quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Escárnio: Embora maioria vote pela cassação de Donadon, ele mantém seu mandato. É o primeiro deputado-presidiário do país


Votaram pela cassação do deputado Natan Donadon (sem partido-RO) 233 deputados; outros 131 se opuseram, e 41 de abstiveram. Eram necessários 257 votos para cassá-lo (metade da Câmara mais um.) Dos 513 membros da Casa, apenas 405 compareceram ao trabalho. Comento no próximo post. Sim, há culpados por essa vergonha. Mas não estão na Câmara dos Deputados, não. Daqui a pouquinho.

Por Reinaldo Azevedo

‘Na luz, as sombras’, por Carlos Brickmann


Que há um herói nessa história, não há dúvida: o diplomata Eduardo Saboia honrou as melhores tradições do Itamaraty e da política externa brasileira ao retirar o senador boliviano Roger Pinto, asilado político, do insalubre confinamento a que tinha sido relegado pelo nosso Governo por 455 dias. Que o Governo brasileiro agiu como comparsa das autoridades bolivianas que perseguiam o asilado político, também não há dúvida: as ordens para que a vítima não pudesse sequer tomar banho de sol partiram de dirigentes brasileiros, não dos bolivianos.
Tirando essas duas constatações, só há dúvidas. A história de que o principal adversário político do presidente Evo Morales saiu da Embaixada brasileira em La Paz na companhia de um diplomata e dois fuzileiros navais, rodou 1.600 km e chegou a Corumbá, MS, sem ser incomodado, não se sustenta. Imaginemos a cena: um diplomata determina a dois fuzileiros navais que o acompanhem numa viagem ao Brasil e os dois sequer comunicam a saída a seus chefes. Os carros são parados em vários postos rodoviários bolivianos e ninguém reconhece o passageiro, um político famoso, que vivia aparecendo na TV e nos jornais; e ninguém acha estranho que dois carros com chapa diplomática transportem fuzileiros navais. Passam a fronteira numa boa, sem identificação. E só em Corumbá, depois que telefonam às autoridades, é que o Governo descobre que fugiram.
Saboia diz que o Governo boliviano já havia indicado que não se oporia a uma fuga desse tipo.
Pelo jeito, quem se opunha era Dilma. Ou não.
Nas sombras, a luzSaboia é herdeiro da boa imagem do Itamaraty em Direitos Humanos. Na Alemanha nazista, dois funcionários diplomáticos brasileiros, Aracy, O Anjo de Hamburgo, e seu marido, o cônsul (e grande escritor) Guimarães Rosa desobedeceram às ordens do Governo brasileiro e deram vistos a judeus perseguidos pelos nazistas.
Na mesma época, o Governo brasileiro prendia e entregava à Alemanha a esposa do líder comunista Luiz Carlos Prestes, Olga Benário. Lá foi fuzilada.
Nas sombras, as sombrasO chanceler Antônio Patriota levou a culpa sabe-se lá do que, e foi punido com a perda do cargo e a nomeação para a ONU, em Nova York. Ou seja, não houve punição: ganhou um belo posto e só perdeu o cargo que jamais ocupou.
Os sombriosHoje, começa nas redes sociais ampla campanha de difamação do senador Roger Pinto. Ele cometeu o crime máximo: opôs-se a um Governo bolivariano.
…sin perder la ternuraNoticia do bem-informado e respeitado jornalista Jorge Moreno, em sua coluna Nhenhenhém, dia 24: “O caso do aposentado do Senado que exige que o plano de saúde pague sua cirurgia de colocação de prótese peniana pode se transformar num dos maiores escândalos do Congresso Nacional.O dito-cujo tem a lista de todos os senadores, incluindo ex-presidentes do Senado, que tiveram o procedimento pago com dinheiro público”.
Hay que endurecerse…Para que o caro leitor não tenha o trabalho de pesquisar, eis os presidentes do Senado do ano 2000 até hoje: Jader Barbalho, Edison Lobão, Ramez Tebet, José Sarney, Tião Viana, Garibaldi Alves Filho e Renan Calheiros.
Saúde ─ e educaçãoProtestar contra a importação de médicos estrangeiros sem que façam o exame de revalidação do diploma é uma coisa; insultar os estrangeiros que vieram a convite do Governo brasileiro é outra, e grave. Contestar quem os convidou é um direito; mas receber os convidados com cortesia é obrigação. A grosseria dos médicos brasileiros em Fortaleza tira toda a razão que possivelmente tenham.
RiscoHá tantas acusações conturbando o ambiente que os médicos cubanos ainda vão ser denunciados por formação de Padilha.
InzoneiroÉ fácil entender a crise brasileira. Basta lembrar que:
1 ─ O Governo petista de São Paulo, a maior cidade do país, quer dar prioridade ao transporte público e dificultar o uso de automóveis. O Governo petista do Brasil reduz impostos para venda de automóveis e segura o preço da gasolina.
2 ─ Como a frota de automóveis particulares cresceu, beneficiada pelos incentivos e pela estabilidade do preço dos combustíveis, a Petrobras importa petróleo e gasolina, pagando mais caro do que cobra quando vende. Não está sobrando muito para sua prioridade declarada, a exploração do petróleo do pré-sal.
3 ─ O Brasil exporta minério de ferro e importa trilhos.
4 ─ A primeira linha de metrô de Salvador está sendo construída há 13 anos. Ainda não foi concluída.
Mas existem equipamentos comprados há vários anos, já armazenados, já pagos e já inutilizados por falta de uso. E não é só lá, não.
Passeando de motoO grande filme sobre o uso de motos Harley-Davidson para espairecer é Easy Rider, com Peter Fonda e Dennis Hopper.
Em português, o título é Sem Destino.

Em defesa de Joaquim Barbosa’, de Marco Antonio Villa


MARCO ANTONIO VILLA
O ministro Joaquim Barbosa virou a bola da vez. Nas últimas semanas, foi atacado simplesmente por desejar que a ação penal 470 siga o trâmite legal e, finalmente, o processo seja concluído e os sentenciados cumpram as penas.
O principal réu é o “consultor” José Dirceu. Foi condenado a dez anos e dez meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa, além do pagamento de multa.
O inquérito 2.245 teve início em julho de 2005 e recebido pelo Supremo Tribunal Federal em agosto de 2007: foi a primeira derrota dos mensaleiros. Na sessão de 28 de agosto, Ricardo Lewandowski foi o único voto contrário pelo enquadramento de Dirceu por formação de quadrilha. À noite, de acordo com reportagem publicada pela Folha, foi visto falando ao telefone, em um restaurante de Brasília, com um certo Marcelo. Estava nervoso.
Disse que “a tendência era para amaciar para o Dirceu”. E “que todo mundo votou com a faca no pescoço”. Das 112 votações para o recebimento do processo, Barbosa ganhou todas, das quais 96 por unanimidade. As divergências abertas por Lewandowski foram todas derrotadas.
De agosto de 2007 até dezembro de 2011, sob a relatoria de Barbosa foram ouvidas mais de 600 testemunhas, realizadas dezenas de perícias. Todo o processo ficou registrado em 235 volumes, 500 apensos, somando um total de 50.508 páginas. Foi o processo mais complexo da história da Corte. E durante 51 meses da instrução, o governo tentou de todas as formas emparedá-lo. E não conseguiu.
O árduo trabalho do ministro foi sistematicamente atacado. Era uma estratégia para desmoralizar o relator e, por tabela, a ação penal, garantindo a absolvição dos réus, especialmente a do chefe da quadrilha, José Dirceu.
Até a carreira profissional do ministro foi motivo para tentar diminuí-lo. Dizia-se que só teria chegado ao STF porque Lula quis indicar um negro. E que – veja o “racismo cordial” – ele era um mal-agradecido, pois devia ao presidente ter alcançado posição tão importante.
Com enorme sacrifício pessoal, o ministro concluiu seu trabalho em dezembro de 2011. O processo foi encaminhado para o revisor, Ricardo Lewandowski. Parou na sua mesa. Só andou, seis meses depois, graças ao pito que tomou do então presidente Ayres Britto, que marcou o início do julgamento para 2 de agosto.
Depois de 138 dias, 53 sessões, o processo foi concluído em 17 de dezembro de 2012, tendo o ministro Barbosa acumulado a presidência e a relatoria. Foi um feito histórico a condenação dos 25 réus e dos marginais do poder, na feliz expressão do ministro Celso de Mello. A direção petista foi sentenciada por formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
A justiça foi feita. Mas faltava apreciar os embargos. Recomeçaram os ataques. E foram mais sete meses de uma campanha sistemática de desmoralização do relator. Um dos sentenciados – José Dirceu – percorreu o Brasil atacando a Suprema Corte com ampla cobertura da imprensa.
No último dia 14, teve início a apreciação dos recursos. A discussão proposta pelo ministro Lewandowski na sessão do dia 15 era absolutamente impertinente e procrastinatória. Como se chama esse procedimento? Chicana. Novamente o coro petista entrou em ação: passou a exigir a retratação do relator. Barbosa recusou. Manteve a dignidade. Chamou a atenção nacional novamente para o processo.
Mas os mensaleiros não desistem. Querem reabrir o processo com o golpe dos embargos infringentes, que foram abolidos pela lei nº 8.038 de 1990. Essa será a batalha decisiva.

Ordem do Planalto: ‘Saboia deve ser moído’

Augusto Nunes

Oficialmente, o diplomata Luiz Alberto Figueiredo deixou a chefia da representação brasileira na ONU para tornar-se ministro das Relações Exteriores e Antonio Patriota deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores para chefiar a representação na ONU. Na prática, nada mudou. O chanceler era Marco Aurélio Garcia. E chanceler continua, berram os desdobramentos da operação que livrou o senador boliviano Roger Pinto Molina do cativeiro na embaixada em La Paz.
Disfarçado há mais de dez anos de “Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais”, Garcia fazia e desfazia já nos tempos em que Celso Amorim caprichava na pose de chanceler. Com a transferência do Pintassilgo do Planalto para o Ministério da Defesa, a boca à espera de um dentista passou a reinar sem concorrentes no governo Dilma Rousseff. A presidente e seu conselheiro sonham com uma América bolivariana. E não admitem que algum subordinado ouse desafiar ou desobedecer companheiros de lutas revolucionárias.
Foi o que fez o diplomata Eduardo Saboia com Evo Morales ao libertar o senador enclausurado havia 455 dias na representação em La Paz. Por ter ouvido a voz da razão, o ministro conselheiro da embaixada na Bolívia será investigado por uma comissão de sindicância formada pela Controladoria Geral da União. Presidida por Dionísio Carvalho Barbosa, auditor da Receita Federal e assessor da CGU, a comissão seria completada pelos embaixadores Clemente de Lima Baena e Glivânia Maria de Oliveira.
Os dois recusaram a missão quando souberam das instruções do Planalto. “O Saboia deve ser moído”, revelou a esta coluna uma fonte com acesso ao gabinete presidencial. Para manter as aparências, Garcia ditou a declaração do novo ministro Luiz Alberto Figueiredo: “Houve uma recomendação da CGU, que é quem preside a comissão, de que seria melhor que eles não fossem os nomes escolhidos pelo Itamaraty porque eles, de alguma forma, tem alguma ligação com o tema. Nós escolhemos outros dois colegas e portanto não vai haver nenhum tipo de atraso na sindicância”.
Os substitutos são os diplomatas Rodrigo Amaral e Paulo Estivalet. Ambos terão de escolher entre a dignidade e a desonra.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Graciliano Ramos: realidade e ficção!


CARLOS VIEIRA
Relato testemunhal e ficção, narrativa do “Velho Graça” no inquietante romance: “Angústia”. Na terceira leitura dessa obra, sinto-me novamente envolvido, apaixonado, mergulhado e, às vezes identificado com a maneira como, o alagoano escritor desvela, publica e denuncia estados de alma, crises existenciais do ser humano, tanto no aspecto individual, micro, como observação dos fenômenos sociais. 
Com seu jeito “seco”, “enxuto” de não desperdiçar palavras e usá-las quando elas apreendem sua intuição, o texto vai se fazendo numa conjuntura individual e social do personagem Luis da Silva. Sinto como alguém revela sua genialidade para apreender e nomear estados profundos, alucinatórios, quase psicóticos da mente humana. No caso desse romance, o autor narra de uma maneira simples, dura, ansiosa, depressiva, a olhares fenomenológicos do amor, ciúme, perseguição, ódio, violência, culminando com o ato homicida. 
Graciliano descreve uma triangulação mítica, edípica, entre Luis da Silva, Marina e Julião Tavares. Penetra na experiência psíquica de uma pessoa perseguida em função de uma paixão; de um crime; da culpa e do castigo, tanto interno como externo, culminando com uma prisão de fato. Ao mesmo tempo, o ex-prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, no estado de Alagoas, contribui para mim como psicanalista, uma fenomenal “vivencia do tempo”, do tempo psicótico, do tempo do inconsciente, um tempo onde passado, presente e futuro se mesclam numa conjunção onírica. Escreve o Graça:” Mas no tempo não havia horas...e o dia estava dividido em quatro partes desiguais: uma parede, uma cama estreita, alguns metros de tijolo, outra parede.” 
O livro é uma ficção e também um texto de memórias. Graciliano pinta com palavras a importância da memória, da sua memória, da memória de fatos e memórias de ficção. Uma memória do passado e uma memória do futuro. A experiência narrada mostra um “arco-íris” preenchido por percepção reais, momentos alucinatórios, pesadelos, sonhos acordados, claro que elaborando consciente e inconsciente sua história pessoal, íntima, subjetiva, A genialidade do escritor repousa nessa condição peculiar de apreender fenômenos que a maioria dos “viventes” não se dão conta. Perceber, digerir, mastigar, sonhar, procurar a palavra e comunicar – a arte exige a passagem ao território social, caso contrário seria uma experiência masturbatória, egocêntrica e abortiva. 
No que tange à procura da palavra, em Graciliano a questão sempre foi de muita exigência, paciência e técnica. Cecilia Prada, escritora e jornalista, em seu rico livro: “Profissionais da Solidão”, Editora Senac, São Paulo, 2013 citando Antonio Candido, escreve: “escritor sem gorduras, magro convicto, de carnes, porte, personalidade e evidentemente estilo literário. 
Aliás, em todas as contracapas, editadas pela Record, lemos a maravilha metafórica da escrita de Graciliano. Vejam: “ Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a á água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano só uma gota.Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.” 
O método de escrever do cânone Graciliano é um belo exemplo que pode se estender a qualquer ofício: observação, observação, cuidado com a narrativa dos fatos e dos estados conscientes e inconscientes, enxugar as palavras e procurar aquela que revele de mais exata o pensamento. Recorda-me Platão: primeiro as sombras e depois o sol em sua própria morada. 
Lembra-nos Ricardo, filho do mestre, citado na página 234 do livro de Cecilia Prada:” – a sobriedade, a precisão da escolha vocabular, o sistemático ato de “cortar a gordura do texto”, a calma da rotina diária: de pijama, sentado à mesa que ficava em seu quarto, escrevia desde cedo até as onze horas, em letra miúda e regular... da crônica ao artigo sobre livros, da revisão de textos às traduções, ganhando a vida que considerava fundamental: a sua opinião” (Ramos 1992), pois nunca escreveu, ou subscreveu, aquilo que não acreditava.” 
O livro “Angústia” é uma prova da genialidade desse nordestino preocupado, tanto quanto João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e Euclides da Cunha, com o que ele próprio escreve em seu livro:”Está aí uma história que narro com satisfação a Moisés. Ouve-me desatento. O que lhe interessa na minha terra é o sofrimento da multidão, a tragédia periódica das secas. Procuro recordar-me dos verões sertanejos, que duram anos. A lembrança chega misturada com episódios agarrados aqui e ali, em romances. Dificilmente poderia distinguir a realidade da ficção.” 
Enfim, “Angústia” é mais do que um drama psicológico de Luis da Silva, é um constante e atual grito de desespero do Nordestino, esmagado, esfoliado, subjugado pelo poder da aristocracia e da política brasileira que continua apática, insensível e perversa diante das classes menos privilegiadas. Ler Graciliano, nesse ano em que a Feira Internacional de Paratí o homenageou, é sentir na pele psíquica a realidade de nosso país e compreender de modo mais profundo o grito da Juventude atual: a angústia consequente às atrocidades dos “Juliões Tavares”.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Ricardo Teixeira pede residência em Andorra

Jamil Chade, Estadão

Paraíso fiscal não tem acordo de extradição com o Brasil 

O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pede sua residência no principado de Andorra. A informação foi divulgada na noite de hoje pela Radio Catalunya, depois que a reportagem do Estado revelou que um terço da renda dos amistosos da seleção brasileira acabava em contas em Andorra e numa conta em nome de Sandro Rosell, amigo de Teixeira e hoje presidente do Barça.
Segundo a rádio, Teixeira já deu entrada na documentação para ser residente de Andorra, o que significa que, a cada ano, terá de passar 150 dias no principado entre a França e Espanha e conhecida por ser um paraíso fiscal.
Para que seja aceito, Teixeira teria de depositar pelo menos 400 mil euros nas contas de um banco do principado. Mas, segundo a radio, ele estaria negociando transladar ao paraíso fiscal cerca de 4,9 milhões de euros.
Vivendo em Andorra, Teixeira não teria como ser extraditado ao Brasil caso seja convocado pela Justiça do pais. Andorra e Brasília não contam com um acordo de extradição.
Na semana passada, o Estado revelou uma série de informações exclusivas sobre Teixeira e como esquemas dentro da CBF permitiam que os amistosos da seleção fossem usados para desviar recursos da CBF para contas de amigos do cartola. Entre eles está Rosell, presidente do Barça.
A reportagem também revelou como, em 2010, a Justiça suíça constatou que Teixeira recebeu milhões de euros em propinas de empresas ligadas à Fifa justamente em contas em Andorra.

Um dos piores momentos da diplomacia brasileira (Editorial)


O Globo
Embora haja ainda muito a esclarecer sobre a história da retirada do senador boliviano Roger Pinto Molina do confinamento de 455 dias na embaixada em La Paz, pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia, o caso parece ser mais uma demonstração de como o profissionalismo outrora reconhecido do Itamaraty foi corroído por interesses partidários e simpatias lulopetistas pelo nacional-populismo bolivariano-chavista hegemômico na Bolívia.
A defenestração do chanceler Antonio Patriota é apenas parte do enredo. Dizendo-se surpreendido pelo desfecho da operação executada pelo encarregado de negócios da embaixada, Eduardo Saboia — filho do embaixador aposentado Gilberto Vergne Saboia, conhecido pela atuação na defesa dos direitos humanos —, não havia mesmo como o chanceler continuar no cargo. Sem ter conseguido se impor minimamente no ministério de Dilma, Patriota já não contava com a simpatia da centralizadora presidente, segundo se dizia há tempos.
Nas entrevistas seguras que concedeu depois de cruzar a fronteira em veículos diplomáticos, sob a segurança de fuzileiros navais brasileiros, o diplomata foi claro: já comunicara ao ministério que poderia tomar uma decisão de emergência por razões humanitárias, devido ao estado de saúde de Molina, obrigado a ficar num cubículo, com pouco contato com o mundo exterior. Situação diferente de Julian Assange (Wikileaks), também forçado de forma abusiva pelo governo inglês a acampar na embaixada equatoriana em Londres, mas onde concede entrevistas e recebe visitas.
Até que desmentidos comprovados convençam do contrário, o governo Dilma, com o Itamaraty de agente, aceitou passivamente que o governo boliviano de Evo Morales não concedesse o salvo-conduto ao senador de oposição, para vencê-lo por fadiga psicológica. A atual política externa brasileira assumiu o papel indecoroso de carcereiro, contra os princípios da diplomacia do velho Itamaraty. Foi traída uma política de Estado de sempre colocar o Brasil ao lado de boas causas do ponto de vista ético.
Mas a flexibilidade da espinha dorsal desta política externa de ocasião não parece ter limites. A Bolívia já expropriou refinaria da Petrobras sem um resmungo de Brasília, que também aceitou fazer parte de uma operação sibilina com a Argentina e Uruguai para trocar o velho aliado Paraguai pela Venezuela chavista no Mercosul.
O novo ministro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, logo será testado, diante do provável pedido de extradição que a Bolívia encaminhará. O senador é acusado na Justiça de corrupção, mas a independência do Judiciário boliviano tem o valor de uma folha de coca ao sopé dos Andes. Valerá para Pinto Molina o que valeu para o esquerdista italiano Cesare Battisti, condenado na Itália por homicídio, mas acolhido pelo PT, ou não?

José Reinaldo: Roseana e seu labirinto


Posted: 27 Aug 2013 03:08 PM PDT
José Reinaldo TavaresJornal Pequeno

Acostumada a mandar sem contestação, aproveitando a força do pai, Roseana está sem saber como resolver os grandes problemas políticos que tem pela frente. Convenhamos, a situação é cada vez mais difícil e ela não tem experiência e nem preparo para enfrentar o que há por vir. Sem falar na ausência (esperamos que logo se recupere) do pai, que é quem enfrenta os problemas e conduz o grupo.

Não bastasse o pedido de cassação feito pelo procurador-geral da República, denunciando-a por graves mal-feitos na última eleição aos persistentes resultados das pesquisas eleitorais, que têm mostrado Flávio Dino acima de 60% e o candidato Luís Fernando amarrado aos 15%, agora ela também está perdendo para mim e para Roberto Rocha para o senado, com o agravante de eu não fazer campanha nenhuma, não estou viajando para o interior do estado, enquanto ela viaja todas as semanas, visitando diversos municípios de cada vez, prometendo mundos e fundos à população, aliás, como de costume. Some-se a isto a decisão de não admitir entregar o governo para o vice-governador quando tiver que sair para se desincompatibilizar, e pior que tudo, não admitindo a hipótese de entregar ao senador Edison Lobão o comando do que restar do grupo Sarney depois das eleições de 2014.

Isso é uma questão tão fechada, dentro do cerne íntimo do grupo, que certamente a obrigará a sair do governo e ser candidata ao senado no ano que vem. Entregar para a família Lobão nem pensar.

De fato, isso é o que acontecerá, se ela não sair candidata, pois Lobão se tornará o político mais forte do grupo, exercendo o cargo de Ministro do poderoso Ministério de Minas e Energia, e ainda com quatro anos de mandato como senador do PMDB, lugar ocupado nesse momento por seu filho. Os Sarneys então ficarão reduzidos ao mandato de Sarney Filho como deputado federal, muito pouco para quem deteve tanto poder.

Mas e o processo de cassação? Se for julgado neste ano e ela condenada? Neste caso ela perderá o governo, quase imediatamente e deverá ficar inelegível. Para concorrer à eleição, ela poderá questionar a sua inelegibilidade no Supremo e poderá concorrer sub judice, o que a enfraquecerá ainda mais como candidata.

Já fora do governo, derrotada pela Justiça, isso poderá ser mortal para um grupo tão poderoso acostumado a demonstrar poder. E isto ainda poderá se agravar, se o senador Sarney não for candidato, pois grande parte do grupo respeita e gosta do senador e não dela e de Jorge Murad. Com efeito, será que o grupo se manterá fiel a ela e a apoiará na empreitada? Ou abandonarão o barco sarneysista ao interpretar que terão diminuída expectativa de poder? Sem dúvidas isso enfraquecerá muito sua candidatura ao senado, já bastante combalida atualmente.

E considerando outra hipótese: se Roseana renunciasse junto com seu vice? Se isso livrá-la do julgamento do TSE, permitirá a sua candidatura ao Senado. Contudo, hoje já existem precedentes judiciais que tratam de renúncia com o fim específico de se livrar do julgamento, observando que, se essa for a causa da renúncia, o julgamento prosseguirá e a hipótese de inelegibilidade se mantém. Mas supondo que o julgamento não prossiga, ela então manterá seus direitos políticos e poderá se candidatar. É claro que isso terá graves consequências políticas, pois será considerada confissão de culpa pela população e uma fuga à condenação no julgamento, o que enfraqueceria muito sua candidatura.

Agora vejam se esta situação é ou não é um terrível labirinto em que Roseana se debate e tem imensas dificuldades de achar uma saída segura, para si e para o grupo Sarney.

Nervosa e insegura nos ‘Itinerantes de toda a semana’, ela tem criado atritos em muitos lugares e perdido apoios, em que pesem as promessas que faz em todos os lugares, como sempre.

Vejam o que me enviou um amigo que assistiu e participou de visita que ela fez a Mirinzal semana passada:

“Meu bom amigo, ontem a governadora esteve em Mirinzal e fez o de costume: promessa de construir a ponte sobre o Pericumã e a estrada de Bequimão para Central, asfalto pra prefeituras e convênios. Porém, o que chamou atenção foi que, ao ver faixas de alunos do ensino médio sobre a escola inacabada desde o governo anterior, falou que por ela já estaria concluída e o problema estaria no Ministério Público acusando Brasil, o ex-prefeito, do problema. Quando ela foi a casa dele fazer a visita, este se queixou e ela se retratou, dizendo que se referia ao governo de Jackson Lago. Na realidade o que ocorreu foi que a obra se iniciou no final do governo de Jackson em convênio com a prefeitura. Foi liberado um montante em torno de 60% do valor total e diz Brasil que fez o correspondente, mas que, embora o dinheiro tivesse empenhado, não conseguiu que o governo dela pagasse o restante. Assim, ele resolveu entregar a obra de volta para o estado e se tornou mais uma prova da irresponsabilidade dos mandatários da educação do Maranhão. Acho até que o Jornal Pequeno poderia mandar fotografar a obra e pedir a Brasil a explicação do problema. Quem sabe até obter umas palavras dos estudantes prejudicados?

Disse também na casa de Brasil, na presença de vários ex-prefeitos, que numa pesquisa que fez, eles estão melhores que os atuais e ela precisa por isso do apoio deles, o que será decisivo na campanha. Creio inclusive que acharam alguma solução para aquela história do conselho (bolsa eleição) e devem ter achado um jeito de repassar alguma coisa mensal pra eles através de alguma instituição conveniada ou coisa que o valha. É bom ver.

Por outro lado, pra ter alguém pra escutá-la, (o prefeito) leva um monte de servidores temporários e no dia em que ela vai, tudo é de graça. Disse lá que não é mentirosa e que isso aprendeu com o pai (rárárárá), falar sempre a verdade, além de não se meter em confusão dos outros. Belos conselhos. Isso motivou umas vaias de alguns estudantes. No caso da ponte, creio que vão fazer o mesmo que fizeram com a refinaria. Fazem licitação de araque, mandam máquinas, enfiam duas estacas e está iniciada a obra…”

É preciso acrescentar mais alguma coisa?


Nota do JPO ex-governador José Reinaldo Tavares escreve para o Jornal Pequeno às terças-feiras.

Dilma baba de ódio

Blog do Diego Casagrande


Dilma está babando de ódio. Furiosa. Tal qual megera de internato, demonstra uma eloquência raivosa ao condenar a operação do diplomata brasileiro que trouxe o senador boliviano que se diz perseguido por Evo Morales ao Brasil.

É para tanto? Por que Dilma não se enfureceu quando os boxeadores cubanos foram mandados de volta para a ilha presídio? Ou não esboçou reação quando o governo dela concedeu asilo político ao assassino terrorista condenado por quatro mortes na Itália? Era o governo da professora.

Se Dilma não acha que dá para comparar o Doi-Codi com uma sala de 3m x 3m na Embaixada, onde o sujeito ficou mais de um ano confinado, então que não compare. Mas a comparação é real e válida.

Confesso que ainda estou tentando entender essa raiva, esse ódio todo da presidente...

Pobre de nós que já pagamos R$ 1 trilhão em impostos



Airton Bulhões


Eita que maravilha....
Segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT, o  contribuinte brasileiro trabalhou até 30 de maio de 2013 só para pagar R$ 1 trilhão em impostos. Isso significa dizer que o brasileiro classe média pagará de impostos neste ano o equivalente ao que ganhará durante 150 dias de trabalho.
  A conta inclui todos os tributos –impostos, taxas e contribuições cobrados pelo governo federal, Estados e municípios. São itens como Imposto de Renda, IPTU, IPVA, PIS, Cofins, ICMS, IPI, ISS, contribuições previdenciárias, sindicais, taxas de limpeza pública, coleta de lixo, iluminação pública e emissão de documentos.
  Por conta disso o impostômetro  atingiu a marca de R$ 1 trilhão de impostos federais, estaduais e municipais pagos desde o primeiro dia deste ano, segundo  da Associação Comercial de São Paulo) e que é mostrado num grande painel na sede da entidade na capital paulista. Este número foi alcançado dois dias antes do que ocorreu em 2012, ou seja, a arrecadação cresceu.
  Na avaliação entre carga tributária e qualidade de serviços públicos como educação, saúde e transporte, o Brasil fica atrás do Uruguai e Argentina. 
  E o governo federal ainda pensa que o povo é besta. Todo o dia a TV mostra o povo morrendo nos hospitais, violência e impunidade sem controle e transportes deixando muito a desejar.
  Tome povo nas ruas protestando. Os jovens não aguentam tanto descaramento. Os velhos estão acomodados, jogaram a toalha. Aqui e acolá algum ainda resiste.
  Tome imposto e nada acontece.

DIPLOMATA EDUARDO SABÓIA TEVE CORAGEM E AGIU CERTO, DIZ EX-CHANCELER CELSO LAFER

terça-feira, 27 de agosto de 2013


A Constituição do Brasil dá razão ao encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, que mostrou “coragem” ao decidir, sozinho, retirar o senador Roger Pinto Molina da embaixada. A opinião é de Celso Lafer, professor de Direito, que foi chanceler do presidente Fernando Henrique Cardoso. “Cabe agora ao governo brasileiro reconfirmar o asilo político ao senador e compreender o sentido moral da posição do ministro Saboia”, defende Lafer. “Nessas horas, a pessoa precisa parar para pensar e avaliar as dimensões morais de sua decisão – e foi essa a atitude do diplomata. Saboia avaliou e agiu dentro daquilo que caracteriza um homem". Segundo a interpretação do ex-chanceler, o encarregado de negócios não entrou em conflito com a posição oficial do governo brasileiro, pois o asilo ao senador boliviano já havia sido concedido. Saboia “apenas operacionalizou” a decisão, argumenta Lafer. O principal alvo das críticas, continua, deve ser o governo Evo Morales, que, ao se recusar a conceder o salvo-conduto para Molina deixar o país, violou uma das principais tradições do direito interamericano: “É bom lembrar que até o general Augusto Pinochet deu salvo-condutos". Lafer afirma ainda que a atitude de Saboia traz à memória o embaixador brasileiro Luís Martins de Souza Dantas, representante do governo Getúlio Vargas em Paris durante a II Guerra Mundial. Contra as restrições impostas pelo Estado Novo à concessão de vistos, Souza Dantas conseguiu que centenas de pessoas consideradas “indesejáveis” – judeus, comunistas, homossexuais e outros – deixassem o terror nazista e encontrassem abrigo no Brasil. Também o escritor Guimarães Rosa, como diplomata brasileira na Alemanha nazista, agiu assim.

Tarso pode ser impedido de sacar depósitos judiciais para cobrir Caixa Único

Blog do Polibio Braga

O governo Tarso Genro (PT) está prestes a ser impedido de voltar a usar recursos dos depósitos judiciais para suprir o Caixa Único do Estado. A Justiça acolheu em decisão liminar o pedido da ação popular que quer proibir o governo de fazer saques do montante depositado em juízo para o Executivo.

. Em abril, o governo estadual confirmou que transferiu R$ 4,2 bilhões dos depósitos judiciais para cobrir o salário do funcionalismo. A notícia gerou críticas da oposição na Assembleia Legislativa e também de especialistas, já que os valores são considerados uma reserva estratégica para as gestões.

. Segundo reportagem do jornal do Comércio, por lei, o governo pode usufruir até 85% do valor em caixa, com a obrigação de pagar juros e correção monetária na devolução. A ação popular foi proposta por Antonio Augusto D’Ávila, que é representado pela advogada Ana Clara da Rosa Alves. Ela sustenta que a principal motivação para o processo é a preocupação com o agravamento das finanças do Estado. “Além disso, como os valores ainda não foram devolvidos, temos que considerar o impacto que pode causar a falta do ressarcimento. Quando chegar o momento de devolver, qual será o custo para o Estado?”, instiga.

Atenção: o governo gaúcho falha e 500 presos estão soltos ao seu lado na Grande Porto Alegre

Blog do Polibio Braga
Uma falha no sistema de monitoramento eletrônico de presos derruba uma promessa da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e gera risco à segurança pública em Porto Alegre e cidades vizinhas. Cerca de 500 apenados do regime semiaberto, entre homicidas, assaltantes, ladrões de bancos e traficantes de drogas, estão livres nas ruas por falta de tornozeleiras para vigiá-los eletronicamente.

. Segundo matéria do jornal Zero Hora, os equipamentos apresentaram defeitos em um parafuso e, enquanto não são substituídos, os detentos seguem à solta. O descontrole sobre parte do grupo já chega a 30 dias. Durante esse período, apenados circulam por qualquer lugar sem serem importunados. Como estão legalmente nas ruas, só poderão ser presos caso se envolvam em novos crimes.


. O problema pôs por terra o plano da Susepe de monitorar mil presos até o final de agosto, conforme anunciado no começo do mês. Para atingir a meta, a partir de agora, serão necessários mais 40 dias.

Oposição denuncia Ricardo Coutinho e Pâmela Bório por uso de avião do Estado para fazer turismo




Agora a denúncia é formal. O governador da ParaíbaRicardo Coutinho (PSB) e a sua esposa, a primeira dama Pâmela Bório, estão sendo acusados por deputados de oposição de utilizar uma aeronave pertencente ao Governo do Estado da Paraíba para viagens turísticas pessoais. A denúncia foi formulada na Assembleia Legislativa pelo deputado estadual Gervásio Maia (PMDB).

Com base na denúncia, a Assembleia, através da Comissão de Constituição e Justiça da casa, já decidiu convocar o chefe da Casa Militar do governo do Estado, coronel Fernando Chaves, para prestar esclarecimentos sobre o uso da aeronave. A denúncia foi feita pelo deputado com base em fotografias publicadas pela primeira-dama, que é jornalista, em uma rede social.
 
Ricardo Coutinho e Pâmela Bório

A denúncia de Gervásio Maia dá conta de que a aeronave modelo King Air, adquirida com recursos do BNDES, no valor de R$ 6 milhões, teria sido utilizada pelo governador e por sua esposa para um passeio turístico nas cidades do Rio de Janeiro e Paraty.Gervásio apresentou na Assembleia as fotos feitas pela primeira-dama, provavelmente no interior da aeronave.

“É um avião que as grandes empresas utilizam e está sendo utilizado para turismo, e o pior, o avião foi deixar o grupo do governador em Paraty, voltou para a Paraíba, retornou ao Rio de Janeiro para pegar todo o grupo, ou seja, foram duas viagens de ida e volta e nós sabemos que isso custa muito caro, para um avião do porte do King Air, com um deslocamento dessa natureza, custa caríssimo”, disse Gervásio Maia.

Há poucos dias Gervásio Maia havia formulado outra denúncia à assembleia da Paraíbadando conta do uso de uma aeronave oficial do Governo do Estado pela primeira-damaa Minas Gerais, para participar de uma festa social. “Agora temos uma segunda denúncia, cobrei do presidente da CCJ, Janduhy Carneiro, que reúna o quanto antes a CCJ para aprovar essa convocação do chefe da Casa Militar”, finalizou o parlamentar.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Escuro-Claro


CARLOS VIEIRA
Um dia a coluna de sangue não sofrerá mais a turbulência 
Do coração que parou. 
Um dia o canto da “fogo pago” não mais será ouvido ao anunciar 
A alvorada. 
Um dia as lágrimas não passearão jamais pelas orbitas e faces, 
Um dia não me amedrontarei com a melodia fúnebre da angustia, 
Um dia um livro não será mais lido, o poeta não provocará 
Alumbramentos. 
Um dia o encanto daquela mulher ficou “encantado” na não vida, 
Um dia não poderei repetir Vinícius: porque hoje é sábado! 
Nem Whitman, nem Borges, nem Graciliano, nem tampouco 
Guimarães, o Rosa, poderei lê-los, 
Quem sabe os encontro no Paraíso Dantesco de Beatriz! 
Um dia o clarinete ficará mudo, piano nem pensar, o jazz parou 
No Blues. 
Um dia, um dia, dias destes, não terei mais o desprazer e o ódio, 
Das promessas dos políticos! 
Um dia não terei saudades, há quem possa tê-la de mim, 
Nesse dia eu ouvirei a melodia nos Céus, a melodia da saudade 
Dos nossos encontros. 
Um dia não haverá mais como saborear um machiatto, todo o açúcar 
Saiu do corpo e se fez mel. 
Um certo dia tu ouvirás o eco das minhas palavras; os poemas na internet; 
A voz rouca dos improvisos das minhas aulas. 
Um dia o Capelense será campeão e o Brasil não mais terá analfabetos, 
Os professores serão pagos tanto quanto os “neymares”, o médico fará 
Clínica e apalpará o corpo e a alma dos seus pacientes. 
Um dia haverá mais análise, mais análises, 
Mas comigo, somente a lembrança das minhas análises.
Um dia é hoje, hoje o dia, o passado presentificado, a causa do futuro! 
Hoje, hoje posso dormir, sonhar, acordar e ouvir o canto da “fogo-pagô. 
Hoje é dia de vida, de se viver vivendo pelas veredas dos sertões da própria vida. 
Hoje posso enxergar os livros nas estantes; os livros são mortos enquanto enfileirados, 
Os livros ressuscitam quando eu os pego para deliciá-los na leitura. 
Enquanto mortos nas estantes, refugiados em fileiras 
São a cultura em estado de repouso, em silêncios gravídicos. 
Hoje posso reler Mia Couto, Bandeira, Drummond, Helena Terra: 
“A condição indestrutível de ter sido”. 
Hoje posso sonhar os sonhos nem sempre cálidos e deliciosos de Clarice, a Lispector, 
A envergadura de poemas fortes de Affonso Romano sobre a ditadura militar. 
Hoje é sexta, porque amanhã será sábado, e sábado será o presente do futuro. 
Hoje é dor também, alegria faz o conjunto,” deus e o diabo na terra do sol”, 
Os contrários sim, os contrários constroem a vida na pena de Blake. 
O que seria da alma sem a parceria do diabo? Paraíso! 
Hoje é vida, estou vivo! A Esperança é o devir.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Tudo a mesma coisa


Merval Pereira, O Globo
O caso do resgate do senador boliviano que acabou determinando a demissão do ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota tem a ver com o dos médicos cubanos, tudo junto e misturado cabe na mesma geleia geral da concepção de política internacional dos governos petistas, que não se pejam de serem usados por seus parceiros regionais de ideologia.
É evidente que o encarregado de negócios da embaixada brasileira na Bolívia, Eduardo Saboia, que por conta própria decidiu dar fim ao cativeiro de mais de um ano do senador Roger Molina, não poderia tê-lo feito à revelia de seus chefes hierárquicos, por mais razão que tivesse para indignar-se com a situação.
Cabia a ele a tarefa indigna de proibir o contato de Molina com outras pessoas, e assistiu de perto à angústia e à depressão tomarem conta de uma espécie de prisioneiro do governo brasileiro por obra e graça de uma decisão política do governo boliviano.
O governo da Bolívia age exatamente como o da Inglaterra, que impede a saída do país do mentor do WikiLeaks, Julian Assange, apesar de o Equador ter concedido asilo político a ele. Mas o presidente equatoriano, Rafael Correa, não mede esforços para defender o direito de asilo, enquanto o governo brasileiro, pelos relatos do próprio Saboia, colabora com o da Bolívia, montando um grupo de trabalho fictício para tratar do assunto, enquanto o tempo vai passando.
Enquanto Assange dá entrevistas no interior da embaixada do Equador em Londres, o senador Molina estava praticamente em cárcere privado. Não foi a mesma a atitude tomada pelo governo brasileiro quando Manuel Zelaya, deposto da presidência de Honduras dentro das regras constitucionais, bolou um plano, apoiado na época por Hugo Chávez, para tentar voltar ao poder.
Usou para isso a embaixada brasileira, onde passou a fazer reuniões políticas e a dar entrevistas para o mundo contra o novo governo. A subserviência do governo brasileiro aos países alinhados à ideologia esquerdista não tem limites e geralmente está ligada a tentativas de golpes institucionais.
O apoio a Zelaya não deu certo porque o povo hondurenho não o queria de volta ao poder, mas, dentro das organizações regionais que dominam, como o Mercosul, o golpe no Paraguai surtiu o efeito desejado: abrir caminho para a entrada da Venezuela no bloco.
O governo brasileiro utilizou-se de um pretexto, a deposição do presidente Lugo, para não aceitar as regras constitucionais daquele país e puni-lo com a suspensão do Mercosul, para alegadamente defender a “cláusula democrática” do bloco. E quem acabou sendo aprovado para integrá-lo?
A Venezeula de Chávez, que, como dizia o ex-presidente Lula, tinha “democracia até demais”. Conseguido o objetivo, agora o Mercosul já aceita o Paraguai de volta, mas quem não quer agora é o presidente Horácio Cartes, que já se aproxima do bloco da Aliança Atlântica e diz que não se sente bem ao lado da Venezuela.
O caso dos médicos cubanos tem a mesma raiz ideológica. Cuba ganha mais com a exportação de médicos do que com o turismo, isso porque o dinheiro do pagamento individual é feito direto ao governo cubano, que repassa quantia ínfima aos médicos. Tudo já estava acertado, sabe-se agora, há mais de um ano, e as manifestações de junho foram o pretexto para pôr em prática a ajuda ao governo cubano.
O governo brasileiro não apenas aceita essa mercantilização de pessoas como dá apoios suplementares: enquanto as famílias de médicos de outras nacionalidades podem vir para o Brasil, o governo brasileiro aceita que o governo cubano mantenha os parentes dos médicos enviados ao Brasil como reféns na ilha dos Castro. E, para dar outra garantia adicional, adianta, através do advogado-geral da União, que o médico que porventura pedir asilo político não o receberá.
Muito mais do que discutir a qualidade dos médicos cubanos, criticada pelas associações médicas brasileiras, interessa discutir as imposições que o governo brasileiro aceita por parte de seus parceiros ideológicos no continente, o que o faz abrir mão de valores que sempre foram predominantes na nossa política internacional: a proteção dos direitos humanos, a garantia da liberdade de ir e vir, que não podem ser abandonados por um país que (ainda) defende os valores democráticos.