quarta-feira, 22 de agosto de 2012

QUANDO UM ARGUMENTO É BOM.



Laurence Bittencourt (1)
Sempre fui e me vi presidencialista. No plebiscito de 1993 para decidir se o Brasil continuaria republicano e presidencialista ou mudaria para monarquia parlamentar votei pelo presidencialismo. A idéia de uma monarquia me cria urticária e sempre me pareceu politicamente um retrocesso sem fim e atroz.
Mas confesso que não sou imune ao bom argumento. Nunca fui. Ao contrário, muito ao contrário. E digo isso porque este fim de semana conversando com um amigo ele me fez ver algo que tinha me escapado em uma análise ainda como conseqüência das eleições para prefeito em Natal em que foi eleita a “borboleta” Micarla (foto) e o desastre subseqüente do seu governo.
O que disse meu amigo: ele se referia naturalmente ao parlamentarismo federal, mas a conversa e os argumentos deram margens à comparação para com a esfera municipal, dizendo ele que se estivéssemos vivendo em um regime parlamentarista, Micarla estaria no chão com todo o seu governo. E mais, disse ele: que pela democracia (voto direto) 51% colocaram Micarla no poder, no entanto, mais de 90% da população reprovam agora o seu governo, mas não pode retirá-la do poder. A população coloca, mas a mesma população não pode retirar. É um argumento e tanto, confesso, e que toca em questões de democracia. Segundo este meu amigo, temos uma democracia de mãos atadas.
Bom, mas pessoas inteligentes podem argumentar ou contra argumentar que pesquisa de opinião pública não tem respaldo jurídico. Certamente. Mas é exatamente por não ter que fiquei pensando se no nosso caso o parlamentarismo não seria o mais adequado para justamente oferecer esse respaldo, supondo também que um dos pilares do que se chama de democracia tem como representação a vitória da maioria.
Sai do encontro pensando no argumento e por tabela pensando se de fato vivemos uma democracia. Essa é uma questão espinhosa. Mas vale a pena refletirmos. Como pensar democracia, por exemplo, com a obrigatoriedade do voto? E numa democracia a voz do povo deve ser soberana. Agora mesmo a Folha de São Paulo fez uma pesquisa e constatou que a maioria dos brasileiros acredita no mensalão, acredita em punição, mas não acredita em cadeia, não por desaprovarem a cadeia, mas porque não acredita em julgamento politico justo. Interessante, não?
E foi com base nessa pesquisa que fique pensando como pode, veja bem você leitor, que a Procuradoria Geral da República acate a existência do mensalão (o procurador ao final do seu pronunciamento pediu inclusive a prisão dos réus, é bom lembrar) tanto que estamos em pleno julgamento. Mas ai surge um complicador: acata-se a existência do mensalão denunciada por Roberto Jefferson (logo a palavra dele, Jefferson, foi levada em consideração), mas não acata a denuncia do mesmo Roberto Jefferson de que Lula sabia de todos os fatos, como foi também o seu principal articulador. Como pode? Dá para entender isto?
A meu ver trata-se mais uma vez da famosa “conciliação das elites brasileiras”. A história política do Brasil é tomada, eivada, coberta desse tipo de casuísmo. Povo para essas elites serve apenas para ser calado ou comprado, como nas eleições. Não é a toa que surgiu o mensalão. Há democracia? E em um regime parlamentar como se daria ou terminaria a crise do mensalão?
(1) Jornalista laurenceleite@bol.com.br

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