quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cartas de Nova Iorque: Comida ambulante, por Luisa Leme


São oito da manhã numa segunda-feira e os nova-iorquinos andam apressados nas ruas de Manhattan para o trabalho. O trânsito aqui acontece também nas calçadas, onde a “regra” é clara: caminhe rapidamente, nunca pare a não ser na esquina para atravessar a rua, e evite a todo custo as vias mais turísticas — como a quinta avenida, por exemplo.
Quem para na calçada leva trombada e é turista. E ser confundido com turista aqui é quase uma ofensa, apesar dos visitantes serem bem tratados.
Nova-iorquinos sabem aonde vão. E só param para esperar na fila: nos cafés, nas delis (o mais próximo de uma padaria aqui), e nos carrinhos de comida nas esquinas.
Café da manhã, almoço e as vezes jantar acontecem em movimento, andando do metrô até o escritório, de uma reunião para outra, uptowndowntown. Então o pit stop da comida fica um pouco congestionado.
Restaurantes, mesas, prato, e talher são para refeições mais elaboradas: reuniões, jantares com os amigos, um encontro romântico. O almoço de todo dia vem embalado no saquinho que ama Nova York, enrolado em papel alumínio, e acompanhado de um bolo de guardanapos quase transparentes e talheres descartáveis. A companhia: o computador ou colegas de trabalho na cozinha do escritório.


Confesso minhas saudades do restaurante por quilo e do prato feito, com direito a risadas com os colegas e um cafezinho no final. O café “expresso” aqui custa no mínimo uns U$ 3,00 e é considerado um hábito mais europeu. Muitas vezes, vem no copo de papel, que os americanos usam para levar on the go. Podem imaginar o tamanho da decepção.
Em Manhattan, dá pra encontrar de tudo nas calçadas. No café da manhã são ovos com queijo nos bagelsmuffinsdonuts, e muito café com leite no copinho de papel. Tudo que se pode comer na mão vale.
Para o almoço, esqueça o cachorro-quente, aqui a salada de falafel e o gyro — o sanduíche no pão sírio — são a opção mais comum que os vendedores (todos do Oriente Médio) oferecem nas calçadas. É como se fosse um primo distante do churrasco grego brasileiro.
Depois, vêm as comidinhas mais turísticas: pretzels enormes, waffles, e as castanhas açucaradas, uma ideia que algum gênio chamou de Nuts 4 Nuts (um trocadilho em inglês: “malucos por castanhas”). No fim do dia, eu encontro vários desses carrinhos engatados nos carros dos donos, sendo transportados de volta para periferia da cidade.
Os restaurantes entraram na competição. Os “caminhões de comida” (ou food trucks) são mais especializados, oferecendo novidades culinárias para as ruas e acumulando verdadeiros fãs, que procuram onde o veículo foi parar cada semana, via mídias sociais. A variedade é tão grande e a nutrição tão escassa que a prefeitura organizou um programa para disponibilizar frutas nas esquinas da cidade. Não é feira, mas dá para negociar. O preço das bananas varia conforme o bairro e se for mais longe dos museus e da Times Square, elas ficam mais baratas.

Luisa Leme é jornalista e produtora de documentários. Passou pela TV Cultura e TV Globo em São Paulo, e pelas Nações Unidas em Nova York. Mora nos Estados Unidos há sete anos e fez mestrado em relações internacionais na Washington University in St. Louis. Escreve aqui sempre às quintas-feiras. Mantém o blog DoubleLNYC com imagens e impressões sobre Nova York. Twitter: @luisaleme

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