terça-feira, 11 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Johann Vermeer: A Alcoviteira (1656)


 Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
11.12.2012
 | 12h34m

Como acontecia com todos os pintores holandeses, Vermeer teve que seguir um curso de aprendizado com um mestre que fosse registrado na poderosa Guilda de São Lucas. Essa organização regulava a vida profissional e comercial dos pintores, artesãos e marchands.
O curso era rigoroso e o jovem aprendiz recebia ensinamentos abrangentes sobre a arte e a técnica da pintura e só depois do curso completo podia se filiar à guilda.
Como membro registrado lhe era permitido assinar e vender suas pinturas, assim como as de seus colegas.
Vermeer pagou como taxa de admissão seis florins, em dezembro de 1653. Normalmente, os recém admitidos cujos pais fossem ou tivessem sido membros da guilda pagavam três florins, desde que tivessem seguido o curso regulamentar com um mestre da Guilda, por pelo menos dois anos.
A única explicação encontrada pelos estudiosos da vida de Vermeer para o fato dele ter pago o dobro dos outros filhos de membros da Guilda é a possibilidade de que seu curso não tivesse sido feito em Delft.
Ao lado, detalhe do quadro Jovem lendo carta à janela. A modelo foi Catharina Bolnes, com quem Vermeer casou-se em abril de 1653. Ela era um ano e meio mais velha que ele, natural de Gouda, de família  católica. Era gente conhecida, respeitável e de boa situação financeira. Muitos historiadores afirmam que Vermeer se converteu ao catolicismo após o casamento ou pelo menos que participou ativamente da instrução religiosa de seus filhos na religião da mãe.
O fato inconteste é que foi um casamento feliz. Tiveram 15 filhos, dos quais somente 11 sobreviveram. Viveram em harmonia e alegria durante muitos anos, até o colapso financeiro do pintor, já no fim de sua vida.
A Alcoviteira: as cenas de prostituição quase sempre retratam jovens atraentes, elegantemente trajados em sedas e cetins. Ocupam geralmente toda a tela e o ambiente não é reconhecível.
Na verdade esses quadros não podem ser interpretados como descrições precisas da prostituição na Holanda no século XVII, pois pesquisadores importantes comprovaram que o ambiente da prostituição era insalubre e violento, com mulheres pobres e desesperadas, geralmente migrantes.
Na tela de Vermeer a cortesã e o jovem rapaz que solicita seus favores, provavelmente um soldado devido ao seu casaco vermelho, formam o motivo principal da pintura. A mão esquerda o soldado usa para pagar a moça e a direita ele coloca em cima do seio dela.
Há muito pouco tempo esse quadro passou por uma análise profunda e consequente restauração e ficou constatado que originalmente o rapaz não usava um chapéu e seu rosto recebia tanta luz quanto o da moça. Também que ele olhava para o rosto dela e não para a moeda que deposita em sua mão.
O chapéu pode ter ensombrecido o rosto dele, mas destacou ainda mais a importância que Vermeer pretendia dar à unidade das duas figuras, dando à moça um destaque maior.
Outros detalhes que chamam a atenção:  a jarra de vinho, considerada um verdadeiro tesouro na obra de Vermeer. Em nenhum outro de seus quadros – nem mesmo em A Leiteira – veremos um objeto pintado tão minuciosamente. Pelas cores, a base cinza claro e as riscas em puro lápis lazuli, os especialistas acham que é muito provável que a louça fosse importada da Alemanha, de Westerwald, uma área coberta por densa floresta que fica em Colônia sobre o Reno, famosa por suas cerâmicas desde o século XVI. 
Também o fato, sem comprovação, mas aceito por muitos especialistas e estudiosos, que o rapaz à esquerda, todo sorridente, é um autorretrato do pintor.
E a beleza do tapete que cobre as pernas da alcoviteira. Como mencionado ontem, Delft era famosa pelas belíssimas tapeçarias. Em nove de suas telas, Vermeer usa tapetes talvez com a alegria de usar tantas cores. Nesse quadro, infelizmente, ficou constatado que o azul desmaiou com o tempo. O desenho do tapete é um Ushak, cidade da Turquia Ocidental famosa pelos tapetes com a trama em medalhões.

A Alcoviteira é uma das poucas telas cuja assinatura foi aposta pelo próprio Vermeer. Pode ser vista bem em baixo, no canto à direita, em tinta marron escuro.
A Alcoviteira, óleo sobre tela, mede 143 x130 cm.

Acervo Gemäldegalerie (Museu de Arte Antiga), Dresden

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