A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, concedeu R$ 95 milhões em empréstimos a empresas ligadas aos controladores e ex-diretores do banco BVA, instituição que teve liquidação extrajudicial decretada em junho, segundo relatório final da comissão de inquérito do Banco Central (BC). (...) Para o BC, a Petros cometeu dois tipos de irregularidades. Uma delas é ter assumido o papel de banco, algo proibido pela regulação. A outra é que gestores da Petros atuaram num esquema com indícios de conluio, que tinha como objetivo transferir recursos para executivos do banco. (...) Não é a primeira vez que a Petros compra CCBs estruturadas por bancos liquidados. A fundação amargou perda de R$ 72 milhões por comprar papéis que tinham como lastro operações de crédito consignado geradas pelo Banco Morada." (Valor)

Nestes dias de Copa do Mundo, quando o futebol a tudo substitui, estão os petistas comemorando a saída do Sr. Joaquim Barbosa do Supremo tribunal Federal, com ódio no coração, mas aliviados pelo que ele representava: firmeza, imparcialidade, certeza de punição para os ladravazes. São tantos os políticos da base governista envolvidos em falcatruas, como o deputado Vargas, escondido nos esconsos do Brasil, depois de levantar o braço à moda comunista do Zé Genoino na cara do ministro, que a sensação não poderia ser outra se não de alívio e conforto.

Joaquim Barbosa, porém, é homem honrado. Entrará para a história como o juiz que escancarou, comprovadamente, a abominação petista de maneira didática e insofismável, seu maior galardão. Certo, é de temperamento explosivo e franco. Detesta as mesuras, as meias palavras, os "data vênia", a mentira, a incúria, o crime. Melhor ser assim do que conivente com a hipocrisia, a desfaçatez, o corporativismo, a leniência generalizada que infelicita a República. Uns 100 Joaquim Barbosa nos fariam um imenso bem.

O ódio do PT pelo ministro que se despede, coberto de honra e respeito, tem razão de ser. Primeiro, imaginaram que um negro, só por sê-lo, indicado por Lula, ser-lhe-ia grato, subserviente, e se enganaram redondamente. Nos começos, quando lhe perguntaram se era grato a Lula pela nomeação, polidamente respondeu que fora ao Palácio agradecer a indicação e acrescentou: "Estamos quites". Vale dizer, ele, Lula, cumprira o seu dever indicando-o. Ele cumpriria o seu, com o rigor e a isenção exigidos pelo cargo.

Foi altivo como costumam ser os grandes de caráter. Depois disso, surpreendeu o país e os advogados criminalistas prontos a dilacerar o processo, semeando confusões em solenes declamações. Fez um relatório magnífico, minucioso, recheado de provas e - agora o principal - dividido por núcleos: o político, o financeiro, o publicitário, o operacional, e assim por diante. E foi unindo as partes lógicas e, cronologicamente, permitindo a mídia explicar aos brasileiros a trama criminosa conhecida por mensalão. Fosse nos EUA, já teríamos uns 10 livros e magnífico filme tipo Watargate - todos os homes do presidente. Desde então, para o PT, se tornou um amaldiçoado.

Um homem com dor nas costas dominou um processo com incontáveis volumes e fez história. Que o futuro lhe seja menos penoso, ministro Joaquim. Mas tome cuidados. Os tempos e os modos não são confiáveis.

Grave desfalque na seleção - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O GLOBO - 08/06

É uma violação dos direitos humanos do torcedor marcar passeatas perto dos jogos da Copa



Há heróis anônimos, ignorados ou esquecidos, em toda parte. Não seria diferente em relação à Copa. Pelo país afora, tenho certeza de que muitos compatriotas estão tomando providências essenciais para ajudar a equipe brasileira a chegar ao hexa, que nunca serão reconhecidas e muito menos celebradas. Eu mesmo, modestamente, já contei aqui da oportunidade em que, na companhia de meu pai, colaborei com o sucesso do Brasil, na Copa de 58. Meu pai, que botava uma garrafa de uísque Cavalo Branco ao pé de nossa radiola Standard Electric de última geração, se perfilava na hora do Hino Nacional e usava o mesmo pijama que usou na vitória sobre a Áustria no primeiro jogo, ficou apreensivo porque, logo em seguida, não passamos de zero a zero com a Inglaterra. Mas, pouco depois, com os olhos acesos, me comunicou a descoberta sem a qual talvez aquela Copa não tivesse sido nossa.

— Você estava no banheiro, dando descarga, bem na hora em que Nílton Santos fez o gol, eu me lembro perfeitamente. Precisamente no instante em que a descarga disparou, ele fez o gol. Acho que não preciso dizer mais nada ao senhor.

De fato não precisou e ainda bem que, naquela época, não se falava em falta de água no planeta, do contrário eu carregaria culpa o resto da vida, porque o jogo que veio depois, contra o País de Gales, ficou num um a zero mirradinho, mas eu calculo por baixo que dei umas quarenta descargas. Era duro sincronizar a descarga com uma jogada de nosso ataque, só fui pegar um pouquinho de know-how quase no fim do jogo. Não sei qual seria meu destino, se Pelé não tivesse feito o nosso golzinho, porque meu pai não costumava ser muito compreensivo numa situação dessas. E houve diversas outras ocasiões semelhantes, tenho certeza, em que nossa contribuição foi muito importante, ou mesmo decisiva.

Claro que a ilha nunca esteve fora dessas atividades de suporte, mas este ano surgiram fortes dúvidas, até quanto à nossa torcida. Como sabe a meia dúzia de três ou quatro que me lê todo domingo, Zecamunista estava para, mais uma vez, pôr em ação seus talentos subversivos, e realizar passeatas de protesto, nos dias de jogos do Brasil. Mais tarde, ele próprio adaptou o horário das passeatas, a fim de dar tempo de o pessoal ver os jogos. Mas, na semana passada, para surpresa geral, anunciou que não haveria mais passeatas. Foi vencido num debate em que seu opositor, Geraldo Tuberculoso, mostrou com eloquência que o jogo de futebol não se resume aos noventa minutos de bola rolando. O jogo de futebol tem o antes, o durante e o depois, sendo que muitas vezes o que menos interessa é o durante, que passa ligeiro e não se compara a um bom depois de vários dias, com melhores momentos, replay, tira-teima, discussão e tudo. Desta forma, é uma violação dos direitos humanos do torcedor marcar passeatas perto dos jogos da Copa e possa ser até crime hediondo, pois privar o torcedor de seu depois, em alguns casos, mata.

Zeca cedeu à vontade da maioria, embora muitos tenham questionado seu patriotismo. Era chato acusar um membro da coletividade tão respeitado e de currículo tão invejável, mas a verdade é que parecia haver motivos para fazê-lo suspeito da prática de quinta-colunismo. Comentava-se abertamente que ele não torceria pelo Brasil. Ou, pior ainda, torceria contra o Brasil. Ora, vamos e venhamos, tudo tem limite neste mundo e torcer contra a pátria amada fica muito chato para um cidadão de Itaparica. E foi envolvido nesse clima de desconfiança e desaprovação que ele, melindrado, não falou nada e se recolheu a sua residência.

Como a Copa já se inicia na quinta-feira, a preocupação com ele deu lugar a providências urgentes para escorar a seleção por todos os lados. Com essa conversa de passeata, perdeu-se tempo precioso. As medidas de ordem pessoal eram da responsabilidade de cada um, mas a coletividade tinha que empreender alguma ação conjunta, algo que simbolizasse a união de todos em torno da vitória. Prontamente se chegou ao grande santo Santo Antônio, cujo dia é na próxima sexta e cujo mês é este. Sempre houve novenas de Santo Antônio na ilha e agora, mais do que nunca, cabia recorrer a ele. Dona Fabinha, grande devota dele e beata irretocável, de bom grado realizaria o trabalho de organização. E assim estavam deliberando, quando uma conhecida voz roufenha se vez ouvir à soleira do bar.

— Vocês me acusam de falta de patriotismo, mas são vocês que podem estar cavando uma derrota para o Brasil! — disse Zecamunista. — Eu não me contive e vim fazer um alerta! É meu dever!

— Deixe de ser doido, Zeca, nós estamos aqui acertando umas novenas de Santo Antônio, para ele ajudar a seleção.

— É isso mesmo! A bom santo vocês se encomendam!

— Você não vai falar mal de Santo Antônio, só faltava esta.

— Falar mal, não, eu vou aos fatos! Santo Antônio é português! Português! E até para os portugueses, andou aprontando, chegou a ser rebaixado no Exército, por fazer corpo mole contra os holandeses! Se o padre Vieira não reclama e chama ele às falas, ele tinha passado a guerra de férias! Ele deve estar com Cristiano Ronaldo e não abre!

Uma sombra enregelada abateu-se sobre o ambiente. Não se podia negar aquilo, Zeca sabia do que estava falando. E, mesmo que não se desconfiasse da lealdade do santo, é chato pô-lo numa batina justa, tendo que escolher entre sua terra de berço e outra onde é tão benquisto. A verdade inescapável é que não dá para contar com Santo Antônio nesta Copa, o mundo vai acabar.

Dilma se engana sobre desigualdade - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 08/06

De novo, uma governante insiste na falsa tese de que desigualdade caiu no Brasil, ao contrário do mundo 


A presidente Dilma Rousseff engana-se e, por extensão , engana o público ao afirmar que a desigualdade no Brasil está diminuindo, na "contracorrente" do que ocorre no resto do mundo.

Pena que essa suposta jabuticaba, fenômeno que só se dá no Brasil, seja lenda incentivada pela omissão ou covardia de uma parcela majoritária da intelectualidade.

No Brasil, pode ter diminuído a desigualdade entre salários --e, mesmo assim, tenho lá minhas dúvidas a respeito--, mas aumentou a desigualdade realmente importante, que é entre rendimentos do capital e rendimentos do trabalho.

Paul Krugman, Nobel de Economia, em recente artigo para o "New York Times", explica didaticamente como se fazem as medições:

"Temos duas fontes de evidências tanto sobre renda como sobre riqueza: pesquisas, nas quais as pessoas são perguntadas sobre suas finanças , e dados sobre impostos. Dados de pesquisa, embora úteis para acompanhar os pobres e a classe média, notoriamente subestimam a riqueza e o rendimento dos que estão no topo. (...) Assim, estudos do 1% ou 0,1% [os super-ricos] dependem principalmente de dados sobre impostos".

Vale para os EUA, vale para o Brasil. Com a grave diferença de que, aqui, os dados sobre impostos não estão disponíveis, o que impediu, por exemplo, o novo economista-estrela, Thomas Piketty, de incluir o Brasil no livro que é a sensação do momento, "Capital no Século 21".

Anos atrás, em um dos textos em que apontei a subestimação de dados em pesquisas sobre rendimentos, dois economistas do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) diziam o seguinte:

"A pesquisa do IBGE só capta 10% dos rendimentos das famílias com juros", afirmava Marcelo Medeiros. Completava Sergei Soares: "Esses rendimentos são muito mal medidos pela Pnad".

O IBGE, que faz a Pnad, é a única fonte de informação sobre a suposta queda da desigualdade. Logo, afirmar que ela vem caindo é uma falácia, no melhor dos casos, ou uma baita mentira, no pior.

Sergei Soares acaba de tomar posse como presidente do Ipea, o que me anima a acreditar que ele, fiel à sua própria constatação quando era apenas pesquisador, romperá a covardia acadêmica predominante e esclarecerá que não existe a tal queda da desigualdade, salvo, talvez, entre assalariados.

Para que se tenha uma ideia aproximada de a quanto pode chegar o aumento do patrimônio (riqueza) de quem o tem, cito dados dos EUA no primeiro trimestre: o valor dos bens imobiliários teve aumento de US$ 759 bilhões (R$ 1,7 trilhão).

Não sei se há dados a esse respeito no Brasil, mas todos sabem que os imóveis tiveram uma bela valorização ultimamente. Duvido que o pessoal que depende do Bolsa Família (e são um quinto dos brasileiros aproximadamente) tenha tido valorização patrimonial parecida, se é que patrimônio tem.

Portanto, a afirmação da presidente de que todos progrediram, mas os pobres progrediram mais que os mais ricos, não passa de chute sem nenhum parentesco com os fatos.

A casaca - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 08/06

Ele, colorado fanático, era casado com uma também colorada, e tiveram dois filhos, dois meninos que obviamente torciam para o Internacional, herdando a paixão da família. Muitos pais têm uma vontade, às vezes secreta, de que os filhos sigam sua profissão, pratiquem a mesma religião, desenvolvam preferências idênticas, mas quando se trata do time de futebol, a vontade deixa de ser secreta para ser escancarada: os filhotes são induzidos abertamente a honrar a camiseta do time. Não raro, os pais colocam a escolha futebolística do bebê já declarada na porta da maternidade. Nasceu Matias, nasceu Luciana, e ao lado do nome o distintivo doFlamengo, do Vasco, do Atlético, do Corinthians ou de qualquer que seja o clube daquela criança que não ousará transgredir uma tradição sagrada.

Mas eu estava falando do Internacional, e de um colorado casado com uma colorada com quem teve dois coloradinhos. Pois ele se divorciou da colorada. E os meninos, de nove e sete anos, ficaram morando com ela, como quase sempre acontece. A separação não chegou a ser litigiosa, mas tampouco foi um passeio num jardim florido: as pendengas de sempre sobre valores de pensão, partilha de bens, sem falar no ciúme corrosivo em relação à nova namorada com quem papai já desfila - como são rápidos esses homens.

Pois ela, a mãe, ainda sem um namorado para distraí-la, e considerando-se levemente injustiçada com a situação toda, resolveu irritar o ex-marido (“para não perder a prática”, diz ele). Virou gremista. E, claro, está catequizando os dois moleques para que virem também.

O homem está fora de si. A ex-mulher está usando todos os recursos disponíveis: hinos, uniformes, influência de amiguinhos, idas ao estádio, histórias mal contadas, chantagem emocional e vasto repertório de doutrinação. Os meninos começam a vacilar. O plano está prestes a dar certo.

Eu disse a ele que duvido que os filhos mudem de lado: um pai torcedor costuma ser invencível como exemplo. Mas ele teme pela chegada de um padrasto que desequilibre essa balança de vez.

Que drama.

Virar a casaca é um direito, mas não deixa de ser uma traição. Quando escuto um brasileiro dizendo que vai torcer pela Argentina ou para qualquer outra Seleção que não a nossa, não consigo evitar o muxoxo. Sei que o futebol pode ser alienante, pode reforçar ou enfraquecer a imagem de governos, portanto é legítimo o protesto político em forma de torcida contra, mas sempre é incômodo ver a paixão perder para o racionalismo. Pô, de vez em quando é preciso parar de pensar e se entregar para a emoção - para não perder a prática, que seja.

Vale para adultos e mais ainda para crianças, cuja inocência não merece ficar órfã.

A HISTÓRIA - MIRANDA SÁ


by Miranda Sá

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Embora sem ser historiador ou tiver a pretensão de sê-lo, enfileiro-me entre os que consideram a História uma ciência. Àquele, se obriga a acompanhar a vida social do homem desde a sua existência, pelo que dizem os estudiosos a mais ou menos 200 mil anos... Mas para mim, de cultura ocidental, o show do movimento histórico e o progresso da humanidade, não vem de tão longe, mas de 4.000 anos antes de Cristo.
O estudo científico projeta que cada época tem a sua própria análise filosófica e, no dizer do filósofo russo Giorgi Plekhanov, não deve se limitar a uma sucessão de fatos, mas saber a razão por que tais fatos se sucederam à sua própria maneira.
Hegel ensina que a filosofia da História é a História considerada como inteligência. Para ele, “Os fatos são tomados tais quais são, e o único pensamento que ela neles introduz é o pensamento de que a razão domina o mundo”.
Eu escrevo apenas o que acompanhei – sendo, como o antigo Repórter Esso, “testemunha ocular” – não adoto o fatalismo dos árabes ou o pensamento cristão, seja católico (Agostinho) ou evangélico (Calvino), de tudo depende da vontade de Deus.
Pretendo mostrar as coisas como são ao meu modo de ver, e o importante papel do indivíduo impondo-se aos acontecimentos. Vou ao exemplo colegial que ensinava na minha adolescência mostrando que se não tivesse ocorrido a Revolução Francesa, Napoleão teria morrido com as divisas de coronel ou talvez de general...
Nesta apreciação sobre a política brasileira, levo em conta de que percebi que as particularidades individuais se impuseram a situações causais. Não tivesse havido uma ruptura democrática com a derrubada de João Goulart em plena “guerra fria”, o general Golbery do Couto e Silva não teria assumido o importante papel que ocupou no regime militar.
E sem Golbery, a existência de Lula da Silva, como indivíduo, não passaria de um pelego sindical do ABC paulista; e que o Partido dos Trabalhadores possivelmente não teria existido. E os 12 anos de poder de Lula e do seu partido não teriam importância se não fosse o famigerado instituto da reeleição imposto por Fernando Henrique Cardoso.
Relembro que a criação do PT, “um novo gênero de partido”, nos deu uma organização política “acima das classes”, como Mussolini adotou ao estabelecer as bases do Partido Nacional Fascista na Itália. E assim, o PT vem se mostrando como uma cópia de papel carbono do mussolinismo.
Como o fascismo, o crescimento e a sustentação do lulo-petismo se devem principalmente à capacidade de modificar sistematicamente suas posições diante das situações difíceis, como ocorreu no caso do Mensalão; e se alicerça na bilionária propaganda de massa promovida pelo governo e pelas empresas estatais.
Enquanto o PT-governo enche de favores banqueiros, empresários e indústria automobilística, o partido recebe contribuições das empresas dependentes de contratos governamentais, principalmente das empreiteiras. E vem dinheiro também da arrecadação do dízimo de mais de 25 mil aparelhados ocupantes de cargos comissionados na administração pública.
Esta gorda “caixinha” fortalece a organização, sustenta uma vasta burocracia e atende à manutenção de agentes provocadores. Isto se viu recentemente com a mobilização de jovens atuando organizadamente nas redes sociais para enfrentar a oposição na internet; esse recrutamento tem as mesmas características dos Fasci Giovanilli di Combatimento, do Partido Nacional Fascista.
À similitude do lulo-petismo com o fascismo italiano, descrita acima, acrescenta-se que, como os fascios faziam com Mussolini, o PT vive à base do egocentrismo de um chefe, Lula, que tem sua personalidade cultuada.
Arriscando-se (acho quase certo) a perder as próximas eleições presidenciais, o lulo-petismo põe as garras de fora, abrindo um caminho para o estado totalitário através do decreto presidencial 8243, furtivamente baixado pela presidente Dilma.
É uma lei de exceção, uma Carta Fascista para substituir a Constituição: Transfere o poder dos representantes eleitos para os farsantes “movimentos sociais”, as gangues dos sindicatos apelegados, MST e derivados, ONGs fajutas e toda espécie de arrumadinhos “caça níqueis” intitulando-se “do povo”.
Este maldito decreto dá ao PT-governo o arbítrio eventual sobre toda sociedade. Torna-o, não um adversário político, mas um inimigo do povo brasileiro, com ilimitado poder totalitário. Permitirá a implantação de uma máquina policial tentacular, como a ditadura militar não teve.
Certamente irá suprimir as liberdades de imprensa, de opinião e reunião, e deixará as cabeças pensantes do País sem condições legais de divergir, obrigando-se a manter subterraneamente a luta pelas liberdades individuais e públicas.
Somos uma Nação que pela origem multi-racial e a consequente formação democrática e liberal, cristalizou uma cultura de resistência passiva. Mas a História está cheia de explosões populares, inúmeros levantes contra as invasões estrangeiras e a dominação colonial portuguesa são o melhor exemplo.
Para evitar isso, uma guerra civil fratricida, será preciso enfrentar uma batalha para que o decreto fascista do lulo-petismo não se imponha. Nas ruas, nas redes sociais, em família, na igreja, no trabalho e no clube.